Topo

Opinião: PewDiePie tem que guardar certas brincadeiras e opiniões para si

Arte/UOL Jogos
Imagem: Arte/UOL Jogos

Edney Souza

Do Interney*

15/02/2017 10h36

Após perder patrocínios graças a um vídeo com comentários antissemitas, PewDiePie enfrenta o mesmo problema com os quais outros influenciadores, não apenas youtubers, se deparam quando atingem um certo status: o cara começa a achar que, por ser popular, pode tudo, que sua base fiel de fãs vai apoiá-lo em qualquer coisa que fizer. Em suma, o sucesso sobe à cabeça.

Só que PewDiePie, do alto de seus 53 milhões de seguidores no Youtube, se esquece do contrato informal que todo influenciador tem com sua audiência e que, apesar de não ter planejado se tornar um veículo, tem responsabilidade pela quantidade de gente que influencia.

As marcas enxergam essa responsabilidade e o impacto causado por influenciadores, e estão dispostas a apostar nisso. Porém, quando youtubers tomam atitudes que prejudicam a forma como o público os enxerga, as marcas vão fugir rapidamente para evitar que isso respingue nelas.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com o nadador Ryan Lochte, que perdeu quatro patrocinadores após a mentira contada nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.

Marcas não estão dispostas a conseguir visibilidade a qualquer custo - elas podem comprar visibilidade no Google, Facebook etc. Quando se associam a influenciadores estão buscando, além da visibilidade, os valores que este influenciador transmite ao público.

Um influenciador engraçado, divertido, moderno, ousado etc. pode ajudar uma marca a criar essa percepção no público. A marca compra não só audiência, mas também os valores para associar a si própria.

Existe liberdade de expressão, mas se a pessoa quer transformar sua expressão em um negócio, como faz PewDiePie, talvez seja melhor guardar algumas brincadeiras e opiniões para amigos e se envolver menos em polêmicas. Além de perder patrocinadores, ele pode encontrar algum fã mais esquentadinho por aí e isso acabar gerando problemas pessoais.

A Disney é uma multinacional que atende e emprega diversos judeus, e a “brincadeira” deve ter ofendido diversos deles.

Só porque um cara tem audiência isso não o transforma automaticamente em algo bom para uma marca, que sempre pode comprar audiência em outros lugares menos polêmicos.

É como rinha de galo, tourada e outras coisas que agridem animais: todas têm audiências gigantes, mas imagina como isso pode machucar uma marca que apoie essas atividades?

O YouTube, que se protege com políticas claras sobre quais vídeos são permitidos na plataforma, tem papel ativo em casos assim, já que promove os seus maiores influenciadores. Neste caso, o agiu rápido removendo os vídeos em questão e atendendo os anunciantes que não queriam mais seus vídeos veiculados no canal de PewDiePie.

PewDiePie vai perder alguns seguidores, mas sua carreira não vai acabar. Até porque ele não perdeu todos os patrocinadores e nem foram todas as marcas que retiraram anúncios.

Teve gente que não se importou, teve gente que achou engraçado, teve gente que se ofendeu.

A carreira da pessoa não é destruída, mas ela pode tomar rumos estranhos. Talvez amanhã um cineasta judeu esteja trabalhando num filme e o PewDiePie esteja vetado automaticamente.

Num mercado que tem tanta oferta de conteúdo sempre há outro canal pra ver coisas parecidas e deixar aquele cara de lado.

* Edney Souza é editor do site Interney e consultor de marketing e professor de pós-graduação da ESPM