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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Pensavam que era dengue, mas leucemia já havia tomado 93% da minha medula'

Imagem: Arquivo pessoal

Alice Arnoldi

Colaboração para VivaBem

17/04/2024 04h06

A cidade de Campo Grande (MS), onde mora Tallita Knebel, 29 anos, viveu um surto de dengue em outubro de 2022.

Nessa época, por brincadeira, a técnica de enfermagem deixou uma amiga enfermeira fazer nela um teste do laço —exame que permite identificar a fragilidade dos vasos sanguíneos, realizado em casos suspeitos de dengue.

"Na hora que minha amiga fez a prova, meu braço se encheu instantaneamente de manchinhas vermelhas", lembra Tallita.

A colega a orientou a fazer imediatamente o teste para confirmar o diagnóstico em uma UBS. Mas Tallita decidiu aguardar e só buscar atendimento médico caso tivesse febre ou outros sintomas de dengue.

Após alguns dias, a técnica de enfermagem piorou: sentiu febre, dores no corpo e fraqueza. Chegou ao ponto de não conseguir comer. Mesmo doente, não procurou um médico e foi fazer a prova prática para tirar habilitação de moto.

"Fui tão mal que, no fim do circuito, achei que não tinha passado. Liguei para a minha mãe chorando muito e, ao desligar a chamada, desmaiei", relembra a auxiliar de enfermagem.

Talitta foi levada ao hospital e realizou uma série de exames, mas foi mandada para casa porque o local estava cheio.

Imagem: Arquivo pessoal

"No outro dia, quando voltei ao hospital, eles já estavam me esperando e a enfermeira disse que eu deveria avisar alguém da minha família, pois teria de ser internada", lembra. A principal suspeita médica era de que estava com dengue hemorrágica.

Da dengue ao câncer

Tallita fez uma série de exames. Nesse meio tempo, as manchas vermelhas pelo corpo continuavam a aparecer junto com hematomas, além de ela estar pálida e sem forças até mesmo para andar.

A médica me explicou que já tinham feito quatro testes de dengue e todos deram negativos. Foi nesse momento que ela perguntou se eu tinha caso de câncer na família e respondi que sim.
Tallita Knebel

Imagem: Arquivo pessoal

O caso foi transferido para a área de hematologia. Ainda internada, Tallita passou por mais uma longa semana de exames até que os médicos chegaram ao diagnóstico de leucemia linfóide aguda, tipo B.

"Estava com 93% de comprometimento de medula. Fui considerada basicamente morta. Nenhum médico achou que eu iria conseguiria sair do hospital. Precisei receber 50 transfusões de sangue e plaquetas na primeira internação", relata.

Por que a leucemia pode ser confundida?

A infectologista Sigrid de Sousa dos Santos, diretora da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia), explica que a interpretação médica sobre os sintomas que Tallita Knebel apresentava ser de dengue e não de um câncer é esperada.

Além de as duas doenças terem sintomas semelhantes, a probabilidade é maior de uma arbovirose levar a uma doença febril aguda do que uma enfermidade neoplásica, como a leucemia.

Uma leucemia aguda pode apresentar sintomas como febre, dor de cabeça, fraqueza, dores no corpo, sangramento de mucosas e petéquias, como acontece com a dengue.
Sigrid de Sousa dos Santos, infectologia

O que é a leucemia linfoide

O hematologista Guilherme Perini, do Hospital Israelista Albert Einstein, explica que para entender a leucemia linfóide aguda é preciso conhecer a funcionalidade das células tronco dentro da medula óssea.

Elas são responsáveis tanto por produzir quanto por repor todas as células do sangue como hemácias, plaquetas e glóbulos brancos.

"Nas leucemias agudas, as células tronco da medula óssea sofrem mutações e proliferam descontroladamente, além de perderem a capacidade de gerar células maduras funcionais", esclarece.

A partir disso, o paciente apresenta queda nas contagens das hemácias, plaquetas e glóbulos brancos e, consequentemente, os sintomas associados começam a surgir.

Os principais são:

  • Febre;
  • Cansaço;
  • Manchas vermelhas pelo corpo (petéquias);
  • Dores ósseas;
  • Sangramentos;
  • Infecções;
  • Anemia.

O diagnóstico da leucemia linfóide aguda começa por alterações significativas no hemograma, mas só vem a ser confirmado com o estudo da medula óssea, chamado de mielograma, como o que Tallita fez.

Para ter detalhes, fazemos outros estudos como imuno fenotipagem da medula, cariótipo e testes moleculares para entender as alterações genéticas presentes na leucemia.
Guilherme Perini, hematologista

Tratamento é difícil

O tratamento para a leucemia linfoide aguda é quimioterápico e foi por ele que a Tallita precisou passar logo após receber o diagnóstico da doença.

A técnica de enfermagem fez oito ciclos de quimioterapia. Em cada um, ficou cinco dias internada e mais 28 em casa, se recuperando da bomba medicamentosa. No fim do tratamento, ela não tinha eliminado a doença completamente, o que a impediu de passar pelo transplante de medula óssea pelo SUS.

A médica disse que não tinha mais o que fazer por mim, que eu precisava procurar outra alternativa. Na minha última quimioterapia, ela disse que se eu não fizesse transplante só viveria por mais um ano
Tallita Knebel

Em janeiro deste ano, mesmo com a leucemia ativa, Tallita conseguiu realizar o transplante de medula de óssea em um hospital particular, via convênio médico. A doadora 100% compatível foi a sua irmã.

"O transplante foi uma alternativa para eu não ter um aumento muito grande da doença, a ponto de ficar como foi no início. Quando eu fiz a cirurgia, a leucemia tinha retomado 10% da medula, porque a medicação já não estava mais fazendo efeito", relata.

Atualmente, ela "está com 0,0084% de leucemia" e pode acabar não entrando em remissão completamente devido à mutação cromossômica filadélfia que possui e que foi descoberta após entrar no plano de saúde.

Essa mutação consiste em uma troca de uma parte do cromossomo nove pelo 22 e vice-versa. Isso resulta em um prognóstico pior para os pacientes com leucemia.

Ainda assim, há tratamento para o problema, mas o preço é alto. Cada caixa do medicamento custa R$ 14 mil e Tallita precisa tomar uma por mês. Isso faz com que ela dependa de rifas, doações e de toda forma de ajuda para custear o remédio que é a sua esperança de que o câncer entre em remissão.

"Eu me sinto assustada com tudo isso. A remissão, caso venha, irá demorar devido à mutação. Fico pensando se vou trabalhar logo ou não, na minha filha e em todo o resto", desabafa.

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