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Marina Mathey

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sua opinião virou crime, e agora?

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

03/11/2021 06h00

Gostaria de poder te ajudar nessa empreitada
Gostaria de te salvar dessa encruzilhada
Te ajudar a compreender suas palavras e de fato compreender sua podridão.

Quem dera minha coluna
- não a vertebral, mas essa, de combinação de palavras -
Que por ironia da vida se propõe a ser de opinião
Pudesse te fazer escolher a combinação das suas
Para salvar nossa sanidade mental,
Porém é,
Na maioria das vezes,
Inviável a insistência.

Digo isso por recorrer aos comentários daqui
Semana a semana
E ler a enxurrada de ódio que disseminam mesmo lendo minhas reflexões.
Observar
Portanto
A superficialidade da escuta de alguns
E assim percebo que você
Que insiste em camuflar teu ódio em desculpas dolosas
muito raramente escutará meu conselho de salvação

Então
Já que não há saída
Já que nossas mentes e cotidianos prosseguem poluídos por sua falta de lida
Por insistir em não guardar para si sua má resolução
Aproveito esse espaço que me cabe
Para, sem ferir os direitos de ninguém,
Mas talvez incomodar sua paz - com sorte -
Redistribuir para ti aquilo que pertence somente a você.

Sua opinião virou crime, e agora?
Seu ódio
Sua violência
O estado não pode mais proteger.
Aquilo que era costumeiro do povo da sua laia
Daqueles que tanto mataram na faca, bala ou no grito
Agora não mais podem cantar seus crimes aos quatro cantos

Calar a boca, quem sabe,
Seria um ótimo começo
Proponho a partir disso alguns passos para lidar.
Aposto que se seguí-los
Sairá daqui mais seguro.
Não prometo que aliviado
Mas o risco é menor - então leia!

Aquieta tua respiração ao ver as bixas beijando na praça.
Conte até dez
E se imagine fora da cadeia,
Fora das mídias,
E com seu emprego garantido.
Talvez isso lhe faça manter tuas palavras na boca
E não intente outra vez desacatar os direitos alheios.

Cruzou com uma travesti
Seja na esquina ou numa empresa
Ou até mesmo no vôlei feminino?
Mais uma vez medite
Edite teus pensamentos
Para que não lhe recaia
Uma multa de alguns muitos vinténs.

"Socorro, uma sapatão!"
Sente aí mesmo no chão
Assista o caminhar das formigas,
Elas que atuam em coletividade,
E aprenda um pouco sobre a ideia de colaborar por um objetivo comum,
Mas caso esse objetivo não seja comum aos que lhe fervem os olhos,
Esses que por simplesmente existirem lhe tiram do sério e do silêncio,
Esqueça as formigas,
A meditação
E apenas cale a boca.

É para o seu bem que escrevo esse poema
Seu silêncio lhe prevenirá de inúmeras multas e até do cárcere.
Privado seja teu ódio
Privada seja tua opinião
Ou o objeto onde sentas e descarrega tuas merdas.
Guarde teus dejetos e limpe-os por conta própria
Pois não é nosso serviço lidar com teus problemas
E se ainda hoje não sabes teus direitos e deveres
Se não reconheces os avanços da dignidade humana
E nem mesmo percebes que não és o centro do mundo
Por ti sinto dó,
E insisto, meu sentimento é profundo.
E além da dó só me resta
A lei para nos proteger.

Você que me lê agora
Ou insiste semana a semana
Em acompanhar a travinha aqui em suas inquietudes mundanas,
Insisto que fique e aprenda
Que leia de ouvidos abertos
Não gaste seu tempo apenas para me tecer comentários em vão.

E se mesmo assim não quiser reconhecer meu conhecimento
Nem mesmo que sei do que falo e que hei de chegar muito além
Guarde teu ódio na boca, esse poema também lhe aconselha,
Para que não responda por crime
Para que não torne a ser meu assunto
Pois como diz minha amiga Vulcânica
Dia após dia
Se me pergunta como estou
Te digo: "Cada dia pior",
Mas pior para sua pequena,
Vazia e desgostosa
Criminal opinião.