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Jogando "LoL", brasileiros já conseguem bolsas em universidades americanas

 Alana Weiss, de 21 anos, iniciou o curso de Ciência da Computação na Missouri Valley College em janeiro, com bolsa de 70% - Arquivo Pessoal
Alana Weiss, de 21 anos, iniciou o curso de Ciência da Computação na Missouri Valley College em janeiro, com bolsa de 70% Imagem: Arquivo Pessoal

Gabriel Oliveira

Colaboração para o START

23/08/2019 04h00

Jogar "League of Legends", "Counter-Strike: Global Offensive", "Overwatch" e outros eSports pode dar acesso a bolsas de estudo em universidades dos Estados Unidos, nos mesmos moldes das oferecidas para esportes tradicionais. O estudante faz a faculdade com desconto na mensalidade, joga em computadores de última geração, treina em equipe e participa de competições universitárias.

Três brasileiros conquistaram essa oportunidade de ouro e contaram suas histórias e experiências ao START.

Unindo o útil ao agradável

São cerca de 150 instituições de ensino com programas de bolsas de estudo em eSports na América do Norte, de acordo com os registros da National Association of Collegiate Esports (NACE). Há uma série de requisitos a serem cumpridos pelos alunos interessados, como manjar de inglês e mandar bem no game.

Fahbricio Muller - LoL - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Fahbricio Muller conseguiu uma bolsa de 70% na Missouri Valley College
Imagem: Arquivo Pessoal
Na segunda-feira (19), Fahbricio Muller Alves Pereira, de 20 anos, embarcou para Marshall (Missouri) para iniciar os estudos na Missouri Valley College, a mesma faculdade que recebeu outros dois brasileiros. Ele conseguiu uma bolsa de 70% para um curso de sua escolha, ainda a ser definido.

"Estou juntando o útil ao agradável", diz Fahbricio ao START. "Eu trabalhava, estudava Direito, estava no quarto semestre, e só jogava no horário livre. Será a primeira vez que poderei focar no 'League of Legends', com uma rotina em que o jogo esteja presente, e ao mesmo tempo terei uma oportunidade incrível de obter um diploma internacional".

Eu trabalhava, estudava Direito, estava no quarto semestre, e só jogava no horário livre. Será a primeira vez que poderei focar no 'League of Legends'
Fahbricio Muller, que vai estudar na Missouri Valley College

O rapaz descobriu a possibilidade de estudar no exterior ao ler, em publicação no Facebook, a história de Giordano da Silva Pereira, de 21 anos, o primeiro brasileiro a ir para os Estados Unidos com bolsa de "LoL". A partir de agosto de 2018, correu atrás para viabilizar o intercâmbio.

Com a ajuda de uma agência, Fahbricio fez todos os procedimentos burocráticos e obteve a aprovação da faculdade para início em janeiro de 2019, mas não pôde viajar por falta de dinheiro. Mesmo tendo a bolsa, o jovem precisará arcar com despesa de cerca de US$ 1 mil (correspondentes a R$ 4 mil) por mês, envolvendo mensalidade, alimentação e hospedagem na instituição.

A viagem ficou para o segundo semestre, depois de o jovem procurar empresas e clubes de eSports para requisitar apoio financeiro, sem sucesso. Ele postou sobre sua viagem no Twitter, pedindo ajuda, e pretende fazer transmissões por stream e vídeos no YouTube para tentar arrecadar dinheiro e se manter nos Estados Unidos. Só de documentos e passagem aérea foram R$ 10 mil. "Estou indo com a cara e a coragem e com a certeza de que esta é a escolha certa".

Fahbricio está no nível Diamante, o quarto mais alto do "LoL", abaixo de Desafiante, Grão-Mestre e Mestre, e participou de campeonatos online e presenciais no Brasil. O nível no jogo e o grau de conhecimento dele em inglês determinaram o percentual de desconto.

