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Destroços de foguete chinês caem sem controle na Terra e causam pânico

Outro incidente com o foguete Longa Marcha 5B: estes detritos foram fotografados em julho, no céu da Malásia - Reprodução
Outro incidente com o foguete Longa Marcha 5B: estes detritos foram fotografados em julho, no céu da Malásia Imagem: Reprodução

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

04/11/2022 15h21Atualizada em 05/11/2022 10h12

Um enorme pedaço do foguete chinês Longa Marcha 5B fez uma reentrada descontrolada na Terra na madrugada desta sexta-feira (4). O impacto ocorreu no Oceano Pacífico, mas, antes disso, não se sabia o local exato da queda, o que forçou o fechamento parcial do espaço aéreo da Espanha.

O Longa Marcha 5B foi lançado há quatro dias no sul da China. Sua missão era entregar o terceiro módulo da estação espacial chinesa Tiangong. No entanto, um fragmento dele se rompeu ao entrar na atmosfera da Terra. O caso reacendeu discussões sobre a importância do monitoramento do lixo espacial.

As autoridades aéreas espanholas chegaram a restringir a circulação de aeronaves no nordeste do país, incluindo a Catalunha e as Ilhas Baleares. A zona de segurança levou em consideração a área de 100 km de cada lado da órbita do objeto espacial.

O equipamento que despencou do céu é "um dos maiores pedaços de detritos a reentrar [na atmosfera] no passado recente", segundo o centro de operações de Vigilância e Rastreamento Espacial da União Europeia. Ele tinha cerca de 30 metros de comprimento. Para ter uma ideia, 23 toneladas equivalem a cerca de 25 carros populares juntos.

Foguete chinês não tinha recurso de segurança

A confirmação de que o foguete caiu no Oceano Pacífico foi feita às 7h01 da manhã no horário de Brasília, pelo Twitter oficial do Comando Espacial dos Estados Unidos.

"#USSPACECOM confirma que o foguete da República Popular da China Longa Marcha 5B #CZ5B reentrou na atmosfera sobre o centro-sul do Oceano Pacífico às 4h01 MDT/10:01 UTC em 4/11. Para obter detalhes sobre o local de impacto da reentrada não controlada, encaminhamos você para o #PRC", dizia a mensagem.

Esse tipo de ação sem planejamento não é recomendada por conta dos altos riscos de segurança. Para evitá-la, alguns foguetes são reaproveitados após as entradas na atmosfera da Terra — como no caso do Falcon 9 da SpaceX. Outros já têm redirecionamentos de rota que garantam a queda apenas no mar. No entanto, o equipamento chinês não oferecia nenhum desses recursos.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, respondeu sobre o caso. "Entende-se que [este] tipo de foguete usa tecnologia especial projetada para que a grande maioria dos componentes sejam destruídos por ablação durante a reentrada na atmosfera, e a probabilidade de causar danos às atividades de aviação e ao solo é extremamente baixa", confirmou Zhao.

O monitoramento do lixo espacial — ou a regulamentação sobre o tipo de entrada irregular na Terra — não está presente em acordos internacionais. Ou seja, futuros incidentes como esse ainda são possíveis de acontecer.

"A realidade é que não existem leis, tratados internacionais que governem o que você pode fazer em termos de reentrada", disse Marlon Sorge, diretor executivo do Centro de Estudos de Detritos Orbitais e de Reentrada da Aerospace Corporation.

Não é a primeira vez

Nos últimos anos, os lançamentos da Administração Espacial Nacional da China causaram outras situações de alerta. Esse foi o quarto evento de detritos espaciais desgovernados na atmosfera Terra. Neste ano, em julho, um núcleo da Longa Marcha 5B de 25 toneladas caiu no Oceano Índico.

Já em abril de 2021, detritos de outra missão da estação espacial de Tiangong também caíram no oceano. Em maio de 2020, pedaços de outro veículo chegaram a impactar o solo, na África Ocidental. Estima-se que detritos tenham se espalhado pela Costa do Marfim.

E os planos da agência espacial da China não param por aí. Estão programados mais seis lançamentos para o foguete Longa Marcha 5B para meados de 2023.