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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Volta ao trabalho presencial: você está emocionalmente bem?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

25/04/2022 03h57

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Nas últimas semanas, milhões de brasileiros retornaram ao trabalho predominantemente presencial e muitos têm enfrentado situações complexas do ponto de vista emocional. De um lado a felicidade de voltar, do outro, inseguranças, tensões e perdas.

Depois de quase dois anos em casa, a parcela da população que teve o privilégio de trabalhar à distância começou a ter que enfrentar uma nova rotina, que inclui deslocamentos de ida e volta ao trabalho, longas jornadas dentro da empresa e muitas interações sociais nos intervalos do café e do almoço. Isso tudo é bom ou ruim? Depende....

Para quem não aguentava mais ter que misturar trabalho, cuidados com os filhos, tarefas domésticas e lazer no mesmo cenário, longe de tudo e de todos, ter que sair de casa criou uma nova dinâmica no cotidiano. É bom ver novamente a vida acontecendo à nossa volta, mas obstáculos variados como o tráfego pesado das grandes cidades, o preço exorbitante da gasolina e o tempo perdido com transporte (que poderia estar sendo usado para outros fins) incomodam!

Contratempos do retorno

É legal estar com os colegas, trabalhar em equipe e jogar conversa fora nas pausas. Só que ter que se "produzir" todos os dias, lidar com as incertezas do olhar do outro sobre nossa aparência (já que mudamos nesse período de isolamento), não ter mais independência para controlar nosso tempo e nossas atividades, entre outros contratempos, acabam pesando na rotina de quem estava à vontade em casa, indo ao banheiro em paz, abrindo a câmera só quando absolutamente necessário, entre outras tantas regalias proporcionadas pelo trabalho remoto.

Um estudo feito no ano passado com 2.900 pessoas pela consultoria internacional Mackinsey mostrava que 33% dos trabalhadores que tiveram que voltar ao trabalho presencial disseram que esse retorno afetou negativamente a saúde mental.

A ansiedade está a toda nessa nova realidade. Essa volta está deixando muita gente tensa e com dificuldade de medir com precisão seu sofrimento e suas dificuldades, bem como de imaginar com os outros à sua volta estão se sentindo. Assim, o ambiente de trabalho pode ficar mais difícil e questões práticas e corriqueiras de andamento de processos e de relacionamento pessoal podem se complicar. Esse é o tema de um artigo recente do jornal The New York Times, que avalia a volta dos americanos ao ambiente de trabalho.

Desafio adicional

Muitos líderes estão se deparando com o desafio adicional de ter de lidar com as dificuldades emocionais enfrentadas pelos seus colaboradores, muitas vezes sem estar preparados para isso —ou tendo que trabalhar suas próprias dores pessoais.

E o que pode ser feito para facilitar essa situação nas empresas? Esquemas mais flexíveis de retorno (volta quem quer e a própria pessoa define quantos dias ela pode estar presente), mais momentos de descontração durante o dia, cobranças de desempenho mais realistas, jornadas mais curtas, suporte em saúde mental (dentro da empresa ou terceirizado), workshops e momentos de troca de experiência entre os supervisores em que se discute como lidar com esse novo cenário são alguns dos caminhos possíveis.

De uma maneira geral, entender que esse é um momento particularmente desafiador para todos na empresa e abrir espaço para que o ambiente de trabalho seja mais empático e aberto às questões de saúde mental são estratégias que facilitam muita a vida de quem enfrenta dificuldades. É importante saber que no ambiente de trabalho posso falar coisas que vão além de metas, produtividade e prazos, e que posso ser acolhido ao tratar de temas mais íntimos e pessoais como ansiedade, inseguranças e emoções que me atrapalham. Se isso fosse uma realidade hoje nas empresas, esse retorno seria muito mais humano e tranquilo para todos.