"Eu tinha três opções de faculdade. Consegui aprovação em todas com a mesma quantidade de bolsa. Escolhi pelo prestígio e pela estrutura. Na Missouri Valley College, o treinador me mandou fotos da área de computadores e conversei com o brasileiro que estava lá. Eu achei a faculdade bem boa", conta Fahbricio, empolgado com a oportunidade. "Vou entrar de cabeça nisso. O céu é o limite".

Fahbricio Muller - Time - Aorus League/Divulgação - Aorus League/Divulgação
Imagem: Aorus League/Divulgação

LoL abrindo portas

Namorada de Fahbricio, Alana Lange Weiss, de 21 anos, iniciou o curso de Ciência da Computação na Missouri Valley College em janeiro, com bolsa de 70%. Ela começou a jogar "LoL" por causa do companheiro e nem imaginava que seria possível descolar uma bolsa de eSports. "Eu sempre tive vontade de estudar no exterior. Desde o Ensino Médio, ficava pensando e buscando um jeito de ir, mas não conseguia em razão do dinheiro. É muito caro. Do nada, apareceu o 'LoL' e me abriu esta porta. Foi maravilhoso".

Alana ainda não tem nível definido no "League of Legends", por não participar de partidas ranqueadas", e passou o primeiro semestre jogando para se aprimorar e poder fazer parte da equipe universitária feminina. Tudo com a supervisão do treinador e a colaboração das companheiras, segundo a jovem.

Ficava pensando e buscando um jeito de ir, mas não conseguia em razão do dinheiro.Do nada, apareceu o 'LoL' e me abriu esta porta. Foi maravilhoso
Alana Weiss, que estuda nos EUA desde janeiro de 2019

"É uma experiência de vida. Primeiro, morar sozinha, não ter mais a família para fazer tudo por ti. Ter que equilibrar o jogo e os estudos. Segundo, o meu nível de inglês aumentou muito. Eu quero ter o diploma do exterior para o meu currículo e, na área de desenvolvimento, isso é muito importante. Dizer que dá para estudar fora com o 'LoL' é incrível. Eu nunca esperava e hoje sou muito grata", comemora a jovem.

Treinos diários e alta competitividade

Primeiro brasileiro a estudar nos Estados Unidos com bolsa de eSports, em 2018, Giordano diz que também soube da oportunidade por acaso, no Facebook. Ele estava propenso a abandonar o curso universitário de Gestão para Inovação e Liderança no Brasil e jogava pelo time que representaria a Havan Liberty Gaming, que disputava o acesso ao Circuito Desafiante, o campeonato da 2ª divisão do cenário brasileiro.

"Eu tive que decidir se continuaria na equipe ou se iria para os Estados Unidos. Eu decidi ir porque alguém que não tivesse muito a perder deveria ser o primeiro. Era um sonho que eu nunca tinha pensado. Poderia não ser a coisa mais importante para mim, mas era uma maneira de abrir as portas de possibilidades para outras pessoas", comenta Giordano.

Giordano Pereira - LoL - Divulgação - Divulgação
O brasileiro Giordano com o time de LoL da Missouri Valley College
Imagem: Divulgação

Pelo time principal da Missouri Valley College, o brasileiro disputou a ULoL, liga universitária promovida pela desenvolvedora Riot Games, e a Collegiate Starleague, que conta com várias modalidades de eSports. O jovem destaca que a competitividade nos Estados Unidos é alta, principalmente nas fases eliminatórias das competições, mas que há espaço para jogadores de diversos níveis. "Tem equipes universitárias que investem muito pesado e treinam com times academy e do tier 2, compostas por Mestre e Challenger, e outras equipes mais ou menos, como era a nossa".

A Missouri Valley College tem times A, B e C de "League of Legends", de acordo com o nível dos estudantes, e representantes no "Overwatch" e no "Rocket League". As aulas são de manhã e no início da tarde, e os treinos acontecem na sequência, todos os dias. "Há uma sala com 20 computadores para os treinamentos. Era o nosso passatempo e compromisso".

