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Fox Highline "completaço" derrapa ao justificar os R$ 63.540

Fox sobe o nível com novo motor, câmbio e pacote... e no valor da etiqueta premium - Murilo Góes/UOL
Fox sobe o nível com novo motor, câmbio e pacote... e no valor da etiqueta premium Imagem: Murilo Góes/UOL

Leonardo Felix

Colaboração para o UOL, em Americana (SP)

21/08/2014 17h09

Com a apresentação mercadológica do novo Volkswagen Fox, que ganhou "jeitão" de Golf e foi alçado ao patamar premium na última segunda-feira, surgiu uma questão complicada: vale a pena pagar R$ 63 mil em um compacto brasileiro?

Este é o valor aproximado da versão mais completa do hatch, a Highline 1.6 I-Motion, equipada ainda com todos os opcionais. UOL Carros esclarece que não acha a nova linha do compacto exatamente ruim. O problema é que a marca alemã, no afã de dar o tal status emergente de "premium" ao modelo, exagerou não no recheio, mas no preço cobrado por ele -- e isso em todas as versões.

Volkswagen Fox Highline iMotion 2015 painel - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Das pedaleiras esportivas às faixas centrais do couro sintético, interior do Fox Highline abusa dos cromados e dos tons de cinza.
Imagem: Murilo Góes/UOL
Do trem-de-força renovado, nada a dizer por ora: equipam a versão o novo motor MSI de 1,6 litro e o retrabalhado câmbio automatizado I-Motion Versão 2, de embreagem simples e cinco marchas. Com eles, o Fox Highline 1.6 custa iniciais R$ 51.790 e traz de série, junto com os obrigatórios airbags frontais e freios com sistema ABS (antitravamento), uma boa lista, mas com muitos itens já conhecidos da antiga linha Fox.

Os principais são: vidros e travas elétricos nas quatro portas; direção elétrica com ajuste de altura e profundidade; banco do motorista com ajuste de altura e gaveta; banco traseiro corrediço; sensores de estacionamento dianteiro e traseiro; computador de bordo; chave canivete com controle remoto; partida a frio sem tanquinho; dois cintos de segurança traseiros com três pontos; preparação para sistema de som; parachoques, spoiler de teto e capa dos retrovisores na cor do veículo; ar-condicionado manual; retrovisores com ajuste elétrico (e função "tilt down" do lado do passageiro) e luzes indicadoras de direção integradas; faróis e lanternas de neblina; faróis duplos com máscara escurecida; apliques cromados externos e internos; porta-luvas e para-sóis com iluminação auxiliar; 17 porta-objetos e gaveta sob o banco do motorista; limpador e desembaçador traseiros; ponteira dupla de escapamento; tomada 12V no console central e no compartimento de bagagens.

Ainda de série e inéditos são o volante multifuncional revestido de couro com desenho similar ao do Golf; quadro de instrumentos com acendimento automático; abertura elétrica do porta-malas pelo logotipo traseiro; e o controle de tração.

A unidade testada por 120 quilômetros, durante o test-drive de lançamento, também contava com todos os opcionais oferecidos para a versão: pintura metálica azul Acqua (R$ 1.110); revestimento em couro sintético para bancos, portas, manopla do câmbio e alavanca do freio de mão (R$ 670); teto solar com luz de leitura dianteira (R$ 2.470); um pacote chamado "módulo tecnológico I" -- piloto automático, espelho retrovisor interno antiofuscante, faróis de neblina com assistência de iluminação em mudanças de direção e sensores de chuva e crepuscular (R$ 1.910); sistema de som com navegação GPS, rádio AM/FM, CD, Bluetooth, MP3, entradas USB, SD-Card e auxiliar em tela sensível ao toque de 5,8 polegadas (R$ 3.050); rodas de liga leve aro 16 polegadas (R$ 1.400); e controle eletrônico de estabilidade com assistente de partida em subida (R$ 1.140).

Com a lista de extras, o valor total chega a R$ 63.540. São R$ 11.750 de incremento.

É MÉDIO?
UOL Carros
já escreveu e reitera: este Fox "completaço" cobra preço de hatch médio. Ford Focus, Fiat Bravo, Citroën C4 e Peugeot 208 cobram valores parecidos, e oferecem em troca pacotes tecnológicos semelhantes, mas são mais espaçosos e trazem motores com potência maior que os 120 cavalos (com etanol) gerados pelo 1.6 do Fox Highline (respectivamente com gasolina e etanol).

