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Dor de cárie ou sensibilidade? Veja como distinguir e aliviar os sintomas

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

03/06/2021 04h00

Já tomou sorvete bem gelado ou mastigou algo duro, como amendoim, e sentiu uma dorzinha, ou sensibilidade aguda no dente? Segundo especialistas ouvidos por VivaBem, cárie e retração gengival são as principais condições por trás desses sintomas, nessas situações. Mas se não forem elas, a dor pode ter relação com traumas, trincas, infiltrações de restaurações ou coroas preexistentes, infecções gengivais e periodontais e até alterações musculares e articulares.

Para ter certeza do que é e tratar, só mesmo após uma consulta com o dentista, que além de realizar um exame visual, pode submeter o paciente a testes clínicos e radiografias, se necessário. Saber as diferenças entre dor de cárie e sensibilidade não descarta a busca por atendimento odontológico, mas pode ser útil para aliviar momentaneamente o que se sente.

Cárie: dor, lesões e manchas

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David Barros, dentista pela EBMSP (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública) e especialista em periodontia e implantes dentários na Clínica ITA, em Salvador (BA), explica que as dores por cárie normalmente aparecem ao mastigar sobre o dente acometido e, em quadros mais agudos, são espontâneas, ou seja, se manifestam sem que dependam de algum estímulo.

"É relatado com certa frequência também a piora da dor se a pessoa se deitar, por conta do aumento da pressão sanguínea na cabeça e pescoço, além de dor tipo pulsante, dor que irradia para a cabeça e sensação de dente 'crescido'. Em alguns casos, a cárie também fica evidente pela formação de cavidades, ou alterações de cor no dente", complementa.

Uma mancha branca pode ser um indício e ter a ver com a desmineralização do esmalte dentário. "Isso quer dizer que o dente só começa a doer quando a lesão aparece, deixando a dentina (tecido que cobre o corpo do dente) suscetível aos agentes externos ou quando a cavidade se aprofundou tanto que se aproxima da polpa (canal), gerando muita dor", afirma Kamila Godoy, cirurgiã-dentista e membro da ABOR (Associação Brasileira de Ortodontia).

Sensibilidade e retração gengival

Quanto à presença de sensibilidade, Adriana Lira, professora de graduação e pós-graduação do curso de odontologia da Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul), com doutorado e pós-doutorado em ciências odontológicas pela FOUSP (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo), explica que pode ser causada por diversos outros fatores e que seu local exato pode não ser facilmente identificável.

"Pode ser que o paciente seja sensível a um estímulo térmico abrupto (calor e frio, mas principalmente frio, ao tomar água gelada, sorvete) e os dentes acabem doendo de forma geral".

Neste caso, não tem nenhuma característica clínica física que possa ser visível e a sensibilidade está relacionada a uma resposta natural dos dentes, sem que haja nenhuma alteração patológica.

"Também pode haver sensibilidade dental por retração gengival, então parte da raiz do dente, que deveria estar coberta, não está, fica exposta. Mesmo sendo pouca a área de exposição radicular, pode causar sensibilidade em muitos indivíduos", aponta.

A sensibilidade ainda pode ser sentida em decorrência de dentes com trincas, microfissuras e se somar à cárie, pois havendo uma lesão cariosa e inflamação da parte inervada do dente, frio e calor são sentidos nela com maior intensidade.

Se a raiz estiver exposta (há chance de estar associada a um fator genético na morfologia da gengiva), a ingestão de alimentos ácidos e até a respiração pela boca também podem incomodar.

O que pode ser feito em casa?

O Poder dos Alimentos - sensibilidade nos dentes - André Bergamin/VivaBem - André Bergamin/VivaBem
Imagem: André Bergamin/VivaBem

Quem já teve dor de dente intensa, conhece a sensação de desespero que pode ser. "Até se conseguir um correto diagnóstico e tratamento de urgência, ainda que provisório, recomendo apenas um analgésico leve. De preferência um que já seja utilizado pela pessoa quando se tem uma dor de cabeça, por exemplo", indica Jessé Alexandre de Cristo, dentista especialista em implante pelo IAPPEM (Instituto Agenor Paiva de Pós-Graduação), de Salvador (BA).

