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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Necessidade de controlar tudo gera angústia; veja como se livrar do hábito

Imagem: fizkes/Getty Images/iStockphoto

Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

19/01/2021 04h00

Resumo da notícia

  • A vida é imprevisível. Querer exercer o controle sobre determinadas coisas só provoca sofrimento
  • Sempre analise a situação para verificar se ela pode, de fato, ser controlada ou se é uma situação que independe de suas ações
  • Invista no autoconhecimento. Ele vai permitir um melhor gerenciamento de seus sentimentos, pensamentos, emoções e ações

O desejo de ter o controle das situações é um sentimento intrínseco da nossa espécie e justificável: imprevistos e fatores desconhecidos podem gerar insegurança, medo e vulnerabilidade. O ser humano tem a ilusão de que quando o outro e as coisas estão dominados ou sob o seu controle não haverá risco de resultados negativos. Porém, o controle pode trazer uma falsa sensação de segurança, além de colaborar para que se acredite que ações e pensamentos são sempre superiores aos das outras pessoas, prejudicando as relações.

A vida é imprevisível. Querer exercer o controle sobre determinadas coisas só provoca sofrimento, frustração, impressão de fracasso e insegurança, pois, em muitos casos, dependemos dos outros para lidar com situações do dia a dia. Assim, a necessidade de querer administrar se torna sempre presente, criando um paradoxo: se por um lado o controle serve para evitar as coisas ruins, por outro passa a ser algo tóxico, pois o indivíduo se torna dependente da própria mania. Em longo prazo, os controladores podem desenvolver quadros de depressão, ansiedade ou outras patologias.

O que não podemos controlar

O tempo e a morte são circunstâncias óbvias que não podemos regular ou até mesmo combater. Outros fatores mais simples, porém, também merecem ser mencionados:

A opinião alheia: tentar controlar o julgamento dos outros, principalmente a seu respeito, é uma atitude que só causa sofrimento e que também pode afetar a espontaneidade das relações, pois você passa a tentar se encaixar nas expectativas de terceiros. Muitas vezes podemos controlar (ou questionar) nossos pensamentos, emoções e comportamentos diante de outra pessoa, mas não podemos controlar como ela se comporta e o que ela sente em relação a nós —mesmo que nos esforcemos muito para isso.

Toda e qualquer atividade dos filhos: é claro que nos primeiros anos de vida a vigilância é fundamental. Porém, à medida que as crianças vão crescendo, controlar excessivamente a vida dos filhos prejudica a autonomia, evita que eles cometam seus próprios erros e aprendam com eles, além de afetar seu desenvolvimento emocional e psíquico.

Imagem: iStock

Fenômenos naturais, acidentes e catástrofes: por mais que tomemos certas precauções, evitar que uma barragem se rompa —a exemplo do que aconteceu em Brumadinho (MG) — ou que uma tempestade provoque enchentes são acontecimentos que estão fora do nosso alcance tentar reter ou evitar. O mesmo vale para o clima: mesmo com as estações do ano nos orientando sobre o que vestir ou que cuidados tomar, um compromisso marcado com antecedência pode não ser como imaginamos por conta de uma chuva de granizo ou de uma frente fria inesperada.

O surgimento de doenças: prática regular de atividade física, alimentação equilibrada e uma boa higiene do sono podem contribuir para evitar uma série de enfermidades. Porém, contrair ou não uma doença também sofre a influência de fatores alheios à vontade —a pandemia do coronavírus em 2020 é uma lição e tanto nesse quesito.

O comportamento e as escolhas de vida de outras pessoas: isso é bem comum nas expectativas dos pais em relação aos filhos (sobretudo sobre opções profissionais) ou em relações muito próximas (familiares, amizades) no geral. Na tentativa de exercer esse tipo de controle, muita gente é capaz de oprimir a identidade do outro em função de seu perfil dominador. E, quando não consegue interferir, há um sentimento de frustração e decepção.

Como romper o padrão?

Se você acredita que deve se livrar da mania de controle, reflita sobre colocar essas sete dicas em prática no seu dia a dia:

  1. Sempre analise a situação para verificar se ela pode, de fato, ser controlada ou se é uma situação que independe de suas ações;
  2. Faça um exercício de reflexão sobre qual a real necessidade de ter tudo sobre controle. Talvez a sua verdadeira dificuldade seja usufruir a vida com mais liberdade, aproveitando as incertezas que ela apresenta;
  3. Observe seus pensamentos e emoções diante das situações para identificar todas variáveis das circunstâncias que costuma tentar controlar. Muitas vezes as pessoas exercem o hábito de tentar controlar tudo e todos de forma tão automática que nem percebem o que estão fazendo;
  4. Repare em seus sentimentos. Pessoas que almejam dominar todas as situações vivem um dilema interno consigo mesmas, pois estão sempre frustradas por não terem suas expectativas atendidas. Mau humor, irritabilidade excessiva e estresse elevado são alguns sinais de que está passando dos limites;
  5. Invista no autoconhecimento. Ele vai permitir um melhor gerenciamento de seus sentimentos, pensamentos, emoções e ações. Além disso, ao se perceber com mais clareza você vai ter mais claro o que está fora do seu alcance e, assim, deixar de empregar energia em algo que não trará resultado;
  6. Aceite suas deficiências e fortaleça suas qualidades, aprendendo a ressignificar seus próprios resultados;
  7. Permita-se e ouse experimentar a sensação do descontrole de vez em quando. Por mais desconfortável e assustador que isso possa parecer, é possível iniciar um processo adaptativo até que consiga administrar melhor os gatilhos que o deixam vulnerável às adversidades.

Fontes: Andréa Ladislau, psicanalista, do Rio de Janeiro (RJ); Marcelo Lábaki Agostinho, psicólogo clínico do IP-USP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo); Priscilla Brandi Gomes Godoy, psicóloga e neuropsicóloga da da Unidade Campo Belo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo (SP); Silvia Cury Ismael, gerente de psicologia do HCor (Hospital do Coração), em São Paulo (SP).

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