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Milo Araújo

O partido importa?

Em São Paulo, Renata Falzoni (PV) não consegui ocupar cadeira na Câmara, apesar de 26 mil votos - Divulgação
Em São Paulo, Renata Falzoni (PV) não consegui ocupar cadeira na Câmara, apesar de 26 mil votos Imagem: Divulgação

Milo Araújo

04/12/2020 04h00

Na política, buscamos eleger representantes que pensam em comum acordo com propostas que achamos ser prioridade para nosso convívio. E no meio de quem faz uso da bicicleta, seja só para lazer ou para transporte, tivemos uma candidata a vereadora em São Paulo neste ano de 2020, que grande maioria dos ciclistas tem afinidade, a Renata Falzoni.

Renata Falzoni, 67 anos, nasceu em São Paulo em 1953, e é a única mulher entre quatro irmãos, fruto da união de uma brasileira e um imigrante italiano. Em 1977, Renata já fazia uso da bicicleta como transporte pela cidade. Pedalava para a faculdade onde se formou em Arquitetura e Urbanismo. Nesse meio tempo seus caminhos a levaram para o fotojornalismo e aos debates sobre direito na cidade. No ano de 1988, sua paixão pelo pedal já era visível e a levou a criar o primeiro grupo noturno de pedal chamado Night Biker's Club. Como videorrepórter passou por 27 países pedalando, e em 1990, puxou um grupo de ciclistas que pedalaram mais de 1500 quilômetros de Paraty até Brasília para marcar o reconhecimento da bicicleta como veículo no novo Código de Trânsito Brasileiro. Já deu pra ver que a paixão da mulher era mesmo o cicloativismo. Desde 2013, possui um canal no Youtube chamado Bike é Legal, onde dá dicas e conduz conversas sobre melhorias para a mobilidade urbana junto à prefeitura.

Para o público ciclista, que procura ter sua luta pela mobilidade urbana representada por uma candidatura nessa nossa democracia representativa, vemos um currículo muito competente, certo? Certo. Ainda mais pensando no atual governo de São Paulo, que tem como slogan a máxima "Acelera SP". Mas Renata não se elegeu. Foram pouco mais de 26 mil votos, contudo ela não conseguiu a cadeira na Câmara dos vereadores. Aí vem a pergunta; por quê?

Bom, não podemos afirmar nada, mas podemos fazer algumas especulações sobre os fatores que levaram que muitos ciclistas não votassem nela, apesar de toda sua notável bagagem e da alarmante urgente situação na qual se encontra a questão da mobilidade urbana. O crescimento de mortes de ciclistas faz urgir a necessidade de mais representação.

Sua candidatura foi pelo Partido Verde (PV). Esse partido está muito conectado ao PSDB do atual prefeito Bruno Covas ("Acelera SP"), que tem muitas idéias anti mobilidade urbana, como incentivo ao aumento de velocidade nas vias, que acarretou o aumento da violência no trânsito. Essa lógica fez cerca de 30 mil vítimas em 2019, segundo a mais recente edição do Atlas da Violência. Fazendo este tipo de alinhamento político, não me parece que Renata seria muito ouvida dentro de sua própria coligação.

Outros ciclistas apontaram que no atual momento existiam outros candidatos, com propostas mais amplas, que também envolviam mobilidade urbana, mas olhava para outras questões igualmente relevantes. Apesar de uma de suas propostas ser a "democracia com diversidade" (visando fortalecer iniciativas e projetos de lei ligados à garantia de direitos de minorias, e avançar em políticas de acolhimento à comunidade LGBTQI+, com foco na preparação da GCM em relação ao combate da violência de gênero e crimes de ódio), estar ligada a partidas notadamente de direita enfraqueceu sua canditatura.

Fica aqui o convite à uma reflexão: faz sentido apoiar um candidato que, por mais dedicado em que ele esteja por uma causa, se alia à partidos de histórico conflitante com a causa em questão? O que vale mais? É o caráter do candidato e seu comprometimento com as suas pautas ou o partido ao qual ele está ligado, mesmo existindo a possibilidade de ser silenciado?