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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Se o jovem usa menos camisinha, como pensar em prevenção?

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

16/07/2022 04h00

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O uso de camisinha entre os jovens recuou de forma importante em uma década, de acordo com novos dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta semana.

O levantamento avaliou o comportamento de jovens do 9º ano do ensino fundamental, que participaram da série histórica da PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) no período de 2009 a 2019, nas redes pública e privadas das capitais.

O uso de camisinha na última relação sexual caiu em uma década de 72,5% para 59%. Entre as garotas, a queda foi de 69,1% para 53,5% e, entre os garotos, de 74,1% para 62,8%.

O uso de métodos de prevenção de gravidez (inclui-se aí camisinha e pílula, por exemplo) também recuou no período de 79,6% para 69,6%. A redução de uso foi um pouco mais acentuada entre os alunos das escolas públicas do que entre os das escolas privadas.

Mais jovens já fizeram sexo

O 9º ano reúne 90% dos alunos de 13 a 15 anos, faixa de idade em que tem se iniciado a vida sexual da maioria dos adolescentes brasileiros. A pesquisa também revelou um crescimento do número de alunos desse ano que já haviam começado sua vida sexual, de 27,9% em 2009 para 28,5% em 2019. Entre as garotas, o número subiu de 16,9% para 22,6%; já entre garotos, caiu de 40,2% para 34,6%.

Em síntese, quase um quarto das garotas e um terço dos garotos de 13 a 15 anos já iniciaram sua vida sexual no Brasil de hoje. E mais de 40% deles não usa camisinha, sendo que o cenário é ainda mais crítico entre as meninas, já que mais da metade delas não utiliza esse método de proteção com regularidade.

Algumas questões podem ajudar a explicar essa queda: a menor presença de programas de educação sexual nas escolas na última década, o menor espaço que os preservativos têm ocupado no universo do jovem (redes socais, mídia, publicidade), o distanciamento dos jovens dos serviços de saúde e de informações sobre saúde sexual e prevenção de IST (infecções sexualmente transmissíveis), a resistência crescente que esse método de barreira encontra entre muitos jovens e a interdição do diálogo em muitas famílias sobre temas ligados à sexualidade.

A falha na adesão do jovem ao uso regular de camisinha não é uma novidade, mas pode ter atingido níveis mais elevados nessa geração que está mais distante das fases em que se focava mais em prevenção à gestação indesejada e às IST.

Resistência ao preservativo

Em um momento de descobertas e inseguranças que cercam o começo da vida sexual, muitos jovens podem enxergar a camisinha como um obstáculo a mais com que se preocupar, ao invés de perceber esse método como um cuidado a mais com a saúde e com a prevenção de uma gestação indesejada. Por isso, a importância de que esse tema seja melhor trabalhado em casa e em sala de aula.

Na geração de jovens mais conectada e impulsiva, em que muitos dos encontros sexuais são casuais e mediados por redes sociais e aplicativos de encontro, a sensação de estar com alguém que já se "conhece" traz uma falsa percepção de segurança, que pode se traduzir em um menor cuidado no momento do sexo.

Já que muitas estratégias comportamentais (como uso regular de camisinha) têm efeito limitado em alguns segmentos da população (jovens incluídos), é importante trabalhar com outras possibilidades de prevenção, como maior proximidade com os serviços de saúde, uso regular de pílula e de outros métodos contraceptivos e acesso facilitado à contracepção de emergência. No caso das IST, estratégias de prevenção combinada como testagens periódicas, PREP, PEP, vacinas e tratamentos das infecções podem ampliar a proteção.

Informação, diálogo, reforço da importância da proteção e ampliação do uso de métodos farmacológicos pode ajudar esses jovens a atravessar essa fase de descobertas de uma forma mais segura, menos sujeita a angústias e preocupações com sua saúde.