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Sem público, Olimpíadas usam 5G para facilitar a vida de atletas em Tóquio

Torre Skytree, no centro de Tóquio, anuncia Olimpíadas de 2020 - Joel Papalini/Getty Images
Torre Skytree, no centro de Tóquio, anuncia Olimpíadas de 2020 Imagem: Joel Papalini/Getty Images

Aurélio Araújo

Colaboração para Tilt, em São Paulo

27/07/2021 08h41

Inovações tecnológicas e Olimpíadas costumam caminhar lado a lado e, nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, a grande novidade é o uso do 5G para as transmissões. O plano do Comitê Organizador da Olimpíada e Paralimpíada era explorar bastante a aplicação da tecnologia, mas a pandemia e a ausência de público nos eventos mudou as expectativas.

No início de julho, o Comitê anunciou uma parceria com a gigante da tecnologia americana Intel e com a companhia telefônica japonesa NTT Docomo para oferecer "experiências inovadoras de assistir a esportes" usando a rede 5G aos espectadores que comparecessem aos eventos de vela, natação e golfe. Uma semana depois, porém, o governo japonês e a organização decidiram que não haveria público presencial devido ao risco da covid-19 continuar se espalhando.

As experiências oferecidas seriam uma espécie de vitrine global do 5G para o mundo, já que diversos países que estão de olho no evento ainda não decidiram como implementar a tecnologia (ou sequer leiloaram as radiofrequências que a nova geração exige, como é o caso do Brasil).

Expectativa: competições imersivas

Nos eventos de vela, natação e golfe, o comitê organizador havia planejado algumas demonstrações triunfais do 5G.

Na vela, por exemplo, os frequentadores do esporte estão acostumados a observar as embarcações à distância, com o uso de binóculos. Dessa vez, uma tela flutuante de 50 metros e resolução de 12K foi instalada nas águas do porto de Enoshima, onde ocorre a competição.

A ideia era fazer com que todos que comparecessem pudessem ver os barcos como se estivessem muito próximos deles, dispensando os acessórios para enxergar melhor. Infelizmente, como se pode imaginar, há poucas pessoas acompanhando as competições ao vivo.

Na natação, a ideia foi ainda mais ousada: distribuir dispositivos de realidade aumentada para alguns dos espectadores, que ajudariam não só a ver as disputas de forma mais clara, mas também mostrariam dados em tempo real, como se o público estivesse vendo pela TV. Seriam exibidas informações como a velocidade dos atletas e seu posicionamento nas raias, utilizando para isso a baixa latência (e, portanto, as rápidas respostas) do 5G.

Por fim, no golfe, a experiência também seria estimulada com o uso de dispositivos. Como os fãs desse esporte têm preferências variadas sobre o local ideal para ver as partidas, aparelhos seriam entregues a eles com transmissão 5G de diversas partes diferentes do campo. Mais uma vez, a velocidade e a baixa latência (tempo usado entre um comando e sua resposta) do 5G seriam essenciais para que isso pudesse ser feito.

Realidade: carro autônomo e segurança

Mesmo sem a presença de torcedores, o 5G vem sendo usado em Tóquio. Um exemplo disso é o e-Palette, um veículo da Toyota desenvolvido para o transporte de atletas da vila olímpica aos locais de competição.

Trata-se de um carro autônomo — ou seja, que dispensa motorista. Para que seja usado, o 5G é primordial: veículos autônomos dependem dessa rapidez nas suas conexões com um servidor remoto para saber quando desacelerar ou frear, sem causar acidentes.

O 5G também está presente na segurança do evento, para fazer um reconhecimento facial rápido no acesso de pessoas autorizadas às instalações olímpicas. Além disso, a segurança é feita com a ajuda de muitos robôs e drones, que monitoram atividades suspeitas e necessitam, portanto, de respostas imediatas, além de uma capacidade de banda larga robusta.

Outra inovação é a criação do que se convencionou chamar de "gêmea digital" — representações virtuais idênticas às dos locais de competição, para que os funcionários da organização sejam treinados a cumprirem suas funções nesse ambiente virtual, também com o auxílio de realidade aumentada.

Prejuízo pelo adiamento

"Sem qualquer dúvida, o adiamento das Olimpíadas de Tóquio em 2020 minaram qualquer tipo de disseminação impactante de 5G não só no Japão, mas também no resto do mundo", afirmou Jerry Ray, diretor de operações da empresa de cibersegurança SecureAge, em entrevista ao site de tecnologia britânico "Verdict".

Segundo ele, foi criada uma "promessa" em torno dessa tecnologia entre 2017 e 2019 que só poderia ter sido cumprida de forma notória se os Jogos tivessem acontecido ano passado, quando foram adiados devido à pandemia de covid-19.

Sem essa demonstração olímpica, o número de assinantes de serviços 5G no Japão, previsto para explodir em 2020, cresceu pouco. A empresa britânica GlobalData, especializada em análise de dados, estimou que, ao final do ano passado, as assinaturas de 5G ainda representavam menos de 5% do uso de internet móvel em todo o planeta.