Após incêndio, Museu Nacional reencarna na internet e ganha tour virtual
Helton Simões Gomes
Do UOL, em São Paulo
13/12/2018 06h00
Após ser destruído por um incêndio em setembro, o Museu Nacional do Rio ganhou uma reencarnação na internet nesta quinta-feira (13). A instituição, que funcionava no prédio bicentenário que já foi lar da Família Real, voltará a receber visitas guiadas.
Os interessados, porém, não precisam se deslocar até a Quina da Boa Vista, no Rio, e sim recorrer a celulares ou computadores, em que poderão rever desde o fóssil de Luzia, que com 11 mil anos é a mulher mais antiga das Américas, até o sarcófago de Sha-amun-en-su, que abriga a 'Cantora de Amón', mumificada há 2,7 mil anos, e nunca foi aberto.
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O Museu Nacional é uma das mais de 50 instituições de arte brasileira a integrar o Google Arts & Culture, plataforma do Google voltada a reunir exposições dos maiores centros artísticos e culturais do mundo. O anúncio foi feito no Rio, em um evento em que o Museu Nacional divulgou avanços no processo de recuperação de peças resgatadas dos escombros do prédio.
No tour virtual, o visitante poderá percorrer os corredores do museu e ver o ambiente interno tal qual era antes do incêndio. Não poderá ver tudo, pois, das 20 milhões de peças que faziam do museu o quinto maior acervo do mundo, menos de 1% dessas obras estava exposta ao público.
O museu oferece um áudio explicativo para oito objetos de destaque. Além do fóssil de Luiza, há vasos Marajoara, que datam de 3 mil anos, múmias e sarcófagos, além de coleções de borboletas. Esses itens foram destruídos pelo fogo, mas o tour inclui ainda o Meteorito Bendegó, que resistiu ao incêndio.
O museu organizou ainda exposições online temáticas, como as sobre as culturas africana, mediterrânea, egípcia e indígena. Há ainda exibições de arqueologia pré-colombiana (com peças sobre a vida nas Américas pré-colonização), brasileira (que exibe utensílios usados por aqui há milhares de anos) e de paleontologia (com fósseis de tigre-dentes-de-sabre e preguiças gigantes a tartaruga fossilizada).
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Isso só foi possível porque o Museu Nacional começou a trabalhar em 2016 com o Google, que cedeu algumas de suas tecnologias para digitalizar partes da instituição. As imagens exibidas no tour virtual, por exemplo, foram captadas pelo Street View.
O incêndio que consumiu o museu é uma situação inédita para o Google, diz Chance Coughenour, gerente global de preservação história do Google Arts & Culture. São mais de 1,8 mil instituições dentro da plataforma, mas é a primeira vez que a exposição digital de um museu vai ao ar após o acervo físico ser destruído.
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Ainda que a inauguração do tour virtual tenha uma tragédia como pano de fundo, Coughenour prefere tratá-la como uma oportunidade.
"Isso é só o primeiro passo. Talvez o museu queira organizar outras exibições no futuro", diz. E completa: "é um jeito importante para nós olharmos como a tecnologia pode fornecer formas de preservar a memória de objetos. Assim, nós poderemos lembrar como o museu era por dentro, ainda que virtualmente, e pessoas que ainda não nasceram poderão visitá-lo no futuro".
Alexander Kellner, diretor do museu, também prefere o potencial do museu no futuro. "Não há nada que substitua. É uma tragédia", diz, mas afirma: "É importante a gente guardar a memória, mas temos também que olhar para a frente."
Eu tenho que reconstruir o museu mas, enquanto isso, o visitante pode ter uma visão do que era o museu
Alexander Kellner
A intenção do Google de ampliar as coleções online do Museu Nacional casa com os planos do diretor. "No futuro, a gente talvez consiga fazer um novo retrato, mas com as peças que temos e no âmbito da reconstrução que estamos desejando."
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A ideia, no entanto, não é refazer o prédio no mesmo estilo de antes. "Nós não vamos reconstruir o museu do mesmo jeito. Seria um contrassenso. Um dos pontos que tem de ser revisto é que a casa era tombada e nunca foi projetada para ser museu."
A ideia de Kellner é refazer a fachada original, mas remodelar o interior do museu de forma moderna. Para isso, o Ministério da Cultura destinou uma verba emergencial de R$ 10 milhões. Recursos da ordem de R$ 56 milhões por ser enviados ao museu via Medida Provisória.
Ainda que trabalhe em uma plataforma virtual que reúna obras de arte, Coughenour não ignora o poder de entrar em contato com a peça.
Com exposições virtuais, as pessoas aprendem o que ver em museus, porque, no fim das contas, elas querem ver os objetos reais e dizer, 'Uau, eu não sabia que podia ver isso lá'.
Chance Coughenour