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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tarcísio lavar as mãos após ataque de Douglas Garcia é clássico machista

Colunista do UOL

15/09/2022 04h00

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Mais uma vez, mulheres são agredidas em público pelo bolsonarismo. A vereadora Cleres Revelante (PT), de Salto do Jacuí, no Rio Grande do Sul, teve seu carro atingido por um bolsonarista a bordo de sua caminhonete, que escolheu atingir, pela traseira, o carro dela. Ao ser flagrado e perseguido pela polícia, acelerou, capotou o carro e morreu. Além desse caso, no último dia 13, a jornalista Vera Magalhães foi assediada e acossada pelo deputado estadual de São Paulo Douglas Garcia (Republicanos), no debate ao governo do estado de São Paulo promovido pela TV Cultural, UOL e Folha.

O método de assédio aplicado pelo deputado bolsonarista já é conhecido: liga a câmera de vídeo do celular apontando-a para a vítima, que se vê, absolutamente do nada, sendo xingada e intimidada com mentiras. A intenção é obter algum registro da pessoa assediada reagindo àquele trauma para montar vídeos falsos nos quais é afirmado que foi a vítima que agrediu. Baixo, vil e cruel.

Dessa vez, o final foi deliciosamente diferente. Diante da violência flagrante, o diretor de jornalismo da TV Cultura e apresentador do debate, Leão Serva, pega o celular da mão do agressor e o atira longe.

Um claro exercício do direito à legítima defesa, que é definida assim no Código Penal brasileiro: "Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem'. Vera estava sob injusta agressão, e Leão a defendeu de forma moderada —qualquer outro papo sobre esse assunto é balela.

Agora, o que chama a atenção é o fato de que o anfitrião de Douglas no debate, o candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos), simplesmente fingiu que não tem proximidade com o tal deputado que ele mesmo convidou para o debate. Ao se pronunciar sobre o ocorrido em suas redes, Tarcísio fala do episódio nomeando a vítima, mas convenientemente deixou de mencionar o agressor, seu convite ao agressor, a foto que fizeram abraçadinhos no mesmo debate e o fato de que ambos são do mesmo partido.

Essa postura de Tarcísio é um clássico machista. É evidente que sempre soube, sim, quem era Douglas, seus métodos de assédio e intimidação. Afinal, o tem em sua base aliada para as eleições de 2022. É realmente debochar da nossa cara, a essa altura do campeonato, querer que a gente acredite nesse papo furado de que o candidato ao governo do Estado de São Paulo não conhece seus aliados e suas práticas de ódio às mulheres que todo mundo vê.

Todo homem conhece um homem agressor, ainda que não saiba que ele é agressor. Quando a agressão vem a público, é claro que as pessoas esperam, e com razão, que os homens ao redor do agressor falem e façam alguma coisa, porque o silêncio é o combustível para a carreira de abusadores em série. Quando se faz alguma coisa, se ajuda a vítima; quando não se faz nada, o agressor que é apoiado.

Porém, na hora H, o que normalmente acontece é uma desavergonhada lavada de mãos. "Não, veja bem, eu nem o conheço muito, não somos próximos, nem sei bem quem ele é". A estratégia é óbvia, ainda mais se tratando de um candidato: se afastar de quem pode lhe trazer prejuízos.

Essa estratégia, porém, só serve ao agressor e aos homens que o apoiam, ainda que fingindo, momentaneamente, que não são aliados. Para a vítima atual e para as vítimas futuras, o que interessa é o que esse homem, amigo ou aliado do agressor, vai fazer.

Tarcísio poderia pedir apuração do partido, por exemplo. Mas prefere ficar na lenga-lenga isentona porque, no fundo, concorda com Douglas e vai precisar de aliados quando o cancelado da vez for ele. Uma mão de homem lava a outra mão de homem, com raríssimas exceções, como Leão Serva.