Estudo prevê 50 milhões sem água na África: 'Será muito cara', diz autor

Os países africanos sofrerão perdas econômicas significativas a partir de 2050 se o aquecimento global não for limitado a menos de 2°C, segundo um novo estudo do Center for Global Development (Centro para o Desenvolvimento Global).

O economista de meio ambiente e energia Philip Kofi Adom é o autor do relatório. Ele reuniu muitos anos de estudos de cientistas e pesquisadores da mudança climática e descobriu que a África Ocidental e Oriental serão as regiões mais atingidas. Perguntamos a ele sobre suas descobertas.

The Conversation: Você descobriu que a mudança climática reduzirá em 30% os ganhos das colheitas na África. Como isso afetará as pessoas?

Se a mudança climática continuar em sua tendência atual, a produção agrícola na África diminuirá 2,9% em 2030 e 18% em 2050. Cerca de 200 milhões de pessoas correm o risco de sofrer de fome extrema até 2050. A perda de receita agrícola de aproximadamente 30% causará um aumento na pobreza de 20% a 30% em comparação com um cenário sem mudanças climáticas.

Isso ocorrerá porque a mudança climática reduzirá a produção agrícola e, portanto, as vendas das safras serão prejudicadas, embora a escassez aumente os preços.

Na África, 42,5% da classe trabalhadora está empregada no setor agrícola. A renda desses trabalhadores, em sua maioria rurais, diminuirá. Uma parcela maior das pessoas que vivem em áreas rurais já é pobre e a maioria das pessoas empobrecidas na África está concentrada nas áreas rurais. O declínio do setor agrícola provavelmente levará mais pessoas à pobreza extrema.

Também enfrentaremos problemas de segurança alimentar, e aqueles que trabalham no setor agrícola correrão o risco de perder o emprego. Os agricultores que dependem apenas da chuva e não têm sistemas de irrigação nas suas plantações serão os mais prejudicados.

Você projeta um declínio de 7,12% no Produto Interno Bruto (PIB) de longo prazo em toda a África. Que impacto isso terá?

Quando falamos de longo prazo, estamos olhando para 2050 e além. O PIB nos informa o status de riqueza das economias em um determinado momento. Por meio da geração de riqueza, surgem empresas e são criados empregos. Os impostos cobrados pagam por investimentos em infraestrutura, em serviços sociais e o fornecimento de apoio social, como seguro-saúde e seguro-desemprego. Com um declínio de 7,12% no PIB, esses potenciais de geração de riqueza na economia serão severamente afetados se a mudança climática continuar no ritmo atual.

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As projeções em nível de país sugerem perdas econômicas muito maiores no PIB, variando de 11,2% a 26,6% no longo prazo, nas regiões mais afetadas da África. Quando as economias diminuem de tamanho, as empresas podem fechar, empregos são destruídos e novos empregos não são criados.

Para o povo da África, isso é muito significativo porque se prevê que, nos próximos anos, a população do continente chegará a mais de 2 bilhões. A população africana é a mais jovem do mundo. Portanto, se as economias africanas encolherem, onde esses jovens encontrarão sua fonte de sustento? Essa é uma grande preocupação.

É provável que 50 milhões de africanos enfrentem estresse de água. O que isso significa?

Significa grave escassez de água em residências e indústrias. Por exemplo, se você costumava ter acesso à água o dia todo, terá um fornecimento muito menor - uma quantidade tão baixa que não atenderá às suas necessidades. Essa é uma questão de demanda e oferta. Haverá uma demanda maior por recursos hídricos, mas devido à escassez de oferta, os preços da água aumentarão. No futuro, se nada for feito, a água na África será muito cara.

Medidas de adaptação e mitigação podem nos ajudar a evitar esse desastre?

Quando falamos de mudança climática, trata-se de ação comunitária ou coletiva. Obviamente, os governos são os grandes protagonistas. Os governos precisam promover os esforços de mudança necessários, apoiando iniciativas de adaptação e mitigação do clima, seja diretamente ou por meio de projetos de incentivo.

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Nenhuma tentativa de adaptação e mitigação é pequena demais. Se esses pequenos esforços forem coordenados, nós podemos ver resultados. Famílias e empresas podem fazer muito. Por exemplo, as pessoas podem reduzir a quantidade de carne e laticínios consumidos, ou mudar a forma como o transporte é usado - recorrendo às bicicletas, à caminhada ou ao transporte público quando possível. Em casa, ações de economia de energia podem ser adotadas. E os espaços verdes devem ser respeitados e protegidos.

As pessoas que usam bancos devem garantir que eles realizem investimentos responsáveis. É sempre importante saber para que tipo de investimento o banco está usando o seu dinheiro. Se não for algo favorável ao clima, os clientes e consumidores podem se manifestar a respeito.

Quaisquer que sejam os efeitos colaterais, todos serão afetados. Todos têm voz e é importante usá-la em questões relacionadas ao clima.

O que os líderes africanos devem fazer?

A mudança climática é uma crise ambiental contínua e iminente. Felizmente, temos chance de fazer algo a respeito antes que o impensável aconteça. Peço aos líderes africanos que sejam muito proativos em seus esforços sobre as mudanças climáticas e mitigação. O setor agrícola é o principal pilar econômico da maioria das economias da África, e as mudanças climáticas representam um grave perigo para ele. As mudanças climáticas podem criar um estado de sofrimento econômico perpétuo se não agirmos agora.The Conversation

*Philip Kofi Adom, professor associado, Escola de Economia e Finanças, Universidade de Witwatersrand

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Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.

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