Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro odeia o Brasil
No dicionário a palavra "odiar" significa "sentir aversão por (algo, alguém, a si próprio ou um ao outro); detestar (-se), abominar (-se). Achar muito desprazeroso".
Odiar a si e odiar ao outro, ou aos outros.
Sinto que o ódio que transforma a realidade em mortes e fome é a nova política pública brasileira, sem cartão social e sem possibilidade de existência. A impressão é que os gritos foram abafados, todos eles já estavam lá, uns mais visibilizados que outros, uns mais altos que outros, outros mesmo calados são os que mais morrem.
O Brasil vive em um estado de desatenção.
No fim de 2020, 19,1 milhões de pessoas no Brasil conviviam com a fome. Em 2022, são 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer. Cara, vocês já passaram fome? Fazem ideia do que é não ter o que comer em qualquer uma das refeições, ou só em uma delas?
O aumento da fome no Brasil só me impulsiona a concluir que o governo federal odeia o Brasil. Se o desprezo pelas pessoas sem emprego e sem comida te faz deixar morrer é porque você tem ódio. Se a fome não te desespera você tem ódio.
A resposta do governo brasileiro ao desaparecimento de Bruno e Dom é uma resposta com ódio de quem defende os povos da floresta, quem defende a vida nos territórios que são roubados com o apoio do governo. A resposta não diz nada além de mais violência, omissão, negligência, mentira e manipulação. E ódio.
Bolsonaro tem ódio do Brasil.
Durante todos os dias abria as redes sociais e ouvia Bruno cantando ao lados dos povos indígenas no meio da floresta e aquilo era uma faca atravessando meu peito. Ouvia os gritos dos povos indígenas pedindo para que o governo ajudasse a procurar Dom e Bruno e sentia desespero.
Um desespero de quem vive na floresta, de quem morre, de quem precisa buscar jeitos de fugir dos bandidos apoiados pelo governo federal, que apoia garimpo, desmatamento, pesca e tudo que é de ilegal na floresta. E MATA!
Mata porque tem ódio.
Meu profundo respeito aos mais de 100 indígenas das etnias Marubos, Maiurunas, Matis, Kulinas e Kanamaris, que estão no décimo dia de buscas por Bruno e Dom. Os povos originários são gigantes. Estão diariamente na linha de frente, ao lado do movimento negro dando lições valiosas para a humanidade, sobre sobrevivência na cidade e na floresta.
Gente, ninguém aqui tem escolha difícil esse ano, em 2018 não tínhamos uma escolha difícil, esse ano não temos escolha difícil. É a reconstrução ou a continuação da barbárie. É a reconstrução ou a continuação de mortes naturalizadas. É a reconstrução ou a devastação total do Brasil. É a reconstrução ou o aumento da fome. É a reconstrução ou o aumento das mortes da maioria da população.
Não temos mais escolha difícil. E não temos tempo para problematizações, nem artistas milionários querendo ser politizados, não temos tempo e espaço. Só há espaço para a reconstrução.
Jornalistas, o sensacionalismo barato, caça audiência é parte da política genocida do governo. Não façam isso, não atravessem vidas assim, não desrespeitem famílias, não deixem de falar a verdade e reagir de forma séria por desespero. O jornalismo sério é raro e difícil de fazer, sejam sérios.
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