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Inadimplência em zero km aumenta e brasileiro está alugando mais carro

Mateus Bruxel/Folhapress
Imagem: Mateus Bruxel/Folhapress

Colunista do UOL

30/09/2022 16h54

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Os dados mais recentes sobre as compras financiadas de automóveis apontam para um processo lento e consistente de aumento da inadimplência. Diante da pouca oferta de carros com preços mais acessíveis à maioria dos consumidores o varejo automotivo vai perdendo o protagonismo que já teve e as vendas corporativas, principalmente às locadoras de veículos, tornam-se a salvação das montadoras para evitar uma maior ociosidade nas fábricas - é um processo perigoso de desindustrialização automotiva no País. Este é o retrato do mercado brasileiro e, por enquanto, não há sinais de que algo mudará.

O índice de inadimplência nos financiamentos de veículos zero km, divulgado esta semana pelo Banco Central do Brasil, chegou a 5,1% em agosto, 0,2 ponto porcentual acima da média apurada em julho. São seis meses seguidos de alta no índice, que mede os atrasos superiores a noventa dias nos pagamentos dos financiamentos.

Com relação há um ano, agosto de 2021, a inadimplência subiu 1,7 ponto porcentual, influenciada pelo maior endividamento das famílias cuja renda vem sendo comida pela inflação. Desde o início do ano o índice avançou 1,1 ponto porcentual, mais do que no ano passado inteiro, quando a alta foi de 0,9 pp.

Para a Anfavea, segundo seu presidente Márcio de Lima Leite, o crédito está ficando mais caro e mais difícil, mas não significa que há uma crise de demanda. Até porque os volumes de entrega de carros zero km está crescendo - e puxados, é verdade, pelas locadoras.

Este segmento vem recuperando rapidamente os volumes deixados para trás por causa da crise dos semicondutores, que limitou bastante a produção em 2021. Segundo Marco Aurélio Nazaré, presidente da ABLA, Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, os prazos de entregas melhoraram comparados com o ano passado, quando o mercado de locação esperou até 180 dias para receber um automóvel zero km.

Comparando o ritmo do primeiro trimestre deste ano com os três meses seguintes as compras das locadoras cresceram 85,4%. Nazaré afirmou que "o nosso setor comprou 223 mil 967 mil novos carros no primeiro semestre de 2022 e essas compras representaram 49,3% [praticamente a metade!] do total adquirido no ano todo de 2021".

Resultado: a frota total do segmento de locação cresceu 6,3% nos primeiros seis meses de 2022. Assim, a confirmar o mesmo ritmo até o fim do ano, a expectativa do setor de locação é que o mercado esteja ainda mais próximo da normalidade no ano que vem. Historicamente as empresas de locação são responsáveis pela compra de aproximadamente 20% de todos os automóveis e comerciais leves vendidos por ano no Brasil.

Esses negócios, muitas vezes classificados como vendas diretas, da fabricante para a locadora, têm tudo para crescer, aumentando a participação dessas empresas no resultado total de vendas do mercado nacional. Isso porque há uma necessidade de 500 a 600 mil automóveis para equilibrar os estoques do mercado de locação no ano que vem.

Enquanto isso o consumidor pessoa física vai ficando sem opções porque, mesmo com a tendência de estabilidade, os juros para aquisição de veículos zero km permanecem muito altos, na casa dos 27%, em média. E com as fabricantes dando prioridade para o cliente corporativo, versões, cores, equipamentos e acabamentos preferidos pelo consumidor muitas vezes estão em falta nas concessionárias. E aí o preço ou a espera podem aumentar. Quem se anima a fazer negócio assim?

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