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Heroína canadense fez farra ilegal em 2010. Mas hoje pode tomar cerveja

Em 2010, Poulin (à esquerda) era menor de idade e comemorou o ouro com cerveja; hoje ela já pode - Alex Livesey/Getty Images
Em 2010, Poulin (à esquerda) era menor de idade e comemorou o ouro com cerveja; hoje ela já pode Imagem: Alex Livesey/Getty Images

Bruno Freitas

Do UOL, em Sochi (Rússia)

20/02/2014 18h33

Há quatro anos, Marie-Philip Poulin escandalizou os conservadores do Canadá ao ser flagrada no ringue de patinação bebendo cerveja e fumando charuto logo após marcar os dois gols da vitória da sua equipe sobre os Estados Unidos, na final da Olimpíada de Vancouver. Na época, com 18 anos, a estrela do hóquei no gelo quebrou publicamente a lei canadense que restringe o consumo de álcool a maiores de 19.

Nesta quinta-feira em Sochi, o destino foi caprichoso com Poulin. Em um jogo de tirar o fôlego mesmo de quem não entende muito de hóquei, a canadense voltou a marcar duas vezes na final olímpica contra os EUA. Agora, como maior de idade, pode empunhar sem medo uma cerveja para celebrar ser a heroína do Canadá pela segunda vez.

O Canadá não perde uma partida no hóquei feminino da Olimpíada desde a edição de 1998, em Nagano. Nesta quinta-feira, a 3 minutos do fim, estava sendo derrotado por 2 a 0 para os Estados Unidos. Mas, em uma decisão de ouro eletrizante, a predestinada Poulin foi a protagonista de novo.

As americanas abriram dois gols de vantagem já no terceiro e último período, com gols de Meghan Duggan e Alex Carpenter. Com 3min26s para o encerramento da final, Brianne Jenner descontou para as canadenses. Então veio o lance cujos cronistas esportivos de EUA e Canadá certamente comentarão por décadas.

Com a necessidade do empate para levar a decisão para a prorrogação, o técnico canadense Kevin Dineen tirou a goleira e mandou para o gelo mais uma jogadora de linha. A hora era de correr riscos. Assim, com todo mundo no ataque, os EUA conseguiu roubar a posse de puck (como a bola achatada do hóquei é conhecida) e atirou no gol sem proteção. O objeto se deslocou lentamente, prendendo a respiração de todos na arena, até acertar a trave.

Foi o bastante para que a arena Bolshoy Ice Dome pegasse fogo, com imensa maioria de canadenses. Os anfitriões russos também aderiram ao time que estava perdendo, afinal é um esporte local torcer contra os Estados Unidos. Eis que então surge a estrela de Poulin.

A 55 segundos do fim, com as americanas já sonhando com o momento do ouro no pódio, a canadense aproveitou um instante de vacilo da defesa para empatar. Com 11 mil pessoas, a arena olímpica de Sochi quase veio abaixo.

Campeãs das três Olimpíadas anteriores, as canadenses entraram na prorrogação com a moral mais alta. Inclusive, uma das americanas já chorava no banco de reservas ainda com o tempo normal em andamento. O gol do tetra parecia questão de tempo. E, assim como em Vancouver, ele viria através do taco de Poulin.

Com o relógio russo já chegando à meia-noite, o Canadá virou o placar aproveitando a vantagem momentânea de jogadoras no ringue, com uma americana punida do lado de fora por dois minutos. O time vencedor tocou o puck pacientemente até o caminho ficar livre para Poulin decidir.

"Eu não pude ver nada. Eu tive a chance e aproveitei ela. Eu não posso acreditar, esse é o melhor sentimento possível", afirmou a mulher da noite. "Esse time nunca desiste", emendou.

Hoje, com 22 anos, a heroína canadense pode voltar ao gelo com o ouro no peito e uma cerveja na mão, sem ninguém incomodar. Afinal, a jovem já decidiu duas Olimpíadas a favor do Canadá. E mais importante, agora é maior de idade e faz o que quer.