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OPINIÃO

The Last of Us 2: No controle de uma balada de vingança, beleza e cansaço

A canção de Ellie é cheia de beleza, mas também cheia de ódio - Divulgação/Sony
A canção de Ellie é cheia de beleza, mas também cheia de ódio
Imagem: Divulgação/Sony

Bruno Izidro

Do START, em São Paulo

15/06/2020 04h00

Jogo Rápido

  • Novo exclusivo de PS4 é um dos jogos mais impressionantes da geração
  • Jogo continua a história de Ellie e Joel, do primeiro jogo
  • A trama é madura, mas decisões narrativas vão gerar polêmicas
  • Longo até demais, jogo perde um pouco o ritmo na segunda metade

The Last of Us apresenta um mundo em que as pessoas nunca ouviram Lightning Bolt, do Pearl Jam. O décimo álbum da carreira da banda estava marcado para outubro de 2013. Uma pena que, um mês antes, aconteceu o Dia do Surto, que deixou os EUA com o cenário pós-apocalíptico visto no primeiro jogo.

Mas o som do grupo sobreviveu ao fim do mundo, e é pelos acordes de Future Days, a última faixa do disco, que a protagonista Ellie vai em busca de vingança em The Last of Us Parte II, jogo exclusivo de PlayStation 4 que impressiona em muitos aspectos, mas desafina por insistir por muito tempo na nota errada.

Eu ainda estou viva

Muitos devem conhecer Pearl Jam da época de Jeremy e Alive, quando a banda era uma das expoentes do grunge, um movimento musical que surgiu em Seattle, nos anos 1990. Talvez por coincidência (ou não) a cidade é onde se passa boa parte de The Last of Us Parte II.

The Last of Us Seatlle - Divulgação/Sony - Divulgação/Sony
Seattle é palco de boa parte do game
Imagem: Divulgação/Sony

Ellie vai para lá quatro anos depois do fim do primeiro jogo, à caça daqueles que a machucaram. Essa é a premissa da sequência e, como esta análise é SEM SPOILERS, ficamos só por isso mesmo.

Aliás, é zanzando por Seattle que Ellie pode encontrar um pôster da banda de Eddie Vedder, em um raro exemplo de obra real que aparece no game, tão cheio de bandas fictícias.

If i ever were to lose you i'd surely lose myself

O momento também é totalmente opcional, por estar nas áreas de maior exploração adicionadas na sequência. Como falamos na prévia, há muito de Uncharted, em especial de Uncharted 4, no novo jogo.

The Last of Us Parte II Ellie a cavalo - Divulgação/Sony - Divulgação/Sony
Exploração se torna um elemento bem importante no gameplay
Imagem: Divulgação/Sony

No geral, The Last of Us Parte II felizmente deixa de lado a sensação de as fases serem só um longo corredor. Ele apresenta áreas um pouco mais abertas, que incentivam a curiosidade e a descobrir cada detalhe do mapa, além de diversificar o gameplay.

Kiling me softly with her song

The Last of Us Ellie e violão - Divulgação/Sony - Divulgação/Sony
Imagem: Divulgação/Sony

O primeiro jogo tinha um forte fator musical, muito por causa da trilha do compositor Gustavo Santaolalla, que retorna na continuação com um trabalho ainda mais afinado.

Quem acompanhou todo o marketing e o "hype" promocional de The Last of Us Parte II pode ter percebido também que a música foi um elemento de destaque, com Ellie e um violão sempre juntos.

É só lembrar, por exemplo, que o trailer de revelação do jogo mostrava a protagonista dedilhando a música Through the Valley, de Shawn James, o que já transmitia todo o clima mais pesado e melancólico da sequência.

A canção, e a própria Future Days, do Pearl Jam, trazem significados que conversam com as emoções dos personagens e são até transformadas em mecânica dentro do game.

Sim, tocar violão usando o controle do PS4 faz parte da experiência de imergir e se conectar com Ellie. Além de ser o melhor uso do botão touchpad até hoje.

É com um violão no colo que acontecem alguns dos momentos mais tocantes (perdão o trocadilho) do jogo. São trechos que fazem perceber o quanto essa é uma experiência especial, quase única, e ainda mais forte do que no jogo original.

Só que quanto mais o game passa, mais o violão de Ellie vai se manchando de sangue. É o dó sustenido que aumenta o tom pelo número de mortes causadas por ela, porque The Last of Us Parte II não é uma aventura alegre. O game é sobre violência e vingança.