O analgésico minimiza a dor, mas a depender do grau e com inflamação e infecção dentárias, sozinho não dá conta. Será preciso ir o quanto antes ao dentista para ele examinar o dente. Ao suspeitar de cárie, pode se tentar em casa, com um pequeno espelho e iluminação adequada, localizar alguma formação de cavidade que dói e passar a língua por cima para senti-la.

Para evitar a doença, as dentistas Kamila Godoy e Adriana Lira orientam diminuir o consumo de doces, carboidratos, comidas que possam favorecer o acúmulo de placa e caprichar na hidratação para melhorar o fluxo salivar, que espesso demais também acaba por não proteger adequadamente o esmalte dentário.

Escovação com creme dental fluoretado e uso de fio dental após as refeições são igualmente essenciais.

Já na sensibilidade, se for causada por retração gengival, a indicação é evitar o uso de escova dental com cerdas muito duras, diminuir a ingestão de doces, cítricos (laranja, limão, vinho, café, abacaxi) e controlar e tratar possíveis refluxos, pois o conteúdo gástrico pode ser direcionado para a boca e, ao se misturar com a saliva, provoca queda do pH, causando perda de estrutura do esmalte dentário.

Ao fazer a higienização bucal, opte por uma escova de cerdas macias e com tamanho adequado para sua boca e não use muita força na escovação.

"Se a sensibilidade a estímulos for leve, também pode ser melhorada com creme dental específico e de uso contínuo", recomenda Juliana Daia, mestre em ortodontia pela FOUSP (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo) e diretora da SPO (Sociedade Paulista de Ortodontia).

Sem acompanhar e tratar...

Quando se refere a dente, um pequeno desconforto pode sinalizar o início de uma dor —ou problema— subsequente maior. Nesse sentido, mesmo quando se está viajando e percebe que há algo de errado, vale a pena procurar assistência especializada.

"Não tratar precocemente ocasiona em agravamento do quadro, o que vai demandar maiores esforços e despesas para a resolução. Pode ser necessário, por exemplo, tratar o canal do dente, ter de fazer uma coroa, ou até mesmo extrair e indicar a substituição por um implante dentário", explica David Barros.

No que compete à cárie, que surge basicamente pela união de placa bacteriana, dieta rica em açúcares e má higiene bucal, caso não tratada, pode evoluir e atingir o nervo do dente, para depois acessar a corrente sanguínea e se instalar em diversos tecidos. Existe o risco de a invasão bacteriana levar a doenças cardíacas e outras complicações.

Quanto ao não tratamento da sensibilidade dentária, além de ter causas que podem evoluir negativamente, o dentista Jessé Alexandre cita casos de pacientes que perderam rendimento no trabalho por falta de concentração resultante de dor crônica após consumo de água gelada. O que é possível quando se estende para soverte ou até o contrário, com alimentos "pelando".

Por isso, para descobrir o estado de sua saúde bucal, sanar eventuais complicações, se informar sobre tratamentos e procedimentos (estéticos, não-estéticos e preventivos), tirar dúvidas e aprender cuidados, visitas regulares ao dentista devem fazer parte de sua rotina.

Tenha uma boca saudável

Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Tenha Uma Boca Saudável, que tem como objetivo explicar como e por que é importante manter uma boa higiene oral. Também abordaremos erros comuns na escovação, câncer oral, como a saúde mental afeta os dentes, os limites dos procedimentos estéticos e corretivos, saúde bucal das crianças e de gestantes, entre outros assuntos. Confira todo o conteúdo da campanha aqui.

Essa é a segunda campanha de uma série de VivaBem que, ao longo do ano, trará conteúdos temáticos para auxiliar no combate a problemas que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e contribuir para que você tenha mais saúde e bem-estar.

A primeira foi Supere a Depressão Pós-Parto, realizada em março. Confira tudo o que rolou nela.