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'Geração do quarto': como lidar com filhos quase isolados?

Imagem: martin-dm/Getty Images/iStockphoto

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, em São Paulo

21/10/2022 07h00Atualizada em 23/10/2022 18h24

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Se você tá preocupada com o adolescente que vive enfurnado no quarto ao lado, não está sozinha. Hugo Monteiro Ferreira, que é doutor em educação e pesquisa a saúde emocional e mental de crianças, adolescente e jovens, cansou de ouvir a cantilena de pais que procuravam por ele ao fim das palestras que dá - "Não é só o isolamento, meu filho não socializa nem conversa com ninguém", reclamam.

Daí ele foi pesquisar o assunto: conversou com 3.115 meninos e meninas entre 11 e 18 anos, de cinco capitais brasileiras - três no Nordeste e duas no Sudeste. Levou um susto: o que viu foram jovens com saúde mental abalada, comportamentos autodestrutivos e doenças como ansiedade e depressão. Ele conta os resultados no livro "A geração do quarto" (Ed. Record).

Por que isso está acontecendo? O escritor explica que as razões para a geração do quarto existir são muitas. Mas, apesar de classificar as motivações como uma rede complexa, ele destaca algumas causas: falta de escuta, abundância de violência, insensatez na criação e até mesmo uma resposta aos delírios adultos. "Esse refúgio no quarto é um grito de socorro, algo como: 'Nós não aguentamos mais'. Ou mudam o percurso, ou o curso das vidas desses jovens não será saudável", explica Hugo.

Livro "A Geração do Quarto" Imagem: Divulgação

É preciso ficar alerta quando o "lockdown" ultrapassa as seis horas diárias, combina uso excessivo de tecnologia e noites maldormidas. "O resultado é um comprometimento importante do desenvolvimento emocional, cognitivo e físico", explicou a psicóloga Caroline Mayumi, do Hospital Santa Catarina.

Tá, mas o que se pode fazer por eles? Primeiro, observar e escutar. "Queixas de sentir-se incompreendido ou injustiçado e irritabilidade podem ser prenúncios de problemas", avisa o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, presidente do comitê de adolescência da Associação Paulista de Medicina. A propósito: escutar é diferente de simplesmente esperar o outro terminar de falar.

Se a coisa ainda não está tão feia, tem que se criar um ambiente em que o jovem se sinta acolhido - criar um vínculo de confiança, sabe? Tente encontrar algo de que seu filho gosta pra se aproximar e tentar construir bons momentos juntos (não vale forçar a barra, que adolescente saca os fakes bem rapidinho). Mas se você acha que não tem entrada nenhuma, não tem jeito: tem que buscar auxílio do psiquiatra ou psicólogo.

Como ficar mais próximo do meu filho, sem perder a firmeza?

Bom, você vai ter que criar técnicas de aproximação. Regras, educação e limites são primordiais para a criação dos filhos, mas brigar pode aumentar a distância. Por isso, vale pensar em como seria diferente perguntar como aquele adolescente está antes de partir pro ataque. "Questione-se: as proibições estão relacionadas às regras e valores que os pais acreditam serem importantes? Escute seu filho e explique para ele os motivos das proibições", indica Caroline, que observa a importância de praticar a empatia familiar.

Essa geração tem futuro? O Hugo, que cravou o termo Geração do Quarto, diz que não é que esses jovens sejam mais frágeis que os demais. Garante que eles têm muito a ensinar, sobretudo a respeito do amor. "É uma geração menos preconceituosa, mais plural no âmbito do gênero, da orientação sexual, mais combativa ao racismo, mais lúcida quanto aos direitos das mulheres, muito consciente sobre a ecologia e antenada a uma vida mais livre", descreve o professor.

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