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Taxista canadense entrega compras a idosos sem cobrar pelo serviço

Iqbal Alimohd, um motorista de táxi na cidade de Calgary, no Canadá, compra e entrega alimentos para dezenas de idosos  - Reprodução/ Facebook
Iqbal Alimohd, um motorista de táxi na cidade de Calgary, no Canadá, compra e entrega alimentos para dezenas de idosos Imagem: Reprodução/ Facebook

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

17/10/2021 06h00

Iqbal Alimohd, um motorista de táxi na cidade de Calgary, no Canadá, compra e entrega alimentos para dezenas de idosos todas as semanas, sem cobrar nada pelos seus serviços. Essa ação começou há 15 anos, depois de o profissional perceber que os seus clientes idosos tinham dificuldade em se locomover para fazer compras de supermercado sozinhos.

Iqbal, que completa 70 anos em 2021, dirige táxi há mais de quatro décadas. Recentemente, contou ao canal CBC que a iniciativa de seu voluntariado começou quando viu que alguns de seus clientes frequentes nas corridas tinham problemas para carregar as sacolas pesadas e que grande parte deles não contava com a ajuda de familiares ou amigos.

Tocado pela situação, decidiu se oferecer para fazer as compras e entregá-las diretamente na casa dos idosos. A assistência começou apenas com dois ou três clientes e foi aumentando à medida que seus passageiros começaram a recomendar o serviço para outros amigos na mesma situação.

Hoje, ao lado de sua esposa e de seus dois filhos, a família atende de 20 a 25 pessoas todos os finais de semana.

De segunda a sexta, sua companheira, Mumtaz, anota a lista de produtos por telefone e organiza a operação. Aos sábados, eles se dirigem até os maiores supermercados da cidade para pesquisar preços.

Iqbal também é exigente com a qualidade dos produtos. "Ele não pode simplesmente comprar uma maçã; ele tem que escolher a maçã perfeita para seus clientes sênior. Ele acredita que eles merecem o melhor", relatou a esposa ao jornal local "Road Warrior News".

Para se ter uma ideia da dimensão do serviço, eles chegam a utilizar até oito carrinhos de compras por vez. Um dos estabelecimentos que frequentam tem até um caixa reservado especialmente para a família.

Depois de duas a três horas nesse processo, é a vez das entregas, momento em que Iqbal aproveita para conversar com os idosos e verificar como eles estão. O serviço de pesquisa de preços, compras e entregas é completamente gratuito. Os idosos pagam apenas o valor dos produtos. "Nem o serviço, nem o combustível, simplesmente não cobro nada", revela Iqbal.

De pais para filhos

Iqbal chegou ao Canadá vindo do Paquistão em 1973. Pouco tempo depois, conheceu Mumtaz, sua futura esposa. Ao seu lado, decidiu construir uma família e, durante o casamento, tiveram dois filhos: Faisal Alimohd e Yasin Alimohamed.

Com o início da pandemia, os filhos decidiram assumir as atividades de entrega sozinhos para evitar que os pais passassem tanto tempo expostos ao vírus. Segundo os dois, ambos estão acostumados com essa tarefa, que já é uma tradição do pai e agora faz parte da rotina de suas famílias também.

Faisal explicou à CBC que é um compromisso tão importante para os pais que ambos já estavam acostumados a deixar de viajar ou sair aos sábados para ajudá-los com essa tarefa. Em agosto, após a progressiva diminuição da transmissão da covid, o pai voltou a participar das compras.

Os filhos afirmam que Iqbal está surpreso com a proporção que a história tomou e que ele está feliz em servir de exemplo para inspirar outras pessoas, já que a limitação física de idosos é uma questão presente em praticamente todos os locais do planeta.

Yasin explica que seu pai sempre preferiu o anonimato. "Ele não procura gratidão ou um tapinha nas costas de ninguém". Para seu pai, o próprio ato de caridade dá a ele um propósito de vida.

"Delivery" de conversas e apoio emocional

Iqbal conta que, ao longo dos anos, dedicou uma quantidade considerável de tempo simplesmente para visitar os idosos:

Muitas vezes acontece, quando estou fazendo as entregas, que os idosos me pedem para voltar à noite por uma hora, apenas para conversar e visitá-los. Sempre gostei de fazer isso, de ouvir suas histórias. Frequentemente, eles se sentem solitários —mesmo quando têm filhos, eles estão tão ocupados com suas próprias famílias que simplesmente não têm tempo. As famílias jovens estão muito ocupadas agora.

Quando questionado sobre que conselho ele daria aos jovens sobre como ser feliz, Iqbal responde sem hesitação: "Ame seus pais e cuide deles!" Nisso, Mumtaz, sua parceira no serviço e na vida, concorda. Segundo ela, depois de criar laços de amizade com tantos idosos ao longo dos anos, envelhecer e morrer são duas condições que sempre trazem grande tristeza para os dois.

"Perdemos muitos idosos durante a pandemia, isso tem sido difícil. Recentemente, a cliente mais velha de Iqbal morreu —ela tinha 106 anos! Muitos jovens de hoje não têm a chance de se beneficiar da experiência dessas pessoas. Eles viveram muito; eles sabem muito. Eles querem ajudar. Os jovens podem aprender muito com eles", garante Mumtaz.