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Caso do bebê que nasceu com cauda é o primeiro no Brasil a ser publicado

Esticada, a cauda media 12 centímetros de comprimento e contava com uma esfera de tecido conjuntivo e gordura na ponta Imagem: Reprodução/Journal of Pediatric Surgery Case Reports

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

06/11/2021 04h00

O caso do bebê que nasceu com uma cauda verdadeira, em uma maternidade de Fortaleza (CE) no início do ano, é o primeiro do tipo no Brasil a ser registrado em artigo publicado em um jornal científico. No caso, o renomado Journal of Pediatric Surgery Case Reports. A criança teve a cauda removida após um criterioso estudo médico e passa bem.

O parto foi realizado em janeiro, no Hospital Infantil Albert Sabin. O bebê nasceu prematuro, de 35 semanas, e com uma cauda de 12 cm, com uma esfera na extremidade, composta por tecido conjuntivo e gordura. Ele será acompanhado semestralmente pelos médicos no primeiro ano de recuperação e, depois, a avaliação terá que ser realizada anualmente.

No relato publicado em março deste ano, os profissionais que assumiram o caso após o parto da criança explicam os detalhes que tiveram que ser pesquisados, além da avaliação clínica, antes que o procedimento médico fosse determinado. No caso, a retirada da cauda.

Após estudo médico detalhado, remoção bem sucedida da cauda do bebê não deixará marcas Imagem: Reprodução/Journal of Pediatric Surgery Case Reports

Como, por exemplo, os exames de ressonância magnética que revelaram a anatomia e a localização da cauda, além de descartarem outras patologias que podem estar associadas, como a presença de indicadores da medula espinhal ancorada ou o disrafismo espinhal oculto. Duas anomalias graves, que podem surgir em bebês com esse tipo de quadro.

"Essas alterações são defeitos neurológicos no desenvolvimento da medula espinhal", explicou ao UOL o cirurgião pediátrico Humberto Forte, um dos profissionais que assina a publicação. "Uma cauda pode revelar a presença desses defeitos antes mesmo do paciente manifestar sintomas típicos", afirma.

Essa exploração cuidadosa se faz necessária para evitar sequelas neurológicas tardias adicionais, como o cirurgião e sua equipe explicam no artigo: "É essencial que o pediatra ou cirurgião pediátrico investigue a presença de disrafismo espinhal oculto em pacientes com suspeita de lesões cutâneas, pois podem ser a única anormalidade visível e o diagnóstico precoce pode prevenir a evolução para alterações neurológicas graves".

Na opinião de Forte, essa é a importância da primeira publicação de um caso ocorrido no Brasil em um jornal científico. Torná-lo conhecido pela comunidade médica. Afinal, em toda a literatura médica mundial só foram publicados 40 casos do tipo.

"Não podemos afirmar que é o primeiro caso ocorrido no Brasil, mas foi o primeiro caso publicado. A importância desse artigo para a ciência médica brasileira é trazer ao conhecimento de todos a patologia dessas crianças e mostrar nossa experiência e expertise no cuidado delas", explicou.

Após a extração do apêndice, um laudo anatomopatológico confirmou que a estrutura, recoberta por pele com anexos, possuía tecido conjuntivo adiposo, muscular e neural, além de grandes ramos vasculares e ausência de tecido ósseo ou cartilaginoso, classificado como cauda humana verdadeira.

Além de Forte, participaram do relato do caso os profissionais Carlos Eduardo Lopes Soares (estudante da Universidade Federal do Ceará), Márcia Maria de Holanda Góes Bezerra (cirurgiã pediátrica do Hospital Albert Sabin), Verlene de Araujo Verdiano (neonatologista), Rodrigo Schuler Honorio (patologista do Hospital Albert Sabin) e Francisco das Chagas Barros Brilhante (cirurgião pediátrico do Hospital Albert Sabin),

Causas ainda são desconhecidas

Por causa da raridade, o que resulta numa carência de estudos de caso, é difícil, segundo o cirurgião, precisar as causas de surgimento da cauda em recém-nascidos. Apesar de ser sabido que ela, na verdade, consiste na persistência da cauda embrionária do feto, que se forma entre a 4ª e 6ª semanas de gestação e geralmente desaparece completamente no final da 8ª semana. "Ainda não foi definida uma causa específica, mas há teorias de que possa ocorrer uma alteração na regressão da cauda que temos na fase embrionária", esclarece.

"Foi muito interessante poder participar de um caso tão raro. Houve uma grande comoção tanto para definirmos a melhor conduta para o paciente como para conhecermos melhor a patologia", completa o cirurgião, lembrando de um momento que considerou como um ápice no atendimento do caso:

"O momento em que conhecemos a criança e a sensação de descoberta de algo novo e da sensação de que poderíamos ajudar não só ela, mas outras que podem ter a mesma patologia".

Sensação que faz sentido, já que o bebê nascido em Fortaleza poderá ter uma vida completamente normal agora que teve a cauda removida. E também não sofrerá qualquer "estigma social", como diz o médico, por ter nascido tão diferente.

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