Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Um Congresso e um novo mundo
Nas últimas semanas, o Brasil sediou eventos preparatórios do UIA (27º Congresso Mundial de Arquitetos), o congresso internacional mais importante de arquitetos e urbanistas. De forma atípica, o Congresso se deu majoritariamente de maneira virtual, utilizando o Rio de Janeiro como palco mas exercendo à risca seu slogan, "Todos os Mundos".
E o que se esperava? Apresentações de arquitetos renomados, reproduzindo o que sabemos da arquitetura mainstream mundial, e que já tem acumulado uma série de críticas no que se refere à esterilidade da produção, dificuldade de resposta aos desafios sociais, econômicos e climáticos do século 21 pós-pandêmico. Mas o que se viu não foi isso.
Arquitetos como Francis Keré, Anna Heringer pontuando a necessidade de um pós-pandemia de encontro e que a forma é desimportante num contexto onde as pessoas precisam de espaços de conexão no pós-pandemia. Anna cunha uma expressão que é "form follows love", que grosso modo, define o sentimento de comunhão urbana que há muito havíamos perdido, talvez desde a forma pioneira de Jane Jacobs em seus estudos de vivência comunal.
A geopolítica foi pontuada por muitos. Tive a honra de entrevistar a arquiteta mexicana Tatiana Bilbao e trocamos muito sobre o desafio dos novos materiais e da retomada da arquitetura da terra e materiais de baixo impacto. O custo da indústria da construção civil não pode ser maior que a indústria do cuidado e da saúde pública nesses tempos, logo a arquitetura precisará ser revista no seu sentido global, no quanto de impacto e custo ela tem no mundo. Falamos como nações autoritárias dificultam o avanço da tecnologia da construção e aprofundam a desigualdade.
A partir dessa conversa com Tatiana, podemos extrair algo que foi muito discutido no Congresso como um todo: a moradia social. Como construir para os pobres num cenário de crise sanitária? O Brasil falou muito da Assistência Técnica como aproximação dos arquitetos e como fórmula de mitigação do déficit habitacional. Revisitamos os grandes projetos em favela e falamos dos desafios das grandes urbanizações, desde o Rio de Janeiro, passando por Cingapura, Tóquio e Chile.
Por fim, o que levo de legado? Conheci de perto a arquiteta sudanesa Amira Osman, que trabalha agenciando projetos de urbanização pelo continente africano, uma figura institucional que não existe de forma clara no Brasil. Uma espécie de embaixadora da arquitetura nacional.
Isso me fez reposicionar a certeza de que arquitetos são importantíssimos na reflexão de futuros e na consolidação de democracias. Me fez perceber que a Carta do Rio, documento escrito a partir do Congresso, precisa ser levada a partir de um corpo de arquitetos comprometidos com as cidades, com a reforma urbana e com as cidades que curam.
Que venha o ciclo de arquitetos embaixadores atentos às realidades sociais e capazes de construir agendas radicais de enfrentamento à miséria e desigualdade.
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