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O que acontece no seu corpo quando você come comida vencida

Imagem: Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

09/01/2024 04h05

Dentro e fora de casa os alimentos não duram para sempre e podem se tornar impróprios para o consumo. Para além do vencimento do prazo de validade inscrito na embalagem dos produtos industrializados, alterações de sabor, cor, odor ou no aspecto geral do item a ser consumido sinalizam a sua deterioração.

Embora nem sempre seja possível detectar, de pronto, a proliferação de microrganismos e suas toxinas que contaminam os alimentos, eles prejudicam a saúde e são a causa de mais de 250 tipos de doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHA), mais conhecidas como intoxicação ou infecção alimentares.

1 em cada 10 pessoas adoece por DTHA no mundo todos os anos, segundo a OMS.

Crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas ou alterações no sistema de defesa do corpo são as mais vulneráveis ao problema.

O Brasil registrou mais de 155 mil casos, mais de 22 mil internações e 152 óbitos relacionados às DTHA entre os anos de 2007 e 2020. Dados do Ministério da Saúde.

Não é só questão de validade

Comida vencida pode ser definida como aquela cujo prazo de validade se expirou e o fabricante já não pode garantir suas qualidades nutricionais e sanitárias.

Considera-se também "vencido" —ou impróprio para o consumo— todo alimento produzido e conservado de forma inadequada.

Isso significa que, em algum momento —desde a origem até a sua mesa— podem ter sido ignoradas as boas práticas de higiene pessoal ou alimentar, de organização, cozimento (ou pasteurização) e conservação. Veja alguns exemplos:

Alimentos processados, manipulados ou preparados em ambientes contaminados

Falta de higiene após o uso do banheiro, feridas ou ferimentos em pessoas que manipulam esses itens na cozinha

Refrigeração inadequada, exposição à temperatura ambiente por tempo excessivo e contaminação cruzada

Irrigação de vegetais com água contaminada

E como seu organismo reage?

O resultado de comer comida vencida entre pessoas saudáveis pode se limitar a um passageiro mal-estar ou incômodo.

No entanto, algumas pessoas apresentarão sintomas mais intensos poucas horas após a ingestão do alimento, e o quadro poderá durar por 5 dias, ou até 15 dias a depender do microrganismo.

Confira as manifestações mais frequentes do seu corpo diante dessa situação:

  • Sintomas gastrointestinais
  • Desidratação
  • Botulismo (mais raro)

O sistema digestivo contra-ataca

A maioria dos tipos de intoxicação alimentar causam sintomas gastrointestinais, que podem variar a depender do agente causador do problema. Em geral, poderão estar presentes os seguintes sintomas:

  • Náusea
  • Vômito
  • Cólicas
  • Diarreia
  • Falta de apetite
  • Febre

Na maioria das vezes, ingerir líquidos em abundância e repouso resolvem o problema. Nos quadros mais graves, o médico poderá sugerir o uso de medicamentos, seja para o controle de sintomas como náuseas e vômitos, seja para conter a infecção.

Durante a crise, prefira alimentos leves e cozidos para facilitar a digestão, como carboidratos, frutas e legumes. Evite proteínas, carnes mal passadas e condimentos.

O volume de água corporal despenca

Conforme o tipo e a quantidade de toxinas ingeridas, assim como a espécie de microrganismo, comer comida vencida pode ter como consequência uma infecção conhecida como gastroenterite, cujo principal sintoma é a diarreia.

Quando à diarreia se soma o vômito, pode haver intensa perda de água, o que aumenta a possibilidade de desidratação e desequilíbrio eletrolítico (perda de minerais).

Esse quadro provoca alterações no organismo que resultam em manifestações como fraqueza, cansaço, alterações no batimento cardíaco, boca seca etc.

Idosos e crianças merecem maior atenção, já que a gravidade do quadro pode evoluir rapidamente comprometendo suas vidas.

O sistema nervoso central pode ser alcançado

Embora seja menos frequente, o botulismo é um tipo de intoxicação grave causada pela ingestão de alimentos contaminados por toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum que não tiveram produção ou conservação adequadas.

De acordo com o Ministério da Saúde, dada a sua gravidade, trata-se de uma enfermidade de notificação compulsória, ou seja, as autoridades sanitárias devem ser informadas com rapidez para tomarem providências de prevenção de novos casos na população.

