Topo

O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Confusão mental tem causas variadas e é mais comum em idosos

iStock
Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

23/08/2022 04h00

Para entender o que é estado confusional, antes é preciso lembrar o significado da palavra confundir, ou seja, misturar tudo desordenadamente, perder a clareza, atrapalhar-se com as palavras. Assim, toda mudança relacionada à atenção, consciência, entendimento, resposta a estímulos e desorientação quanto ao tempo e ao espaço é considerada confusão mental, o que é chamado pelos médicos de delirium.

O sintoma pode se manifestar em qualquer pessoa, mas é mais frequente entre idosos, especialmente os hospitalizados, e pode decorrer de qualquer tipo de desequilíbrio orgânico como uma febre ou infecção urinária, e até situações mais graves como um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Até o momento não existe um tratamento específico para a confusão mental e, geralmente, as estratégias de controle de sua manifestação se resumem na adoção de medidas preventivas —como o monitoramento de pacientes vulneráveis e o controle de doenças crônicas.

Em casos específicos, quando o sintoma se associa à agitação e coloca em risco a vida do paciente e de outras pessoas, podem ser indicados medicamentos calmantes.

Entenda o que é confusão mental

Trata-se de uma mudança nos estados de atenção, consciência e cognição no qual se observa a redução da capacidade de manter o foco, pensar, entender, lembrar, responder a algum tipo de estímulo, o que também leva a uma desorientação em termos de tempo e espaço.

Por que isso acontece?

Esse sintoma está relacionado a todo tipo de estresse que possa alterar o equilíbrio orgânico de pessoas vulneráveis, como os idosos, pessoas com doenças crônicas ou que pratiquem a automedicação. Assim, o estado confusional pode ser o resultado de diferentes situações, como as que você vê a seguir:

  • Intoxicação alcoólica ou por drogas
  • Uso de vários medicamentos ao mesmo tempo (polifarmácia)
  • Uso crônico de medicamentos (sedativos, ansiolíticos, opioides)
  • Tumor cerebral
  • Ferimentos ou lesões na cabeça
  • Febre
  • Desequilíbrio nos níveis de sódio, potássio, cálcio etc. (desequilíbrio eletrolítico)
  • Desidratação
  • Perda das funções cerebrais (entre pessoas de idade avançada)
  • AVC
  • Infecções (urinária ou respiratória, por exemplo)
  • Falta de sono de qualidade
  • Baixas ou altas taxas de açúcar no sangue (hipoglicemia e hiperglicemia)
  • Baixo nível de oxigenação
  • Queda rápida da temperatura corporal
  • Convulsão
  • Falência renal, hepática ou cardiorrespiratória
  • Má nutrição
  • Perda da visão
  • Depressão
  • Cirurgia
  • Septicemia

Pode haver alguma relação com a covid?

Sim. Para além do seu efeito inflamatório intenso, que envolve o SNC (Sistema Nervoso Central), a covid pode levar à baixa oxigenação e alterações na pressão. Todos esses fatores, juntos, têm o potencial de ter como resultado a confusão mental, especialmente entre pacientes idosos. A explicação é de Raphael Ribeiro Spera, neurologista e médico-assistente do setor do pronto-socorro da divisão de clínica neurológica do HC-FMUSP.

O quadro é ainda mais frequente quando há necessidade de cuidados intensivos.

Saiba como reconhecer os sintomas

Na maioria das vezes, a confusão aparece de repente (é aguda) e evolui em poucos dias. Pode apresentar-se de forma mais lenta ou modificar-se ao longo do dia, o que pode levar à percepção de que houve melhora.

Problemas de saúde como o AVC, a epilepsia, convulsões, alterações das funções renais, Alzheimer e outras formas de demência estão relacionados ao sintoma. Nesses casos, porém, a confusão tende a durar no tempo.

As manifestações mais comuns da confusão mental são:

  • Dificuldade de pensar de forma clara
  • Falta de compreensão sobre o que está acontecendo à volta
  • Incerteza quanto à data e ao horário atuais
  • Frustração
  • Agressividade
  • Mudanças rápidas de humor
  • Comportamentos atípicos
  • Ansiedade

Quem precisa ficar atento?

O sintoma pode se manifestar em qualquer pessoa, mas é mais comum nos extremos da vida. Além disso, algumas condições podem facilitar o seu aparecimento. Confira algumas delas:

  • Ter idade superior a 70 anos
  • Demência
  • Ser do gênero masculino
  • Ter dificuldades de visão ou auditivas
  • Perda cognitiva moderada
  • Abuso de álcool
  • Uso de determinados medicamentos (psicoativos, antialérgicos)
  • Efeito colateral de fármaco
  • Hospitalização
  • Anestesia
  • Cirurgia
  • Exacerbação de doença crônica
  • Infecções

Quando é a hora de procurar ajuda médica?

De acordo com o psiquiatra Alcion Sponholz Junior, médico assistente do HCFMRP-USP, a princípio, o estado confusional já é um sinal de alerta, uma vez que é uma condição que não expressa a causa em si, mas decorre de alguma desordem que acomete o funcionamento cerebral ou o organismo como um todo.

"Assim, sempre que identificado um estado de confusão mental, é necessária uma avaliação médica", acrescenta o especialista.

