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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Os mistérios da covid-19 ainda não solucionados pela ciência

Imagem: Arte UOL

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

12/06/2020 11h00

No ritmo acelerado com o qual a pandemia do novo coronavírus se espalha, médicos e cientistas do mundo todo focam seus esforços em buscar tratamentos, maneiras de prevenção, em descobrir como a doença afeta diferentes partes do corpo e por que é mais grave em algumas pessoas.

Apesar da corrida em tempo recorde para a publicação de estudos e criação de vacinas, passados seis meses desde o surgimento da doença, ainda existem grandes lacunas no conhecimento científico sobre o vírus, cujas respostas podem mudar a forma como encaramos a covid-19.

Imunidade

Embora muitas pessoas já recuperadas da covid-19 imaginem que não há chances de serem infectadas pelo vírus novamente quando recebem o resultado positivo do teste rápido que detecta anticorpos, o exame não garante que o indivíduo desenvolveu imunidade.

"Na verdade, ele só comprova que você já foi infectado uma vez. O teste não é totalmente confiável e um dos motivos é justamente a maneira como é feito", afirma Orlando Ferreira, professor e pesquisador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

De acordo com Ferreira, o teste sorológico procura por um anticorpo que funcionaria contra determinada proteína do vírus. E existem várias: algumas ficam na superfície e outras na parte de dentro, protegidas pela membrana.

"O problema é que cada teste procura por uma determinada proteína. A que consideramos mais provável de ser a responsável pela entrada do vírus na célula é a proteína S, mas nem todos a identificam, muitos procuram por proteínas no interior do vírus. Além disso, aqui no Brasil, com a maioria dos testes, não sabemos qual tipo de anticorpo está sendo buscado no exame", indica.

Apesar de muitos cientistas apontarem que é provável que os pacientes desenvolvam, sim, a imunidade, pelo modo de ação de outros vírus, ainda há incertezas como o tempo que esse efeito duraria e o que aconteceria em caso de mutação do vírus.

Imagem: iStock

Jovens e crianças muito doentes

A morte de pessoas jovens e aparentemente saudáveis —sem comorbidades associadas— é outro mistério ainda corrente, mas os cientistas já têm algumas teorias.

De acordo com especialistas, uma das possibilidades seria a presença acentuada do gene ACE-2 no DNA dos pacientes, já que ele funciona como um receptor molecular —uma "porta de entrada" do vírus nas células. A teoria aponta que, se seu código genético for "premiado" com essa alteração que facilita a entrada dos vírus nas células, as chances de desenvolver um quadro grave da covid-19 seria maior, inclusive nas crianças.

Outra hipótese seria uma reação exagerada do sistema imunológico. Quando várias células já estão infectadas, seu próprio sistema imunológico, que serve para protegê-lo contra vírus e bactérias, pode oferecer risco. O novo coronavírus (Sars-CoV-2) pode infectar algumas das células de defesa e fazer com que elas entrem uma luta desproporcional no organismo.

Confusos com a infecção do vírus, neutrófilos e linfócitos T citotóxicos, importantes células de defesa, podem entrar em atividade exaltada, combatendo tanto o inimigo quanto outras células saudáveis —prejudicando a defesa e causando danos a tecidos saudáveis.

Embora não se saiba ao certo o porquê dessa reação exagerada acontecer em algumas pessoas e em outras não, a ciência já oferece algumas teorias apresentadas em um estudo.

Imagem: Andre Coelho/Getty Images

Coagulação do sangue

Há alguns meses, médicos passaram a notar que o risco aumentado para a formação de coágulos e tromboses tem sido cada vez mais frequente especialmente em pacientes que evoluem para a forma grave da covid-19. O quadro é capaz de prejudicar diferentes órgãos.

Assim como no caso dos jovens, as principais teorias apontam o gene ACE-2 e a tempestade inflamatória como possíveis culpados.

Os receptores genéticos são geralmente encontrados no endotélio —uma espécie de tecido que reveste vasos sanguíneos (como artérias e veias) e a parte interna do coração, e que tem influência no controle da coagulação do sangue.

"Isso explicaria também a presença de microtrombos [pequenos coágulos] encontrados nos pulmões após autópsia em alguns pacientes italianos que não resistiram à doença, já que o ACE-2 está mais presente principalmente no pulmão e nos vasos cardíacos", opina Pedro Silvio Farsky, cardiologista do Hospital Albert Einstein.

Uma das respostas ao processo inflamatório é justamente o aumento da coagulação no sangue. Como na covid-19 alguns pacientes apresentam uma produção excessiva dessas citocinas, isso explicaria a alta taxa de coagulação.

Imagem: iStock

Carga viral

Não se sabe exatamente a quantidade de vírus que é necessária para infectar alguém. Mas, de acordo com pesquisadores, quanta mais alta é a concentração do vírus, maior é a chance de gravidade de qualquer doença e mais provável que o paciente seja altamente contagioso.

"Quanto mais vírus houver dentro de mim, maior a probabilidade de transmiti-lo a você", explicou a professora Wendy Barclay, do Departamento de Doenças Infecciosas do Imperial College London, no programa Newsnight, da BBC.

A teoria indica que profissionais de saúde, que geralmente estão em contato próximo com pessoas infectadas, estão constantemente expostos a uma grande quantidade de vírus.

Prejuízo aos rins

Ainda não se sabe exatamente por que os rins são afetados, mas os médicos acreditam que o resultado seja multifatorial, e já há pistas. Assim como para outros mistérios, uma delas é que a tempestade inflamatória possa também afetar os órgãos que tem como função filtrar o sangue e eliminar toxinas, causando a nefrite (inflamação nos órgãos).

Também existe a possibilidade de ação direta do vírus nos rins —alguns relatos apontam que partículas do vírus já foram encontradas em células renais. Há ainda as alterações causadas pela trombose, que podem prejudicar a função de órgãos, e os efeitos hemodinâmicos, relacionados por drogas eventualmente necessárias e até a ventilação mecânica.

De acordo com especialistas, não é possível afirmar se as alterações nos rins acompanharão os pacientes quando eles se recuperarem da covid-19. A chance é maior dependendo de fatores como idade, se a pessoa já sofria de algum quadro renal, da gravidade da infecção e de quão lesionados foram os rins.

Imagem: Mailson Pignata/iStock

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