A força do ódio

A psicologia divide o processo de luto em cinco estágios: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. The Last of Us parte II acrescenta a vingança na lista.

Todos os confrontos contra infectados e inimigos, obstáculos e objetivos que o jogador encontra são motivados por isso.

The Last of Us Ellie machucada - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

"Eu vou matar até o último deles", diz Ellie no trailer lá de cima.

É difícil não seguir à risca o desejo da protagonista: a vingança de Ellie só funciona porque passa a ser também a vingança de quem joga, e aí que a mágica da interatividade e imersão dos videogames entra em cena.

The Last of Us Parte II sabe fazer isso muito bem. Cada toque no touchpad para Ellie dedilhar o violão faz com que a raiva dela seja também a nossa, que a dor dela seja também a nossa.

All my stolen missing parts i've no need for anymore

Assim, a minha vingança junto de Ellie resultou em 203 mortes de inimigos humanos, incluindo aí 15 cachorros (uma novidade do game). Pode até parecer pouco para um jogo de ação, mas cada uma dessas mortes foi significativa.

Por exemplo, em vários dos encontros com inimigos é possível passar despercebido, na surdina, e atingir o objetivo sem matar ninguém (o que é difícil, mas não impossível), só que fazer isso não seria vingança.

The Last of Us parte II combate - Divulgação/Sony - Divulgação/Sony
Imagem: Divulgação/Sony

Eram nesses pequenos momentos que as palavras de Ellie ressoavam:

"Até o último deles".

"O último deles".

"O último".

A cada canivete cravado na garganta e a cada flecha certeira no alvo, Ellie descarregava mais e mais a raiva e o ódio em uma dança da morte. Uma dança que só era bem executada pelas mecânicas de combate que favorecem a furtividade, que agora está mais bem resolvida.

Dias com você e eu

O diretor do jogo, Niel Druckmann, diz que a parte II de The Last of Us existe pela inspiração de uma história que precisava ser contada. Ao chegar ao final do game, eu devo dizer que não. Não precisava, não.

The Last of Us parte II personagem misteriosa - Divulgação/Sony - Divulgação/Sony
Imagem: Divulgação/Sony

O problema é que a vingança em The Last of Us Parte II também é um prato que se come frio. Com o dobro de duração do primeiro jogo, a sequência fica com o gosto cada vez mais amargo quanto mais esse prato esfria.

O gameplay vai ficando repetitivo, as motivações e empenho em seguir aquela história vão desaparecendo. Mesmo que o visual permaneça impressionante até o fim, o jogo peca pelo excesso de horas, tornando a aventura cansativa e com problemas de ritmo no final. Passou do ponto.

And i believe 'cause i can see our future days

Isso não quer dizer que a trama não seja boa. Até a metade do jogo, a narrativa consegue instigar quem joga a querer saber mais.

Há momentos tão emocionalmente relevantes quanto as Girafas do primeiro jogo ou tão marcantes quanto o passeio pelo shopping do DLC Left Behind.

Porém, seguir com a história de Joel e Ellie, por melhor que essa continuação fosse, tira muito do peso e do significado que o final do primeiro jogo carrega. Isso, sim, é um erro irreparável.

The Last of Us Parte II foi aguardado, adiado e problemático em sua produção. Ainda assim, a Naughty Dog conseguiu criar um game que merece a atenção para além da cultura de hype gerada em torno do título.

Enquanto a narrativa, mesmo com algumas decisões duvidosas, continua sendo o que marca a aventura de Ellie, a sequência fez um bom trabalho em subir o nível em sua parte videogame, o que era mais do que necessário para deixá-lo divertido, com ação, exploração e até uns toques de terror.

The Last of Us Parte II é a canção pop que sabe quando inovar e também sabe exatamente o que deve fazer para agradar os jogadores, o que é o suficiente para disfarçar aquelas desafinadas ocasionais ou as cordas que quebraram no fim do refrão.

The Last of Us capa do jogo - Divulgação/Sony - Divulgação/Sony
Imagem: Divulgação/Sony
Lançamento: 19/06/2020
Plataforma: PlayStation 4
Preço sugerido: R$ 249,99
Classificação indicativa: 18 anos (Violência Extrema, Drogas, Nudez)
Desenvolvimento: Naughty Dog
Publicação: Sony Interactive Entertainmet
Jogue também: Uncharted 4, God of War (2018), Telltale's The Walking Dead

*A cópia do jogo foi cedida pela Sony.

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