Na maioria das vezes, as pessoas que apresentam esse sintoma são atendidas no serviço de emergência, por um generalista (clínico geral) que, posteriormente, fará os encaminhamentos a especialistas como o geriatra, o neurologista e o psiquiatra.

Como é feito o diagnóstico?

Na hora da consulta, o médico solicitará informações sobre a queixa do paciente, seu histórico de saúde e fará o exame físico. "Um dado importante que deve ser levantado pelo profissional se relaciona ao uso de medicamentos. Portanto, é preciso ter em mãos os nomes dos eventuais fármacos utilizados", explica o geriatra Arnaldo Aires Peixoto Junior, do HUWC-UFC.

O médico esclarece que não existe um exame específico para diagnosticar a confusão mental e, para investigar as possíveis causas do sintoma, devem ser requisitados exames laboratoriais e de imagem (como radiografia do tórax, tomografia do crânio etc.) que ajudem a identificar as possíveis causas desse quadro.

Saiba como é feito o tratamento

Como não existe um medicamento para o tratamento do sintoma, as estratégias terapêuticas para o controle dele se baseiam —principalmente— em iniciativas não farmacológicas, como práticas de prevenção. Estas incluem ter maior atenção com pacientes cujos fatores de risco facilitam a confusão mental, especialmente os hospitalizados e os de idade avançada que tenham doenças crônicas ou infecções —que devem ser tratadas e controladas.

Outra medida preventiva é estar atento aos efeitos de mudanças de medicamentos de uso contínuo, ou mesmo de remédios que tenham na lista de efeitos colaterais a confusão mental. Além disso, são recomendadas providências que reduzam todo tipo de distúrbio ambiental, bem como a promoção de higiene do sono.

Em algumas circunstâncias específicas, o médico poderá considerar o uso de medicamentos. Este é o caso de pessoas cuja confusão mental possa levar a comportamentos que coloquem em risco a própria vida do paciente ou as pessoas à sua volta.

Dá para prevenir?

Sim, especialmente se você não tem idade avançada. Para evitar sentir-se confuso, adote as seguintes medidas preventivas:

  • Evite o abuso de álcool ou drogas
  • Adote uma dieta equilibrada para garantir o consumo de nutrientes que seu corpo precisa
  • Mantenha sob controle doenças crônicas como o diabetes
  • Organize o tempo para o descanso e invista na qualidade do sono
  • Evite a automedicação
  • Esteja atento às doses das medicações indicadas pelo médico, bem como ao tempo sugerido de tratamento.

Dicas para quem cuida de pessoas com esse sintoma

Alguns indivíduos podem apresentar confusão mental por longo tempo. Recomenda-se aos encarregados de seus cuidados que adotem algumas práticas para garantir-lhes dignidade e ainda facilitar comunicação e orientação. Confira:

  • Apresente-se para a pessoa toda a vez que for falar com ela caso ela não seja capaz de lembrar quem é você
  • Converse com ela sobre assuntos do dia a dia
  • Explique quem são as outras pessoas da casa ou do ambiente em que estejam
  • Ajude-a a orientar-se com o tempo. Você pode dizer que determinada situação acontecerá após o café da manhã, o almoço ou o jantar
  • Estimule-a a ver TV, pintar, brincar com jogos de memória
  • Andar e exercitar-se suavemente devem ser encorajados, desde que haja espaço para o relaxamento e descanso posterior
  • Ajude-a nos cuidados pessoais como ir ao banheiro, banhar-se e vestir-se
  • Prefira oferecer alimentos nutritivos, reduzindo a oferta de sódio, açúcar e produtos processados. Deve ser considerada a condição de deglutição, a cultura alimentar e suas necessidades nutricionais. Algumas pessoas necessitarão ser assistidas no momento da alimentação para garantir ingestão adequada de alimentos
  • Garanta hidratação adequada
  • Mantenha o ambiente confortável, se possível com controle de temperatura, e iluminado o bastante para prevenir quedas
  • Deixe à vista relógio e calendário para ajudá-los na orientação de tempo e espaço
  • Providencie que óculos e aparelhos auditivos estejam disponíveis
  • Garanta que alguns objetos pessoais como fotografias, cobertor e travesseiro possam ser levados para o local onde a pessoa for transferida para cuidados. Esses itens familiares trazem conforto a ela.

Fontes: Alcion Sponholz Junior, psiquiatra e médico assistente do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Arnaldo Aires Peixoto Junior, geriatra do HUWC-UFC (Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará), vinculado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), professor adjunto do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da mesma instituição; Raphael Ribeiro Spera, neurologista e médico-assistente do setor do pronto-socorro da divisão de clínica neurológica do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), membro colaborador do GNCC (Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento) da mesma instituição; é ainda membro titular da ABN (Academia Brasileira de Neurologia). Revisores médicos: Alcion Sponholz Junior e Arnaldo Peixoto Junior.

Referências: Ramírez Echeverría MdL, Schoo C, Paul M. Delirium. [Atualizado em 2022 Jun 11]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470399/; Bates, D., & Bates, C. (2013). Confusion and delirium. Medicine, 41(3), 151-154. doi:10.1016/j.mpmed.2013.01.002. Disponível em https://bit.ly/3dvLXlg.