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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Turco pode manter a agressividade que o Galo teve com Cuca

Colunista do UOL

15/01/2022 04h00

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O principal desafio de substituir um treinador que conquistou títulos e fez uma equipe produzir é achar alguém que se aproxime das ideias deixadas. E o Galo conseguiu! Mesmo com altos e baixos na carreira, o argentino Antonio Mohamed, o Turco, pode manter muito da proposta do Atlético campeão brasileiro e da Copa do Brasil, além de acrescentar novos pontos.

Carreira

Aos 51 anos, ele desembarca pela primeira vez no futebol brasileiro. Ex-meia de sucesso em seu país e em terras mexicanas, chegou a disputar a Copa América de 1991 com a ''Albiceleste'' e o Mundial Sub-20 de 1989. Encerrou a carreira no México, e por lá mesmo iniciou como treinador em 2003.

Passou por Morelia, Jaguares, Veracruz, Tijuana, América e Monterrey. Na Argentina, treinou o Huracán - clube do seu coração -, Colón e Independiente. Teve um breve trabalho também no Celta de Vigo, na Espanha.

Viveu momentos bons e ruins, mas nos últimos 12 anos venceu nove títulos relevantes. Foi três vezes campeão mexicano da 1ª divisão, uma vez na Série B local, outras duas da Taça do México, uma Copa da Argentina com o Huracán, e dois canecos continentais. A Copa Sul-Americana de 2010 com o Independiente e a Concachampions de 2015 com o América.

Nos últimos três clubes que trabalhou, foi bem no Monterrey, mas não agradou no Huracán e no Celta. Uma oscilação que terá que se livrar para vingar no futebol brasileiro. Costuma ter um estilo de comando bem forte e uma forma peculiar de se comunicar. Conhecer rapidamente como funciona um clube daqui será primordial para ter sobrevida.

Parte Tática

Se você acha que uma equipe se resume ao esquema tático apenas, se prepare para rever essa impressão. Turco Mohamed varia bastante o desenho. Joga no 4-3-3 e no 4-1-3-2, mas também pode montar o Galo no 4-4-2 e até mesmo com três zagueiros.

Seja qual for a plataforma adotada, o modelo é o que mais importa, ele geralmente não muda. E o argentino não renuncia à agressividade em suas equipes. Quer a iniciativa do ataque, cobra verticalidade nos passes e intensidade nos movimentos de apoio, principalmente nas jogadas que buscam o pivô dos atacantes.

E isso acontece constantemente. Com dois ou três atacantes, Turco empurra os homens mais avançados em cima da última linha de defesa adversária, buscando quase sempre que eles recebam a bola de costas e escorem para quem vem de trás. Há grande incidência de jogadas terminadas pelos flancos. Os laterais têm total liberdade de apoio e dão amplitude ao time o tempo inteiro.

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Aqui um exemplo dos três jogadores mais avançados buscando a última linha e visando receber de costas para fazer o pivô. Pode ser um trio de ataque ou dois atacantes e um meia que vem de trás. Laterais bem espetados pelos flancos. Trio central responsável pela articulação, sempre em triangulo.
Imagem: Rodrigo Coutinho

Outros jogadores bem importantes dentro da proposta ofensiva dele são os zagueiros e o primeiro homem de meio-campo. A saída de bola é sempre feita por eles, e participam ativamente da circulação, seja com passes curtos ou com passes longos visando os atacantes.

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A preferência é por uma construção com passes curtos, mas se o adversário adianta a marcação, não há nenhum pudor em buscar o passe longo e direto para os atacantes escorarem visando um companheiro que vem de trás. A ordem é ser vertical
Imagem: Rodrigo Coutinho

Por mais que prezem a posse de bola, as equipes de Turco não podem ser consideradas como aquelas que passam longos períodos trocando passes. É mais vertical! Um detalhe importante é a quantidade de jogadores que atacam a área nas jogadas de linha de fundo.

As transições são feitas de forma forte. Principalmente ao perder a bola no campo de ataque. Geralmente consegue despertar o comportamento de reagir rápido ao perder a posse. Na parte defensiva, organiza sua equipe para marcar por encaixes e perseguições dentro do setor, algo que Cuca já fez em 2021. O sistema defensivo tem sido um ponto falho de seus últimos trabalhos.

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Jogadas de linha de fundo são uma frequente no momento de definição, e muitos jogadores buscam a área para finalizar. Proposta bem agressiva por natureza
Imagem: Rodrigo Coutinho

Rodízio

Um detalhe que talvez dificulte a aceitação de Antonio Mohamed no Brasil é o fato de fazer muitas mudanças no time. Varia as escalações de um jogo para outro e não esconde que isso é um traço do seu trabalho, já que planeja equipes diferentes para determinadas estratégias e adversários.

Como todo técnico estrangeiro que chega ao Brasil, entender o caos que é a relação da maioria das pessoas com o futebol aqui é o ''pulo do gato'' para fazer sucesso. Ele tem conteúdo para manter o Galo de imposição dos últimos seis meses de 2021, mas terá que ter atenção redobrada como todo o entorno.