Topo

Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Maconha e alucinógenos atingem recorde inédito nos EUA

iStock
Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

27/08/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A nova edição da pesquisa Monitorando o Futuro, investigação anual de uso de drogas nos EUA, realizada pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH) e pelo Instituto Nacional de Abuso de Substâncias (NIDA), mostra que o uso de maconha e de substâncias psicodélicas entre adultos jovens, na faixa dos 19 aos 30 anos, atingiu seu índice histórico mais alto em 2021.

O resultado do estudo foi tema de matéria do jornal The New York Times nessa semana. O uso de maconha, substâncias alucinógenas, álcool e cigarros eletrônicos subiu no último ano, depois de uma certa estabilização durante a fase mais aguda da pandemia de covid-19.

Em contrapartida, os dados revelam números animadores, como uma queda consistente do uso de cigarro convencional e de opioides, tendência que já vinha sendo percebida em pesquisas anteriores.

Os achados apontam algumas questões importantes: o impacto da pandemia na saúde mental dessa faixa etária, que se reflete no maior consumo de diversos psicotrópicos, a ampla disponibilidade de maconha no país e o uso crescente de substâncias psicodélicas para tratar condições como depressão, ansiedade, síndrome de estresse pós-traumático, entre outras condições.

Confira alguns dos dados mais significativos:

Maconha

43% dos adultos jovens usaram maconha nos últimos 12 meses antes da entrevista. Esse índice era de 34% em 2016 e de 29% em 2011. O uso diário de maconha (20 vezes ou mais nos últimos 30 dias) atingiu 11% dos entrevistados, contra 8% em 2016 e 6% em 2011. No grupo de adultos mais velhos, de 30 a 50 anos, o consumo também aumentou, mas em números menores. Os índices mais altos coincidem com a legalização de maconha para uso recreacional na última década em 19 estados americanos; já outros 13 permitem seu uso medicinal. Essas mudanças podem ter feito com que os consumidores enxergassem menos riscos no consumo da substância.

Alucinógenos

Um efeito semelhante estaria acontecendo com os alucinógenos. De uma situação de estabilidade por muitas décadas, houve um aumento significativo de seu uso de 3% para 8%, no intervalo de 2011 para 2021, coincidindo com aumento da divulgação na mídia e nas redes sociais do uso terapêutico de psicodélicos para tratar uma série de condições psiquiátricas e comportamentais. Aumentou o consumo de LSD (ácido lisérgico), mescalina (do cacto peiote), cetamina, psilocibina (cogumelos) e PCP. MDMA (ecstasy) foi a única substância desse grupo que teve uma queda em seu uso na década 2011-2021. Com o uso mais difundido do uso terapêutico dos psicodélicos, mais gente estaria recorrendo também a seu uso social.

Vaporização

O uso de "vapers" (cigarros eletrônicos) no mês anterior à pesquisa saltou de 6% em 2017 para 16% em 2021, depois de uma tendência de estabilização no primeiro ano da pandemia. Vaporizar maconha também atingiu recorde importante, aumentando de 6% em 2017 para 12% em 2021. Importante lembrar que muitas das preparações para vaporização de maconha têm índices muito elevados de THC (o princípio ativo que dá o "barato" da maconha). Algumas deles atingem níveis de até 90%, o que aumenta muito o risco de dependência, intoxicações, quadros psicóticos e crises de ansiedade.

Álcool

O álcool continua como a droga mais consumida. O padrão de "binge drinking" (tomar mais de cinco doses em sequência) nas últimas duas semanas voltou a níveis de antes da pandemia, com 32% dos entrevistados reportando esse padrão de consumo. O uso pesado (alta intensidade), definido como 10 doses em sequência nas últimas duas semanas também aumentou de 11% em 2005 para 13% em 2021. Já os padrões de uso diário de álcool e de uso nos últimos 30 dias seguem em discreta tendência de queda entre os adultos jovens na última década.

Psilocibina contra consumo excessivo de álcool?

Ainda na área dos alucinógenos, um pequeno estudo com 93 pacientes, publicado no JAMA Psychiatry na última semana, pode dar pistas sobre uma nova possibilidade terapêutica para pacientes que lutam com problema do consumo excessivo de álcool.

Apenas duas doses da substância psicodélica combinadas com 12 sessões de psicoterapia levaram a um declínio de 83% dos episódios de uso pesado de álcool. Já uma substância placebo combinada com as mesmas sessões de terapia reduziu em apenas 51% os episódios. A dose da psilocibina foi calculada com base no peso do paciente.

Depois de oito meses do estudo, metade dos que receberam psilocibina pararam de beber completamente, contra apenas um quarto dos que receberam placebo.

De acordo com matéria do The New York Times, 15 milhões de americanos têm problemas com consumo excessivo de bebida e 140 mil pessoas morrem a cada ano por causa do álcool.

O estudo, embora promissor, ainda é preliminar. Diversas pesquisas com essa substância e outras substâncias psicodélicas vêm sendo desenvolvidas, explorando seu possível potencial contra uma série de dependências a drogas, inclusive tabagismo. É esperar para ver os resultados!