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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Viés inconsciente interfere no julgamento que você faz dos outros; o que é?

Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

27/05/2021 04h00

Todos nós temos, em menor ou maior grau, algum tipo de preconceito. Fazer um julgamento sobre outra pessoa antes mesmo de conhecê-la é uma forma de defesa psicológica típica de qualquer ser humano. Isso acontece porque é natural sentir medo daquilo que nos é desconhecido e diferente.

Há um nome para isso: viés inconsciente, tema que vem sendo trabalhado com afinco em empresas de todo tipo, principalmente com o movimento crescente de criação de comitês de diversidade e inclusão em muitas organizações. A intenção é reduzir os preconceitos principalmente durante os processos de recrutamento, seleção e promoção, ampliando as ofertas de trabalho e possibilidades para as chamadas minorias —negros, mulheres, pessoas com deficiência, LBGTQIA+ etc.

Além do âmbito corporativo, o viés inconsciente é um mecanismo que costuma atrapalhar consideravelmente as relações interpessoais, já que existe o risco de afetar a saúde mental dos envolvidos e a percepção das pessoas a respeito de si mesmas.

Viés é construído

Se é inconsciente, isso significa que não temos como quebrá-lo, pois sequer nos damos conta dele? Bom, na prática não funciona bem assim. Para entender melhor, é importante explicar que um viés inconsciente é um julgamento baseado em crenças, costumes e valores que adquirimos ao longo da vida —em casa, na escola, no trabalho, nas novelas, nos comerciais de TV. Exemplo: quando alguém diz que mulher é o "sexo frágil" ou que não tem jeito para lidar com números, pois o lugar dela é "na cozinha". Isso é reflexo de uma construção cultural envolvendo machismo, não é mesmo?

Outro exemplo: considerar que uma pessoa ocupa uma função na área da limpeza de uma empresa porque ela é negra. Não há nada de errado em trabalhar na faxina, pois trata-se de uma área profissional como qualquer outra, mas julgar isso sem o conhecimento dos fatos explana a ideia racista de que os negros não podem ocupar cargos de chefia ou executivos.

Tendemos a afastar quem é diferente da gente e se aproximar de quem é parecido Imagem: Getty Images/iStockphoto

Segundo a consultora e especialista em diversidade Cristina Kerr, CEO da CKZ Diversidade, mestre em sustentabilidade e docente de diversidade da Fundação Dom Cabral, em São Paulo (SP), é mais fácil identificar uma situação em que alguém está sendo preconceituoso ou estereotipando outra pessoa do que perceber essa questão em si mesmo. "Nossos aprendizados e vivências ficam gravados na mente e afetam as nossas atitudes e comportamentos. Como o nosso cérebro tem que lidar com milhares de informações por segundo, para que consiga dar conta, procura por padrões que considera mais importantes e cria atalhos para reconhecê-los, como um piloto automático", explica.

No entanto, esses atalhos têm uma desvantagem: são tendenciosos, pois são adquiridos ao longo da nossa vida, pelos nossos aprendizados e têm uma forte influência cultural. Essa vivência forma um poderoso sistema de estereótipos e crenças, que ficam marcados em nosso inconsciente e afetam as nossas atitudes e comportamentos. "Por isso, preferimos as pessoas que pertencem ao mesmo grupo que o nosso e temos uma forte tendência a nos afastar das pessoas que são diferentes", aponta Kerr.

Combater a discriminação enriquece as relações

Segundo a consultora Mariana Deperon, sócia-fundadora da Travessia - Estratégia e Inclusão, o viés inconsciente é fruto de associações implícitas concretizadas na mente, e afeta não só a compreensão a respeito dos outros, como ainda interfere na tomada de decisão e no comportamento social. "O viés inconsciente nos leva a tirar conclusões rápidas. Nunca julgamos as pessoas como elas são, mas como queremos vê-las e com os preconceitos acumulados e que permanecem ativos em um canto obscuro do nosso inconsciente", endossa Ricardo Voltolini, CEO e founder da Ideia Sustentável.

Por essa lógica, a discriminação é o preconceito colocado em prática pois leva a tratar alguém de forma diferente —na maior parte das vezes negativa e/ou equivocada — a partir de ideias preconcebidas oriundas de aprendizados, crenças religiosas, ambiente sociocultural etc. Até mesmo o ano de nascimento tem influência, por causa do contexto econômico e político da época. Só que estereótipos e generalizações afetam a análise e aprisionam as pessoas em "caixinhas", empobrecendo os relacionamentos e a troca de experiências. Quanto maior a disposição em entender e respeitar as diferenças, mais valiosa se torna a nossa existência e mais agradável e produtiva a convivência se torna.

Para Marcelo Lábaki Agostinho, psicólogo clínico do IP-USP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo), entender como funciona esse mecanismo é o primeiro passo para se perceber melhor e aprender a lidar com ele, cortando, digamos, o mal pela raiz. "Romper esse tipo de pensamento ajuda a diminuir o preconceito. Afinal, o efeito sobre quem sofre com ele, mesmo que de forma não intencional, é danoso, causando aumento da desigualdade social, de raça e de gênero", observa. Ele sugere quatro formas simples para todo mundo começar a trabalhar os próprios vieses inconscientes:

1. Tome consciência de quais são os vieses que se fazem presentes para você e pense em como mudar isso. Se estamos mais conscientes disso, fica mais fácil pensarmos em como olhar o mundo por outra ótica;
2. Lembre-se: conviver com o diferente e se apresentar de forma aberta ao outro pode enriquecer e até transformar a sua vida. Você vai aprender outros pontos de vista, exercitar a empatia e ter um olhar mais humano e gentil para a sociedade;
3. Mudanças não ocorrem da noite para o dia. Elas são um processo, que exige um esforço constante para driblar cada opinião ou pensamento preconceituoso que tiver;
4. Quanto maior a disposição em entender e respeitar as diferenças, mais valiosa se torna a sua existência e mais agradável e produtiva a convivência se torna.

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