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Por que Porsche de filme de Steve McQueen pode bater recorde milionário

Colunista do UOL

26/06/2021 04h00

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(SÃO PAULO) - Quando o 917 chassi número 24 foi arrematado por US$ 14,08 milhões, durante leilão da Gooding & Company há quatro anos, estabeleceu-se como o Porsche mais caro já vendido. Credenciais não lhe faltavam: foi um dos exemplares usados em Le Mans (1971), protagonizado por Steve McQueen.

O 917-024 foi usado para testes antes de ser vendido ao suíço Jo Siffert, piloto de testes da Porsche morto em uma corrida da Fórmula 1 em 1971. Depois do filme e da morte de Siffert, passou por abandono, resgate e restauro para então chegar ao arremate milionário.

No dia 13 de agosto, outro 917 pode determinar novo recorde caso seja arrematado por algo entre US$ 16 milhões e US$ 18,5 milhões, como estimam os organizadores do leilão. Seu currículo tem qualidades semelhantes: além de também ter atuado no longa produzido por McQueen, este 917 disputou a edição de 1970 da lendária corrida.

Porsche 917 26 - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

"Pilotado por David Hobbs e Mike Hailwood, foi um verdadeiro candidato à vitória durante as 24 Horas Le Mans, chegando ao terceiro lugar antes de uma corrida frequentemente traiçoeira levar o carro, com a chuva fazendo Hailwood aquaplanar e se retirar após 49 voltas", descreve a companhia de leilões.

Porsche 917 26 tras - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Este, chassi número 26, foi um dos três 917 que a equipe JW Automotive Engineering inscreveu na corrida de 1970 - todos com a famosa pintura Gulf, mas o exemplar do leilão um pouco diferente, com o teto todo em laranja, e não apenas uma faixa.

Porsche 917 26 int - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Após o acidente, o 917-026 foi consertado pela Porsche, que o reconstituiu como um 917 Spyder, sobre o chassi 31. Em 1974, deixou as pistas e desde então tem composto algumas coleções. Recentemente fora restaurado, voltando ao estado de quando disputou Le Mans.

Lenda

O 917 é um dos carros de corrida mais prolíficos na história do automobilismo, com versões criadas a partir da mesma base - PA Spyder, KH (cauda curta) Coupé, LH (cauda longa) Coupé, /20 Coupé, /30 Spyder -, se moldando à pista na qual iria competir.

Sua primeira aparição pública foi no Salão de Genebra de 1969, mensageiro de um objetivo irredutível: vencer as 24 Horas de Le Mans. O chassi número 001, restaurado pela própria Porsche há dois anos, foi o primeiro de 25 exemplares construídos para atender aos requisitos de homologação e serviu como carro de apresentação. A estreia nas pistas, ainda em 1969, já veio com a vitória nos 1.000 km de Zeltweg, na Áustria.

Porsche 917 W 1970 - Divulgação  - Divulgação
917 vencedor da prova de Le Mans de 1970
Imagem: Divulgação

Mas foi só em junho do ano seguinte que o 917 cumpriu sua missão, pilotado por Hans Herrmann e Richard Attwood. Foi a principal conquista da Porsche no esporte a motor até então. Missão cumprida também em 1971, guiado por Helmut Marko (hoje o chefão da Red Bull na Fórmula 1) e Gijs van Lennep.

917 Marko - Divulgação  - Divulgação
917 de Helmut Marko e Gijs van Lennep. vencedor de 1971
Imagem: Divulgação

Curioso é que o 917 quase não existiu. "Em 1968, a FIA alterou os regulamentos do Campeonato Mundial de Automobilismo do nada e o limite de deslocamento foi aumentado de três para cinco litros. Isso significava que o Porsche 908 de três litros só era competitivo em uma extensão limitada. Era necessário um carro novo de cinco litros", explica a marca. Por isso apenas nove meses separam os primeiros rabiscos de sua apresentação em Genebra.

Anunciado o novo regulamento, a equipe de engenheiros então começou a desenvolver um chassi tubular, de apenas 45 kg, envolto por uma carroceria de fibra de vidro. O motor era um descomunal 4.5 de 12 cilindros opostos, de 580 cv, capaz de levar o bólido a velocidades alucinantes. "A traseira do veículo ficava extremamente irregular a 350 km/h e até flutuava se você freasse com muita força. A 380 km/h, tinha que tirar o pé do acelerador", relembra Kurt Ahrens, um dos pilotos de teste do 917. E todos os ineditismos tecnológicos tinham a aprovação de Ferdinand Piëch, neto de Porsche e então diretor de engenharia da empresa.

Provável que o 917 conquistasse outras vitórias em Le Mans, se tivesse continuado na categoria: "após a temporada de 1971, os regulamentos do Campeonato Mundial de Automobilismo foram alterados mais uma vez e o 917 não era mais elegível para participar. Mas continuou a vencer na série Can-Am, na América do Norte, e na Interserie, na Europa, somando 37 vitórias até 1975", relembra a Porsche.