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Após perder a filha, pai se dedica a salvar borboletas em risco de extinção

Frank e Karen O"Donnell, pais de Keri - Reprodução/Facebook
Frank e Karen O'Donnell, pais de Keri Imagem: Reprodução/Facebook

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

03/06/2021 06h00

"Não estou salvando o mundo, mas não quero ver as borboletas-monarca desaparecerem", diz Frank O'Donnell, morador do estado de Rhode Island, nos Estados Unidos. Ele tem se dedicado a enviar sementes das plantas favoritas dessas borboletas ameaçadas de extinção para que mais pessoas possam ajudá-las a prosperar em outras regiões.

As borboletas entraram na vida de Frank em 2010, uma semana depois de perder sua filha de 15 anos, Keri O'Donnell, em um acidente de carro.

Um dia, pouco depois do enterro, ele decidiu sair para o quintal e viu uma borboleta-monarca pousar na lateral de sua casa, com suas inconfundíveis asas de cor laranja e preta batendo bem rápido. Subitamente, ela ficou quieta, permanecendo perto dele por um tempo e lhe trazendo paz naquele momento tão difícil.

"Nunca vi uma borboleta ficar parada tanto tempo", lembra Frank. Ele não era um homem supersticioso, mas havia algo misterioso naquelas asas laranja brilhantes, uma das cores favoritas de Keri, e na presença suave da borboleta que o fazia sentir como se a adolescente estivesse com ele.

Um jardim memorial

Frank já tinha ouvido de outras pessoas que era comum o aparecimento de borboletas "visitantes" quando há a perda de um ente querido.

Espantado com a experiência, ele postou sobre isso no Facebook e recebeu como sugestão de alguns amigos plantar um arbusto com flores que atraíssem borboletas, em memória a Keri. Logo depois, alguém deu à família uma estátua de anjo para o jardim, e Frank transformou parte do quintal em um pequeno memorial.

O jardim memorial construído para Keri - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
O jardim memorial construído para Keri
Imagem: Reprodução/Facebook

Anos depois, quando sua família se mudou para uma cidade vizinha, ele decidiu fazer mais do que apenas observar as borboletas que vinham visitá-lo.

A nova casa permitia um jardim maior, o que o incentivou a cultivar uma das flores favoritas das borboletas-monarca, a milkweed. A erva recebe esse apelido porque solta uma seiva de cor branca, parecida com leite (por isso o "milk" no nome). No Brasil, as Asclepias syriaca não são muito comuns e podem ser confundidas com algodão-bravo ou serralha.

Ele também procurou auxílio junto ao Monarch Watch, um programa de educação, conservação e pesquisa sem fins lucrativos baseado na Universidade de Kansas que se concentra nessa borboleta, seu habitat e sua migração no outono.

A organização lhe enviou cerca de três dúzias de larvas de monarca. Frank juntou as hóspedes recém-chegadas às lagartas que já estavam em seu jardim e construiu para elas um cercado de malha para poder protegê-las e alimentá-las.

Dentro da gaiola aquecida pelos raios de sol, as larvas deram início à metamorfose. O homem pendurou uma foto de Keri ali perto e observou as lagartas lentamente se transformando em crisálidas, estágio mais delicado e complexo que antecede a saída das borboletas de dentro dos casulos.

Em poucas semanas, 27 surgiram como borboletas. Prontas para a vida na natureza, ele as soltou no jardim para se alimentarem dos arbustos e voarem para longe.

Compartilhando a missão com mais pessoas

As borboletas-monarca são minúsculas e frágeis, sobrevivendo por apenas algumas semanas. Mas, apesar de sua fragilidade, migram 4,8 mil km para as florestas do México central a cada ano. "Contra todas as probabilidades, é incrível pensar que elas consigam fazer isso", reflete Frank.

Em janeiro, ele começou a oferecer as sementes favoritas desses insetos a quem quisesse e publicou em suas redes sociais oferecendo os pacotes às pessoas por correio, sem nenhum custo.

Algumas das borboletas do jardim que Frank construiu - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Algumas das borboletas do jardim que Frank construiu
Imagem: Reprodução/Facebook

A missão chamou a atenção do jornal The Boston Globe, que compartilhou sua história em abril. Menos de um mês depois, Frank disse que sua caixa de entrada "simplesmente explodiu". "Recebi e-mails de todo o país", disse ele a um canal de TV local.

Após a publicação da história no jornal, Frank contou em postagens nas redes sociais que acabou recebendo pedidos de sementes de todos os 50 estados americanos em questão de dias. Junto com os pedidos, pessoas compartilharam suas próprias histórias de perda e contaram como uma borboleta também lhes havia trazido conforto em um momento de luto.

Luto e esperança

Cuidar do jardim e contribuir para a sobrevivência das borboletas-monarcas ajudou Frank a encontrar consolo após a morte de Keri. "Elas trouxeram cor para o jardim", disse ele ao Globe, "quando não havia cor em nenhum outro lugar".

No momento, ele está tentando dar conta do elevado número de pedidos de sementes que vem recebendo. "Eu quero chegar às pessoas que realmente têm esse vínculo com as borboletas", disse, acrescentando que planeja "fazer a triagem" de seus e-mails para enviar sementes com base na disponibilidade primeiramente para esse grupo, deixando os demais para uma lista de espera com as sementes do próximo ano.