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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Volta às aulas gera turbilhão de emoções

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

18/02/2022 04h00

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Fevereiro chegou cheio de emoção para milhões de adolescentes brasileiros. Quase dois anos depois de uma reclusão "forçada" devido à pandemia, o retorno 100% presencial às salas de aula tem gerado altos e baixos no humor e na expectativa deles. Se eles sofrem, os pais também experimentam, por tabela, essas oscilações.

Muitos jovens já tiveram a oportunidade de voltar para a escola no segundo semestre do ano passado, mas na maioria das vezes o sistema híbrido e o "vai e vem" para casa, por conta dos colegas que positivavam para a covid-19, acabaram não validando o processo interno desse "retorno total".

Agora é a hora! Com professores e alunos já vacinados (ao menos deveriam estar), a experiência da volta tende a ser, dessa vez, mais segura e definitiva, apesar de a onda da variante ômicron, que ainda segue firme por aqui.

Uma matéria da Folha de S.Paulo dessa semana ilustrou bem as perdas que muitos adolescentes sofreram nesses últimos anos.

E tem de tudo! Gente que mudou de escola e ainda não conhece os colegas; quem acabou o ensino fundamental ou o médio sem se despedir de amigos e professores; jovem que não está conseguindo lidar com a rotina de voltar a acordar cedo, entre outros aspectos.

Alívio x apreensão

De um lado, a volta está sendo encarada com alívio por reencontrar amigos, entender melhor o que se passa no mundo, ter um ensino de melhor qualidade, mudar de cenário (poder sair de casa todos os dias), ganhar mais autonomia e liberdade por não estar o tempo todo "vigiado" pelos pais, além, claro, da possibilidade de reencontrar "ficantes" potenciais e, finalmente, retomar a vida afetiva e até a sexual.

Do outro lado, há medo de se infectar, preguiça de ter que sair de casa e assistir a aulas todos os dias, vergonha da aparência e do corpo (adolescentes mudam muito fisicamente em dois anos e os amigos não acompanharam boa parte esse processo), receio de ter que se expor na frente dos outros (habilidades sociais não treinadas podem regredir, ainda mais nessa fase da vida), dificuldade de entender o que os professores explicam pelas perdas acumuladas na qualidade do seu aprendizado, entre outros "poréns".

Esse choque de desejos e medos acaba dando força para as oscilações emocionais que muitos pais devem estar percebendo em casa. E quem convive com adolescentes sabe que, quando eles oscilam, a casa inteira balança. Os pais experimentam, então, um misto de "respiro" por terem mais tempo para eles próprios e por verem os jovens de volta à rotina habitual, junto a uma "falta de fôlego" pela angústia e preocupação de acompanhar as dificuldades de seus filhos.

Novo ensino médio

Para complicar um pouco a vida dos que estão voltando ao ensino médio, esse é o ano em que as mudanças começam a valer para os alunos do primeiro ano. Itinerários formativos, projeto de vida, novas áreas de conhecimento, entre outras mudanças, vão se somar a disciplinas tradicionais e obrigatórias, como português e matemática. A escola respira novidades em um momento de retorno ainda conturbado. Em ano de eleição geral e fortes polarizações no horizonte, a vida dos alunos e professores não deve ser das mais fáceis.

A boa notícia é que os jovens (e os pais, claro) precisavam desse retorno. A escola, para além de um espaço formal de aprendizado, é o local em que o jovem convive boa parte do seu tempo com os pares. Essa interação é central nesse momento da vida em que eles precisam do outro para se entender melhor e para achar seu lugar no mundo.

Apesar das dificuldades emocionais e das eventuais perdas de habilidades cognitivas e sociais acumuladas nesses últimos dois anos, a capacidade que eles têm de se reinventar, de se superar e descobrir novos caminhos é quase infinita. Dessa forma, por mais tortuoso e oscilante que seja esse reinício para eles, em alguns meses um novo equilíbrio entrará em cena. Um pouco instável, claro, mas, em se tratando de adolescentes, uma oscilação dentro dos parâmetros esperados. O papel da escola e dos pais nesse momento é acolher, escutar e dar a atenção e o espaço que eles precisam e querem.