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Anac autoriza delivery do iFood com drone, mas ele não irá até a sua janela

Comida voadora: delivery com drones já é realidade no Brasil - Divulgação/iFood
Comida voadora: delivery com drones já é realidade no Brasil Imagem: Divulgação/iFood

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, em São Paulo

26/01/2022 12h27

O iFood é a primeira empresa autorizada a utilizar drones em serviço de delivery de refeições e produtos no Brasil. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) concedeu a permissão na última sexta-feira (21).

A autorização se restringe ao drone DLV-1 NEO, que pode operar voos comerciais diários, inclusive em áreas urbanas, respeitando as margens de segurança determinadas. As entregas podem ocorrer dentro de raios de 3km, com cargas de até 2,5kg.

O trabalho do iFood será realizado em parceria com a empresa Speedbird Aero, que fabrica os drones e realiza a operação.

Como é o drone autorizado para o trabalho

Pequeno, com 1,5m de altura e 1,2m de largura, o modelo foi desenvolvido especificamente para a finalidade de fazer entregas.

Sem visão por câmeras, o drone é programado para seguir um percurso pré-estabelecido — realiza o voo, pouso e decolagem autonomamente (sem a necessidade de interferência humana), usando a rede de conexão 4G.

Além disso, ele é equipado com seis motores, dois aparelhos GPS e um paraquedas de emergência, pode voar a uma velocidade de até 32 km/h a 60 metros de altura.

"A utilização de drones para entrega de mercadorias é uma das mais esperadas aplicações da tecnologia. O Brasil está na vanguarda", disse Roberto José Silveira Honorato, superintendente de aeronavegabilidade da Anac.

Para Manoel Coelho, presidente-executivo da Speedbird Aero, entre os benefícios envolvidos na nova modalidade estão: a diminuição do tempo de entrega e redução de custos e das emissões de poluentes.

drone ifood - Divulgação iFood - Divulgação iFood
Drone DLV-1 NEO em "droneporto"
Imagem: Divulgação iFood

O que muda nas entregas?

Não espere que um drone futurista vá aparecer em sua porta ou janela com sua comida. Apenas uma parte do trajeto será realizado pelas pequenas aeronaves, que carregam o pedido entre "droneportos" — como um heliponto para drones, uma área segura e específica para pousos e decolagens.

Só aí o pacote pode ser coletado por um(a) entregador(a) que trabalha com a plataforma. Na sequência, a pessoa levará a comida/produto até a casa do cliente, nas maneiras tradicionais (moto, patinete ou bicicleta).

O processo, segundo o iFood, pode reduzir o tempo de entrega em até 80%.

"É o início de uma mudança que traz novas maneiras e agilizará as entregas em diferentes contextos ao colocarmos o uso de um modal aéreo em parte de uma rota de entrega", diz Fernando Martins, chefe de logística e inovação no iFood.

Há cerca de dois anos, a foodtech vem testando a tecnologia no Brasil. Os primeiros experimentos aconteceram em Campinas (SP), com restaurantes de um shopping. No ano passado, uma operação mais desafiadora aconteceu no Nordeste, conectando duas cidades separadas por um rio.

Os testes também foram autorizados pela Anac, mediante um Certificado de Autorização para Voo Experimental (CAVE). Bem-sucedidos, comprovaram a segurança e eficiência da operação de entregas com RPA (Aeronave Remotamente Pilotada) em rotas BVLOS (Beyond Visual Line of Sight, ou além do alcance de visão).

Experiência em Sergipe

Em Sergipe, a operação intermunicipal funcionou em fase experimental no final de 2021, com delivery das redes de restaurante McDonald's e Madero. Os voos aconteceram entre a capital, Aracaju, e Barra dos Coqueiros, em um trajeto inédito, voando sobre o rio Sergipe.

Partindo do shopping RioMar Aracaju, o drone percorria 2,8 km até pousar em um "droneporto" no município vizinho. O trajeto — que normalmente levaria entre 25 e 55 minutos, dependendo do trânsito, pela única ponte de acesso entre os dois municípios — era feito em 5 minutos e 20 segundos pela aeronave.

Um dos primeiros a receber um delivery que cruzou os céus de Sergipe foi o advogado Alexandre Hardman. "Se eu saísse para comer lá [na capital], ia levar duas horas, por causa do trânsito. Como estamos fora da Grande Aracaju, poucos restaurantes de lá entregam aqui. Antes, a nossa opção era restrita. Agora, acredito que vai aumentar."

"E é um barato: ele vem, desce, solta a embalagem e depois decola imediatamente. Achei o equipamento e a organização fantásticos. Parece coisa de filme", conta Hardman, que consegue ver o "droneporto" de sua janela.

Com a autorização definitiva, mais testes poderão começar em novas localidades do país.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Na versão original do texto, publicamos a informação como "60m de altitude", e não de altura. O primeiro é o valor referente ao nível do mar e o segundo, em relação ao solo.