  • Itens frequentemente relacionados: conservas vegetais artesanais (palmito, picles, etc.); carnes cozidas, curadas ou defumadas (salsicha, presunto, etc.); peixes defumados, salgados e fermentados; queijos e pastas de queijos. Todos esses itens são frequentemente relacionados.
  • Mais raramente, alimentos enlatados industrializados.

Além dos sintomas gastrointestinais, os neurológicos estarão presentes: visão dupla, dificuldade de focalizar objetos, queda da pálpebra, boca seca, dificuldade de engolir.

Em geral, eles aparecem entre 18 e 36 horas após o consumo —mas isso pode variar a depender da quantidade das toxinas ingeridas.

Muito microrganismo envolvido

Imagem: iStock

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Para que os agentes causadores de doenças possam entrar em ação, basta pouco: a maioria dos alimentos contêm nutrientes e umidade suficientes para que eles se multipliquem.

Daí a sugestão de conservá-los em temperatura adequada, especialmente os perecíveis —e estar atento a medidas de higiene pessoal e ambiental.

Esses microrganismos podem ser bactérias, vírus, toxinas, parasitas, entre outros. No Brasil, entre os principais agentes causadores de intoxicação alimentar (e de seus surtos), destacam-se:

  • Clostridium spp.
  • Escherichia coli
  • Staphylococcus aureus
  • Norovírus/rotavírus
  • Salmonella spp.
  • Staphylococcus spp.
  • Giardia lamblia (giardíase)
  • Entamoeba histolytica (amebíase)

Fique de olho

Os especialistas consultados afirmam que alimentos ricos em nutrientes, que possuem umidades mais altas e não foram cozidos a temperatura mínima de 70ºC, ou que tiveram inadequado armazenamento e ainda apresentam sinais de deterioração são os itens com maior potencial de causar intoxicação alimentar.

Esteja atento aos seguintes itens:

  • Carnes e peixes crus ou malpassados
  • Ovos crus
  • Frutos do mar (como as ostras)
  • Leite não pasteurizado
  • Bolos, tortas ou salgados recheados, maionese e molhos que estejam em temperatura ambiente
  • Água não filtrada

Caso tenha o hábito de comer fora de casa, aumente a vigilância observando a higiene local, do pessoal que atende e também a forma como os alimentos estão acondicionados.

Prefira consumir maionese e outros molhos em sachês, evitando conteúdos disponíveis em bisnagas ou em outras embalagens reutilizáveis.

Ih, tá vencido!

De acordo com especialistas do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), é raro que um item com data de validade expirada há 24 horas faça mal, desde que tenha sido conservado corretamente. A partir desse prazo, porém, o fabricante já não pode se responsabilizar pela qualidade do produto. A sugestão é não se arriscar.

Caso encontre na prateleira do supermercado algum alimento vencido, avise o estabelecimento. Ele tem o dever legal de recolher o produto, já que mantê-lo disponível para a comercialização pode ser considerado crime contra as relações de consumo.

Fontes: Eduardo Grecco, gastrocirurgião e endoscopista bariátrico do Instituto EndoVitta, professor afiliado da disciplina de cirurgia geral e do aparelho digestivo e coordenador do Serviço e da Residência Médica de Endoscopia da Faculdade de Medicina do ABC, professor do curso de medicina de USCS (Universidade de São Caetano do Sul), membro da Sobed (Sociedade Brasileira de Endoscopia); Keliani Bordin, engenheira de alimentos, doutora em ciências da engenharia de alimentos e professora do curso de engenharia de alimentos da PUC-PR; Laliana da Paz Soares Santo, nutricionista clínica do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Taylor Endrigo Toscano Olivo, médico infectologista e responsável técnico pelo Serviço de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde do Hospital das Clínicas de Bauru, preceptor do curso de medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP e da residência de clínica médica do Hospital Estadual de Bauru. Revisão técnica: Taylor Endrigo Toscano Olivo.

Referências:

Ministério da Saúde

Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor)

OMS (Organização Mundial da Saúde)

Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais

Sattar SBA, Singh S. Bacterial Gastroenteritis. [Atualizado em 2023 Ago 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513295/

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