Há uma sala com 20 computadores para os treinamentos. Era o nosso passatempo e compromisso
Giordano Pereira, sobre o período em que estudou nos EUA

Giordano voltou para o Brasil durante as férias, está cursando Administração e não irá retornar mais para os Estados Unidos. Depois de um ano lá, ele afirma ter se decepcionado com a organização do programa de eSports e a qualidade do ensino da universidade, no curso de Estudos Interculturais. "Dois dos principais problemas eram o recrutamento de novos players e a falta de cuidado nos torneios presenciais. Foi meio brochante".

Ele, que possuía bolsa de 75% e é do nível Diamante no "LoL", não se arrepende do tempo que passou no exterior e recomenda que outros estudantes façam o intercâmbio, desde que tenham dinheiro para isso, "porque é bem caro", conforme ressalta.

Como conseguir uma bolsa?

Segundo Gustavo Felippe Machado, sócio-fundador e diretor acadêmico da MVP Exchange, agência de intercâmbio esportivo, a procura por bolsas em eSports vem crescendo nos últimos tempos. Em média, são de 30 a 40 jovens buscando informações sobre o assunto por ano. Cerca de dez estão nos preparativos para viajar nas próximas janelas.

É necessário ter alto conhecimento de inglês, comprovado por meio do exame de proficiência TOEFL, e bom nível no jogo e ainda descolar uma série de documentos, como o visto de entrada nos Estados Unidos. "Nós buscamos entender o perfil do aluno e as suas expectativas e enviamos o portfólio dele para a universidade. O treinador de lá avalia se vale a pena dar a bolsa e com qual percentual".

Gustavo aponta que os eSports estão em expansão no meio universitário e que os brasileiros têm espaço nesses programas de bolsas. "As universidades estão vendo que a tendência é de crescimento dos eSports nas próximas décadas e vem investindo, também levando alunos internacionais para somarem nos times delas".

O START mandou e-mail para mais de 100 universidades norte-americanas cadastradas na National Association of Collegiate Esports (NACE). Nenhuma das que responderam possui brasileiros matriculados com bolsa por praticar jogos eletrônicos.

Giordano Pereira - CT - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Giordano Pereira no centro de treinamento de LoL da Missouri Valley College
Imagem: Arquivo Pessoal

A St. Thomas University, cujo programa em eSports ainda está no início, considera receber brasileiros, de acordo com a diretora da atlética da universidade, Laura Courtley-Todd. "Nossa motivação nos eSports é fornecer programas novos e inovadores que criam um fluxo de inscrição para a St. Thomas University. Com nossos incríveis cursos de Ciências juntamente com nosso diploma em Administração de Esportes, oferecemos uma excelente oportunidade acadêmica para mesclar essas duas paixões com as chances acadêmicas reais".

Na Texas Wesleyan University, há 12 estudantes com bolsas, com o objetivo de, conforme o diretor de eSports, Eugene Frier, "recompensar pessoas que tenham uma boa combinação de habilidades em jogo, liderança e capacidades acadêmicas para nos representar da melhor maneira possível".

Na Culver-Stockton College, são em torno de 30 estudantes com bolsas que jogam "League of Legends", "Hearthstone", "Call of Duty", "Counter-Strike: Global Offensive", "Overwatch" ou "Rocket League". "Os eSports são um fenômeno cada vez mais popular e queremos oferecer uma oportunidade para que os estudantes interessados

O coordenador do programa de eSports da Georgia State University, Lucas Bailey, chama atenção para o "enorme potencial educacional" dos campeonatos de games. "É uma indústria bilionária que está se expandindo rapidamente. Isso significa excelentes oportunidades de trabalho e nós queremos educar nossos estudantes para preenchê-las".

É uma indústria bilionária que está se expandindo rapidamente. Isso significa excelentes oportunidades de trabalho e nós queremos educar nossos estudantes para preenchê-las
Lucas Bailey, coordenador de eSports da Georgia State University

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