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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como mulheres divergentes se uniram por democracia e por que estou com elas

A deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), o ex-presidente Lula (PT) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) em ato da campanha petista - Ricardo Stuckert
A deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), o ex-presidente Lula (PT) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) em ato da campanha petista Imagem: Ricardo Stuckert

Colunista de Universa

27/10/2022 04h00

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É indiscutível que as mulheres se tornaram centrais nessas eleições presidenciais e, na minha opinião isso foi impulsionado pela misoginia histórica e recorrente de Jair Bolsonaro (PL), que encontrou pelo caminho aquelas que simplesmente não aceitam mais esse tipo de comportamento. O movimento social organizado de mulheres é uma realidade, e é dele que advém a indignação e a capacidade de resposta ao ódio que mobilizou mulheres divergentes entre si em torno da candidatura de Lula.

Algumas têm se destacado por sua atuação na chamada frente ampla democrática, encabeçada por Lula. Marina Silva (Rede-SP), por exemplo, deixou de lado discordâncias com o PT para trazer seu conhecimento da causa ambiental para a democracia brasileira. Marina pensa primeiro no Brasil e nas pessoas de todo o mundo aos nos lembrar diariamente que a floresta em pé e as águas limpas são questões de sobrevivência humana.

Outra mulher que ganhou notoriedade no segundo turno foi Tabata Amaral. Reeleita deputada federal por São Paulo pelo PSB, após desfiliação do PDT, ela se dedicou, assim como a deputada federal eleita Erika Hilton, a pressionar o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, para a garantia de gratuidade do transporte público no dia do segundo turno.

Embora Tabata tenha votado de forma divergente ao PT ao longo de seu primeiro mandato, como no caso da reforma da previdência, para a qual votou favoravelmente ao passo que congressistas do PT deram voto contrário, compreendeu que a preservação da qualidade de vida e dos direitos é essencial e, por isso, se somou à candidatura mesmo não concordando em todos os pontos com o partido do candidato da frente ampla, Lula.

E talvez a mulher divergente com maior relevância na campanha presidencial de Lula nesse segundo turno seja Simone Tebet (MDB-MS). Primeiro, porque foi concorrente direta dele no primeiro turno. Angariou quase cinco milhões votos, ficando em terceiro lugar, e não hesitou em declarar apoio explícito a Lula apenas três dias após o primeiro turno.

Simone definitivamente não tinha alinhamento com PT, tendo, inclusive, votado favoravelmente ao processo que removeu a presidenta Dilma Rousseff da presidência. Também votou a favor da reforma da previdência e da reforma trabalhista e defendeu interesses do agronegócio que impactaram negativamente na vida dos povos indígenas, além de ter sido favorável à redução dos investimentos públicos, o chamado teto de gastos.

Mesmo diante dessas grandes discordâncias, Simone soube seguir os ensinamentos de Paulo Freire sobre precisarmos estar junto com divergentes para vencer os antagônicos. E sua responsabilidade já surte efeitos concretos, pois as pesquisas revelam que 70% do seu eleitorado migrou o voto para Lula no segundo turno, índice que ainda pode aumentar.

Todas essas mulheres, assim como eu, sabem que a vitória de Lula é a vitória da democracia, da Constituição, das instituições, do fim da fome, de uma vida melhor para todas as pessoas, especialmente para as mais vulneráveis, da educação e da alegria, além de ser uma derrota do ódio, do terrorismo e de um irresponsável que só pensa em si e na sua família e que sente felicidade na tristeza do povo brasileiro.

Na vida, não convivemos só com pessoas que concordam 100% conosco. Você não tem discordâncias com sua esposa ou marido, com seus filhos e filhas, com seus colegas de trabalho, com sua chefia? Tenho certeza que sim! E tenho certeza de que as soluções que você dá para essas divergências não é brigar com todo mundo e se isolar nas suas convicções mas, sim, tentar conversar para chegar a um meio de caminho em que cada um cede um pouco para que a vida continue.

Política é isso também. É ter calma para compreender que ninguém é perfeito, que todas as pessoas trarão ideias para a mesa e que todas que têm como objetivo cuidar do Brasil, preservar direitos e construir uma vida melhor para o povo são bem-vindas.