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Mariana Belmont

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você está desiludido? Vote mesmo assim

Urna eletrônica - Antonio Augusto/Ascom/TSE
Urna eletrônica Imagem: Antonio Augusto/Ascom/TSE

20/01/2022 06h00

Encerrei minha participação no trágico ano de 2021 de forma abrupta. Larguei as coisas e saí, deixei coisas no caminho e a lista cheia de pendências para um 2022 que chegou. Mas saí de lá sem nenhuma lição motivacional, nada foi aprendido. Só um cansaço que não passou, já virou crônico.

Cheguei em 2022 fincando os dois pés no chão. Temos trabalho esse ano, não será fácil, temos que vencer o conservadorismo, o obscurantismo e o plano genocida. Precisamos de um plano de novos tempos, de reconstrução da terra arrasada em que o Brasil se encontra.

Em algumas cidades o cenário é mesmo de devastação: a emergência climática chegou sem pedir licença e assim será. Assim foi, com morte e desabrigados. Somos bons em fazer a contagem de nossos mortos, mas estamos indo mal para prevenir que isso aconteça - ainda mais em um governo para o qual a vida não vale absolutamente nada.

Eu fiz a minha lista de tarefas, tenho muitas. Eleger um presidente de novo, eleger um congresso negro e poderoso para estarmos prontos para uma reconstrução que seja a partir do nosso chão.

Precisamos não eleger mais homens brancos canalhas.

Tenho outra resolução de ano novo, e o Thiago Amparo já deu esse spoiler no último texto dele, de 2021. Em 2022, Bolsonaro preso.

Se todas nossas resoluções de ano novo se realizarem eu entro pelada no Lago Paranoá no dia 1 de janeiro de 2023. Vai acontecer, Brasil!

Merecemos uma classe melhor de políticos que reconheçam o buraco da desigualdade social que temos no país, que ajam a serviço da população e da reconstrução em vez de acumular mais poder. Merecemos políticos que sejam responsabilizados por suas decisões. Nós merecemos políticos de todas as esferas da vida, não apenas os mesmos velhos e ricos heterossexuais brancos que são excessivamente representados em todos os ramos do governo, não só em cargos eletivos.

Merecemos estar desiludidos e decepcionados com o que nossos políticos, até agora, ofereceram. O Congresso Nacional falhou, porque eles entendem que o radicalismo não é o caminho, ou atrapalha o caminho deles, mas o radicalismo é o que nós precisamos agora. Mais do que nunca, é urgente radicalizar a política. Certamente defender o Sistema Único de Saúde (SUS), comida na mesa, um salário digno para sobrevivência, saneamento, sistemas públicos de qualidade, moradia, água, bem-estar, defesa de direitos humanos, taxação sobre os mais ricos são considerados radicais para essa classe política que também acumula riqueza.

O relatório "Desigualdade Mata", que a rede Oxfam acaba de lançar, revela que um novo bilionário surgiu no mundo a cada 26 horas durante a pandemia. No Brasil, desde março de 2020, surgiram 10 novos bilionários. Agora eles são 55, sendo que os 20 maiores têm mais riqueza do que 128 milhões de brasileiros (60% da população). É inadmissível que alguns poucos brasileiros tenham lucrado tanto durante a pandemia quando a esmagadora maioria da população ficou mais pobre.

O país está desiludido com a política, eu estou desiludida com ela há mais de quatro anos. Mas todos os dias há uma nova, aterrorizante e evitável tragédia fomentada por um presidente e um governo que usa o ódio e o direito como conveniência política. Se permanecermos desiludidos ou apáticos nesse clima, não teremos chance de sair desse poço.

É preciso votar, o voto precisa ser para estancar a fome, o desemprego, crimes ambientais e toda essa lista infinita de problemas que arrastam o Brasil. Votar para um novo recomeço, para uma transição de um país liderado pela população. Enfrentaremos mais alguns anos aos trancos e barrancos, mas a construção é para um horizonte melhor e com lideranças comprometidas e com a cara da maioria das pessoas desse país.

Eu chego em 2022 nada otimista, chego triste quando olho os escombros que se tornou esse país, o negacionismo, a falta de humanidade e o deixar morrer que virou política pública. Quem ficou, e ainda se aguenta de pé, precisa respirar fundo e estar na linha de frente da mudança.

Que esse ano a gente se encontre, ainda que seja de máscara, na rua e tirando os escombros para um novo mundo. Porque mesmo triste e desiludida eu ainda sonho. Votar para restaurar um mínimo de humanidade para depois cobrar e fazer parte de um futuro com políticos comprometidos com as mudanças emergenciais de que precisamos.

E se você está se sentindo triste ou indiferente, vamos superar isso, pelo menos o suficiente para votar e votar pragmaticamente. Diga aos seus amigos para votar. Dirija pessoas às urnas. Apoie os candidatos nos quais você acredita com seu tempo voluntário ou, se puder pagar, apoie com dinheiro às campanhas.

Faça alguma coisa. Faça qualquer coisa, vidas estão em jogo nesse momento.