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Cientistas desenvolvem organoides capazes de 'chorar' fora do corpo

Os organoides da glândula lacrimal produzem um fluido semelhante a uma lágrima (vermelho) -  Divulgação/Yorick Post/Hubrecht Institute
Os organoides da glândula lacrimal produzem um fluido semelhante a uma lágrima (vermelho) Imagem: Divulgação/Yorick Post/Hubrecht Institute

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/03/2021 12h36

Cientistas do Instituto Hubrecht e da UMC Utrecht (ambos na Holanda) utilizaram células-tronco para desenvolver com sucesso organoides de glândulas lacrimais, que, mesmo fora de um corpo, produzem lágrimas de maneira independente.

As lágrimas, além de acusarem emoções, são vitais para olhos saudáveis. Produzidas pelos dutos no canto da órbita do olho, elas lubrificam os olhos e fornecem nutrição à córnea. As propriedades antibacterianas das lágrimas também ajudam a prevenir infecções oculares, conforme divulgado na revista Nature.

A descoberta, descrita ontem na revista Cell Stem Cell, pode ajudar os pesquisadores a estudar o processo de produção de lágrimas e desenvolver tratamentos para doenças relacionadas as glândulas lacrimais, como a doença do olho seco, a síndrome de Sjögren autoimune e o câncer nas glândulas.

"A disfunção da glândula lacrimal, por exemplo na síndrome de Sjögren, pode ter consequências graves, incluindo ressecamento do olho ou mesmo ulceração da córnea", explicou Rachel Kalmann, participante do estudo. "Isso pode, em casos graves, levar à cegueira", concluiu a oftalmologista.

"Esperamos que, no futuro, este tipo de organoide [recém-descoberto] possa até ser transplantado para pacientes com glândulas lacrimais não funcionais", disse Marie Bannier-Hélaouët, aluna de doutorado no Instituto Hubrecht na área de Biologia do Desenvolvimento e Pesquisa com Células-tronco.

Após experimentar diferentes coquetéis para o crescimento dos organoides, os pesquisadores descobriram uma combinação que mantinha a glândula úmida, assim como as glândulas lacrimais humanas. Mas, como os organoides choravam internamente, as lágrimas se acumulavam dentro do que é chamado de lúmen e faziam os modelos se expandirem como balões.

"Outros experimentos revelaram que diferentes células da glândula lacrimal produzem diferentes componentes das lágrimas", disse o co-autor Yorick Post, também pesquisador do Instituto Hubrecht. "E essas células respondem de maneira diferente aos estímulos indutores de lágrimas."

Embora os cientistas usassem o sequenciamento genético para identificar e descrever as diferentes categorias de células que formam as glândulas lacrimais humanas, seus organoides foram cultivados usando apenas um tipo: a célula ductal.

"No futuro, gostaríamos de cultivar também o outro tipo de célula da glândula lacrimal, a chamada célula acinar, em um prato", disse Post. "Dessa forma, podemos eventualmente desenvolver uma glândula lacrimal completa no laboratório."

Os cientistas esperam que seus modelos sejam adotados por pesquisadores médicos para testes de drogas, além de seu potencial para modelar o câncer de ducto lacrimal.