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Engenharia pura: a tecnologia que faz navio cargueiro transportar toneladas

Guilherme Zamarioli Youssef/UOL
Imagem: Guilherme Zamarioli Youssef/UOL

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt, em São Paulo

27/01/2022 04h00Atualizada em 28/01/2022 14h21

É muito provável que, na sua casa, você tenha algo que foi transportado por um navio. Um produto comprado em lojas virtuais da China, componentes de aparelhos eletrônicos — como os que fazem parte do seu celular—, alimentos que você usará no seu almoço...Há uma explicação para isso: segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, cerca de 90% de todo o comércio mundial é feito por navios.

Essa dimensão explica o impacto global provocado pelo acidente envolvendo o navio Ever Given, que bloqueou por seis dias o Canal de Suez, no Egito, em março de 2021. Na ocasião, o problema impediu o transporte diário de cerca de US$ 10 bilhões (quase R$ 55 bilhões) em cargas variadas. Mas você já parou para pensar em como o deslocamento de produtos é feito?

Será que basta apenas empilhar contêineres e partir em viagem? As respostas para as dúvidas envolvem muita estratégia e organização.

Como funciona?

Tecnologia por trás do navio cargueiro - Guilherme Zamarioli Youssef/UOL - Guilherme Zamarioli Youssef/UOL
Imagem: Guilherme Zamarioli Youssef/UOL

O trabalho de transporte marítimo começa antes mesmo de o navio atracar e ser carregado. Há um enorme planejamento prévio que inclui várias partes envolvidas no processo, como a empresa proprietária do navio, membros da tripulação da embarcação e representantes do porto onde ele será carregado. Tudo é feito de modo a garantir a segurança, a eficiência e a produtividade.

Uma das primeiras missões é definir qual contêiner irá em qual posição. Isso é importante não apenas para permitir o fácil acesso à carga na hora de descarregar o navio — que pode parar em vários portos, deixando uma parte em cada um deles —, mas também garantir que o navio esteja estável durante a navegação.

Afinal, cada contêiner tem um peso diferente. Por isso é necessário um cuidado adicional na hora da distribuição deles no navios. As embarcações, por sua vez, contam com tanques que podem ser preenchidos por água.

Passada essa fase de planejamento, é a hora de carregar a embarcação. O método mais eficiente para isso é usar os chamados portêineres, espécie de guindastes fixos, em um formato que lembra a letra "T", presos ao chão, na margem dos portos, mas avançando em direção à água de maneira que o navio pare sob ele.

Modelos mais atuais podem içar por volta de 100 toneladas de carga. Essa é a capacidade de portêineres instalados recentemente no Porto de Santos (SP), que são capazes de carregar até dois contêineres por vez.

A parte superior do portêiner é chamada de lança e pode abaixar e levantar. Os contêineres, por sua vez, são presos a essa estrutura por um sistema chamado locker, que é engatado em orifícios nas extremidades do contêiner.

Assim, ele fica bem firme para ser levado ao navio. A movimentação dos elementos do portêiner é feita por meio de motores que combinam eletricidade e sistemas hidráulicos, sendo operado por um profissional treinado.

Uma vez que o contêiner chega ao navio, é realizada uma operação chamada peação, que nada mais é do que a sua fixação a bordo das embarcações. Para isso, usam-se varões, que são presos na parte superior dos contêineres e na estrutura do navio, além de ganchos chamados esticadores.

Já os contêineres que viajam no porão do navio são encaixados em canaletas, que ajudam a manter tudo no seu devido lugar. Quando o navio chega ao seu destino, o processo inverso é realizado.

Dúvidas comuns

Há diferentes tamanhos de contêineres ou eles são todos iguais?

Apesar de termos uma ideia de que contêineres são "todos iguais", a realidade é bem diferente. Considerando tipo mais comum deles, para cargas secas, há três variações:

  • 20 pés: 6,06 m de comprimento, 2,44 m de largura e 2,60 m de altura, com capacidade máxima de 24 toneladas;
  • 40 pés: 12,20 m de comprimento, 2,44 m de largura e 2,60 m de altura, com capacidade máxima de 26,9 toneladas. Os de 40 pés podem ter uma versão chamada "high-cube", cerca de 30 cm mais alta.

Além deles, há outras variações, como contêineres refrigerados, graneleiros (com revestimento interno), na forma de berço (com as laterais e parte superior abertas), ventilados, tanque entre outros.

Quanto tempo demora para encher um navio cargueiro?

Depende da quantidade de carga a ser levada até o navio. Os portêineres, por sua vez, também apresentam variações em termos de desempenho. A velocidade de içamento, por exemplo, pode variar entre 30 e 180 metros por minuto.

Uma vez que o contêiner estiver no ar, o carro do portêiner se move entre 80 e 240 metros por minuto. É importante notar que, aqui, é necessário um equilíbrio entre velocidade de operação e segurança, tanto para quem trabalha no porto quanto para manter as mercadorias intactas.

Cargas só podem ser transportadas em contêineres?

Não. Além dos navios especializados no transporte de contêineres, há variações para usos específicos. Os navios-tanque, por exemplo, só transportam líquidos, que ficam armazenados em compartimentos nos seus porões.

Há também navios graneleiros, que armazenam grãos, minérios, entre outros itens, em seus porões, navios gaseiros, com compartimentos específicos para o transporte de gases liquefeitos, entre outros.

Fonte: Nelson Luís de Souza Corrêa, professor do curso de Pós-graduação em Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.