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Milo Araújo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Um planeta mais saudável

Avião borrifa agrotóxicos sobre plantação - Getty Images
Avião borrifa agrotóxicos sobre plantação Imagem: Getty Images

Milo Araújo

07/05/2021 06h00

Há tempos optei por ser vegetariana. Não escolhi somente por questões de saúde, mas também por não querer corroborar com a matança de um ser em prol de servir a outro ser, no caso, o humano. Além de que, a cadeia de produção que envolve o agronegócio tem se demonstrado muito suja. Colaborando com grandes desmatamentos, forçando a tomada de terras indígenas, usando da exploração de trabalhadores rurais, aliciando e comprando políticos em seu favor. Tudo isso para favorecer o aumento da produção pecuária.

No início de 2019, o Ministério da Agricultura aprovou o registro de agrotóxicos de elevada toxicidade. Foram registrados no Brasil cerca de 450 agrotóxicos. Desses, apenas 52 apresentam baixa toxicidade. A Anvisa manifestou que agrotóxicos banidos em países como China, Estados Unidos e países da União Europeia têm atualmente como principal destino o Brasil. Aqui são usados pelo menos dez produtos banidos nesses países. Já em 2020, o governo do presidente Jair Bolsonaro bateu o próprio recorde e tornou-se o ano com o maior número de aprovações de agrotóxico na história.

O Ministério da Agricultura publicou no Diário Oficial da União o registro de 88 pesticidas e produtos técnicos aprovados no final de dezembro. Com isso, o segundo ano de mandato de Bolsonaro terminou com 493 novos agrotóxicos. 43 pesticidas a mais que em 2019, antigo ano recordista.

Essa flexibilização em torno do uso de agrotóxicos foi e é motivo de diversos debates entre ambientalistas e órgãos que criticam a permissividade do governo brasileiro em relação ao uso de agrotóxicos. Do outro lado, encontram-se os ruralistas, que acreditam ser inevitável a utilização dos defensivos agrícolas, visto que a produtividade brasileira no setor de produção agrícola depende do uso dessas substâncias.

A utilização de agrotóxicos é questionada por diversos órgãos da saúde, visto que está associada a problemas de saúde, como alterações cromossômicas, câncer de diversos tipos, doenças respiratórias, entre outras. Utilizar o agrotóxico de maneira incorreta provoca danos ambientais, como contaminação do solo e dos recursos hídricos.

Normalmente os preços dos produtos cultivados com o uso dos agrotóxicos são reduzidos em relação ao preço dos produtos orgânicos. Doses acima do permitido podem contaminar alimentos e trazer riscos à saúde.

Mudanças substanciais e duradouras na sociedade, que garantam respeito às comunidades e ao meio ambiente, só ocorrerão se estiverem pautadas em valores humanos. Esta é uma das principais defesas dos especialistas que participam da quarta edição do Encontro Anual sobre Saúde Planetária, promovida pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a organização internacional Aliança de Saúde Planetária (Planetary Health Alliance).

O evento, que reúne 4.700 pessoas de 28 países, buscou discutir o impacto das ações humanas no planeta e a utilização predatória e insustentável dos recursos naturais. A proposta foi apresentar ideias práticas que contribuam para a proteção do meio ambiente e para o desenvolvimento justo da sociedade humana.

Esta é a primeira vez que o evento ocorre fora do eixo Europa-Estados Unidos. As atividades deste ano tiveram início no último domingo (25) e seguiram até sexta-feira (30), de forma gratuita e virtual. Todo o material produzido, incluindo as mesas de discussão, estão disponíveis na plataforma da iniciativa: planetaryhealthannualmeeting.com

Nós, como indivíduos dentro de uma sociedade democrática, devemos nos conscientizar e cobrar do poder público soluções efetivas, pois mesmo uma alimentação vegetariana pode acabar vindo carregada de produtos tóxicos usados na produção dos mesmos com total aval "nosso" e do governo. Nós podemos mudar essa situação.