Vamos além: até mesmo o Golf, de quem o Fox copiou (ou herdou, como vai preferir a montadora) os traços, cobra só R$ 4 mil a mais em sua versão de entrada, com direito a motor turbo de 140 cv, sete airbags e freio de estacionamento eletrônico -- diferenciais típicos do segmento premium, de fato.

Levando a comparação ao extremo, a versão de topo completinha do novo Renault Sandero, 1.6 Dynamique, cobra exatos R$ 19.720 a menos e não deve praticamente nada ao Fox Highline. Pelo contrário: largura e entre-eixos são maiores, o que deixa o compacto francês mais espaçoso, o ar-condicionado é automático e há trava de segurança para crianças nas portas de trás.
 
Esta versão "completona" do hatch da Volks leva vantagem nos revestimentos em couro sintético, direção elétrica (a do Sandero é hidráulica), motor em bloco de alumínio (14 cv mais potente), rodas de 16 polegadas, banco traseiro corrediço, teto solar e função "tilt down" no retrovisor externo do lado direito. Ainda assim, justificaria a diferença de 45% no preço?
 
COMO ANDA
No texto de lançamento, UOL Carros já esmiuçou as mudanças estéticas: a inspiração no Golf é inegável e até polêmica. Faltava falar do desempenho. Nesse ponto, a versão completa do hatch tem qualidades.
 
O propulsor MSI de 1,6 litro, por exemplo, é vigoroso: oferece boa parte da potência e torque máximos -- 110/120 cavalos (a 5.750 rpm) e 15,8/16,8 kgfm (a 4.000 rpm), respectivamente com gasolina e etanol -- a partir dos 3 mil giros, o que significa que não é preciso pisar muito fundo para sentir boas respostas. 
 
Volkswagen Fox Highline iMotion 2015 antena - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Fox tem antena fixa acoplada à barbatana, quando geralmente se vê um formato ou outro; foi a forma encontrada pela Volks de acoplar recepção de rádio e do GPS.
Imagem: Murilo Góes/UOL
O sistema de suspensões não mudou em relação à linha anterior. É um tanto duro, como qualquer Volkswagen, o que deixa o veículo mais confortável numa estrada bem pavimentada do que numa rua esburacada. O isolamento acústico não chega a ser um primor, mas é bom o suficiente para não incomodar, e o acabamento em plásticos com tons acinzentados (que pode ser trocada por tradicionais tons de preto, sem custo adicional) mantém a sobriedade. E, durante viagem entre São Paulo e Americana (SP), a ergonomia dos bancos também agradou.

Já a segunda versão do I-Motion, câmbio automatizado monoembreagem, está um pouco mais afável, mas continua com seus tranquinhos. A Volks trabalhou para reduzi-los, encurtando as relações de segunda, terceira e quarta marchas -- para gerar trocas em giros mais baixos -- e dando mais precisão ao mapa de trocas, mas os saltos ainda existem -- e aborrecem.
 
O consumo na estrada, com ar ligado e sem preocupação com economia, ficou perto de 7,5 km/l, abaixo dos 8,1 km/l registrados pelo Inmetro.

Portanto, o Fox Highline não é um carro ruim. Na verdade, ficou até muito bom com o novo trem-de-força. O grande problema é que cobra demais para se adequar à nova realidade premium que a Volkswagen deseja emplacar -- lembre-se: a chance de vê-lo tomar o lugar do Polo é gigante. E isso sem uma troca de geração (a plataforma é de 2002), justificativa usada pela Ford para o New Fiesta, por exemplo.
 
Voltando a citar o Sandero Dynamique, UOL Carros havia dito que o modelo da Renault cobrava cerca de R$ 40 mil para entregar conteúdo semelhante ao de modelos de R$ 50 mil. Assim, e respondendo à pergunta inicial, o Fox Highline completo seria competitivo se entregasse seu pacote de mais de R$ 60 mil pelo preço inicial de pouco mais de R$ 50 mil.
 
O amigo internauta está convidado a opinar no campo de comentários, mas a resposta definitiva só vira com a análise das vendas.