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Leilões e 2,3 mil TVs estocadas: os segredos de quem conserta TVs

Vilobaldo Almeida, que atua no mercado de assistência técnica de TVs em Salvador desde 1990 - Arquivo Pessoal/Vilobaldo Almeida
Vilobaldo Almeida, que atua no mercado de assistência técnica de TVs em Salvador desde 1990 Imagem: Arquivo Pessoal/Vilobaldo Almeida

Eduardo Bonjoch

Colaboração para Tilt, de São Paulo

20/06/2023 04h00

Quando a TV quebra, bate aquela dúvida: é melhor consertar ou comprar uma nova?

Se a decisão for pelo reparo, você pode ficar na mão por falta de peças, sobretudo se o modelo for mais velho. Para evitar a situação, especialistas em consertos possuem alguns truques, que dividiram com Tilt e podem fazer diferença no preço.

Segundo profissionais ouvidos pela reportagem, o reparo só vale a pena se o custo não ultrapassar 50% do valor de uma TV nova de mesmo tamanho e padrão.

No caso de televisores com mais de dez anos de fabricação que nem acessam a internet, considere, no máximo, de 30% a 40%, por conta da defasagem tecnológica
João Fernandes, que está no segmento de assistência técnica de TVs em São Paulo há 30 anos

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João Fernandes, que trabalha com assistência técnica de TVs em São Paulo há 30 anos
Imagem: Arquivo Pessoal/João Fernandes

Falta de peças: o que diz a lei?

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, o fabricante ou importador deve ofertar componentes de reposição durante "período razoável de tempo, na forma da lei", após cessada a produção ou importação do produto.

Segundo Renata Reis, assessora técnica do Procon-SP, o texto, aprovado em 1990, dá margem a várias interpretações e não é claro sobre o "período razoável". "A prática difundida no mercado é considerar a vida útil estimada da TV, que é de aproximadamente cinco anos", explica. A solução, diz, é pesquisar a informação no manual do produto, já que pode variar com o fabricante.

Como as assistências se viram?

É para consertar telas com mais de cinco anos de fabricação que a falta de peças vira um problema, que pode até impedir o reparo.

Sem placas novas para TVs antigas, o conserto das que estão com defeito acaba sendo a última tentativa da assistência técnica para restabelecer aparelhos.

Quando possuem acesso direto ao fabricante, as assistências técnicas autorizadas costumam ter um estoque maior de peças usadas em modelos fora de linha. Os itens podem até ser vendidos para outras oficinas.

Dependendo da cidade e região, existe também a troca de peças entre assistências técnicas independentes, organizada em grupos de WhatsApp.

Outra prática comum é o garimpo de peças na internet, de modo que a oficina vai construindo uma rede de fornecedores de confiança. Nesse ponto, o consumidor precisa ter cuidado: as peças do reparo nem sempre são novas e originais; isso deve ser levado em conta no orçamento.

Estoque próprio

tvs - Arquivo Pessoal/Rubem Oliveira - Arquivo Pessoal/Rubem Oliveira
Rubem Oliveira, técnico que atua há 40 anos no conserto de TVs em Porto Alegre (RS) e vende peças para todo o Brasil. Ele possui 2,3 mil televisores estocados
Imagem: Arquivo Pessoal/Rubem Oliveira

Alguns profissionais da área chegam a montar verdadeiros estoques próprios de componentes para evitar a recusa por falta de peças.

Comecei a comprar aparelhos com defeito há anos e hoje tenho cerca de 2,3 mil TVs em estoque e cerca de 800 placas, que foram removidas de aparelhos desmontados pela oficina
Rubem Oliveira, técnico que atua há 40 anos no ramo em Porto Alegre (RS) e vende peças para todo o Brasil

Segundo ele, boa parte do acervo veio de compras em leilões e de fornecedores da região que revendem TVs com defeito ou com a tela quebrada.

"Como os produtos são muito sensíveis, há vários casos em que a tela quebra no transporte ou em brincadeiras de criança, mas as placas e outros componentes continuam perfeitos", explica.

Mesmo assim, a tecnologia da TV pesa na hora do reparo. Por falta de peças, nenhuma das assistências consultadas pela reportagem, por exemplo, conserta televisores de tubo. A tela de plasma é outro problema.

Só encontro placas e componentes usados para poucos modelos [de TV de plasma], que ainda é possível consertar. Mas aviso o cliente que, por conta da escassez de itens, o custo é mais alto
Vilobaldo Almeida, que atua no mercado de assistência técnica de TVs em Salvador desde 1990

TVs duram cada vez menos

Um ponto é unânime entre os técnicos ouvidos pela reportagem. Os televisores atuais duram bem menos do que os de antigamente. Isso fica ainda mais evidente quando comparados às nostálgicas TVs de tubo, que funcionavam bem durante cerca de uma década.

"Chegam cada vez mais telas com defeito com apenas um ano e meio a três anos de uso", afirma João Fernandes, de São Paulo. Segundo ele, muito se deve à qualidade inferior dos componentes em relação aos modelos de tela fina mais antigos.