Topo

Marina Mathey

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nosso Pride é tão maluco. Nosso ouro foi roubado, o produto interno é bruto

Uýra Sodoma, 2019. Série A Última Floresta, ensaio a Porra da Árvore - Matheus Belém, Rio Preto da Eva - Amazonas
Uýra Sodoma, 2019. Série A Última Floresta, ensaio a Porra da Árvore Imagem: Matheus Belém, Rio Preto da Eva - Amazonas

16/06/2021 06h00

Sometimes
Orgulho não cabe tão bem na boca
Sometimes
Tão Proud nos States
Que não percebem os dentes daquelas que gritam daqui

No sul o c* é ainda mais apertado
Take it easy, meu amado
Porque aqui a porca não torce o rabo
Aqui no c* do mundo
- Já dizia mana Mombaça -
As epistemologias são outras
tem pink Money que fede trapaça
tem proud que pinta Fake News
E tem muita lata pra pouco lajô
Mas o edy sempre tá pra jogo
Pra chegada do pouco arô

Se na boca a palavra grita
é de raiva
é de tanto foder com a nossa vida
De tanto afundar o pau na ferida
De tanto remar contra a maré
Que não tá pra peixe
Não tá pra trava
Não tá pra deleite
Mas tá pra aparecer alguém que nos deite
Tá pra pintar um picasso que tente nos calar de vez

Sometimes, nesse proud - vou falar pra vocês
é muito bad vibes lutar por migalha
é um lance muito crazy
um babado que cêis num cata
de ser difícil levantar da cama e jogar uma água na lata
Nosso Pride é tão maluco
nosso ouro foi roubado
o produto interno é bruto!
Às vezes até finjo que não escuto a cara de pau-brasil que querem se fazer.

Babado é ser tirada de chacota
De macho de saia
Enquanto os macho que xinga, virando a esquina
chama
grita
e vem logo mostrando a piroca
louco pra roçar na moça
louco pra levantar a saia
Chamando de "meu amor"
Quero ver ser "proud" real como nóis
quero ver se mesmo vivendo a sós
por repetidos anos afora
não vendo afeto, só mesmo piroca
Às vezes um pouco de troca
mas sempre discreta
Aquele "hurry, hurry"
me diz se nessa sozinha
tu aguentava o orgulho
Fazer não virar engulho
ou talvez botar de vez pra fora
Essa revolta que vem forte
mas que sempre repetem:
as mudanças são lentas, take it easy
mas tamo cansada de ver reprise
de empresa faturando com bixa
de propaganda lésbica futurista
de uma única trava na revista
E uma legião à chorar
Nem dá pra imaginar o poder que a gente carrega
Devia chamar de Power, não de pride essa merda
De poder, verbo conjugado
Eu posso
Tu podes
Ela pode
Nós podemos
Vós podeis
E assim, de poder em poder
Com nossas potências em mãos
E munidas da conjugação
De um sul inteiro travado
De intersexo-travas, sapatões e viados
esse Stone-wall seja quebrado
Pra dar vida às cordilheiras
e aos pantanais pansexuais

E as nossas amazônicas fontes de vida
Nossa flora-intestinal toda de raiva
Em algum momento da história
Possa ser power de gozo
Possa ter pride, ter glória
Alfabetização e comida
Casa e mais expectativa
E não ficar gritando desespero
não ser looser de memória.