Carlinhos Brown exalta Elza e Milton Nascimento: 'Não chegaria lá sem eles'

Carlinhos Brown, 60, é o convidado desta semana de Splash Entrevista, programa semanal apresentado por Zeca Camargo em Splash. O cantor e jurado do The Voice (Globo) fala sobre "Meia-Lua Inteira", biografia que lançou no final de agosto.

Na entrevista, ele deu detalhes do conteúdo da obra. "Não estou escondendo nenhuma vivência - só não posso relatar essas vivências pelo amargor. Essa é minha experiência, e minha força está em traspassar esses momentos. Todas essas situações eu busquei traspassar justamente através do exemplo."

A luta contra o racismo encontra-se permeada em boa parte da narrativa. "Descobri cedo que estava em um país preconceituoso, onde eu era negro, onde usar cabelo rastafári na Bahia já era uma militância - porque a gente sabia que a polícia cortava, envergonhava no meio da rua."

O cantor se orgulha, entretanto, de nunca ter se deixado vencer pelo preconceito. "Foi o que mais aconteceu [sofrer preconceito] - só que eu deixei para lá! Não joguei debaixo do tapete, mas não dei importância. O preconceito não tem capacidade de me atingir, uma vez que ele não é meu."

Carlinhos acredita que a arte o ajudou a vencer as barreiras sociais impostas. "Cada um tem um talento, e tem talentos que te sobressaltam. Toda vez que o preconceito veio, a dúvida chegou [a partir dele], ele foi vencido com o talento."

Questionado se considera a própria trajetória 'inspiradora', Carlinhos é modesto. "Gostaria que fosse [inspiradora]. O resultado ainda não conheço nas pessoas, mas a ideia é que seja."

Origem humilde

Criado no Candeal Pequeno, uma das comunidades mais antigas de Salvador, Brown viu vários colegas de infância acabarem como vítimas fatais da violência urbana. "Vários, mas vários amigos meus se perderam, morreram na bala. Eram muitos menores em conflito com a lei."

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Assim como muitas crianças vindas desse mesmo contexto, ele tampouco escapou dos rótulos preconceituosos comuns àquele tempo. "Era a época do 'pivete'. Nós éramos chamados de 'pivete' - e 'pivete' não era um menino pequeno, não. Era um menor subversivo, em conflito com a lei. Qualquer pessoa vinda da favela era um pivete. Eu tentava mudar [esse estereótipo], andando com a roupa lavada, não andando sujo... Tentava vencer essas barreiras."

Elza Soares: pioneirismo e gratidão

Carlinhos se emociona ao citar Elza Soares, um dos grandes expoentes do movimento negro nas artes nacionais. "Elza é uma das grandes influentes na minha história e na militância nossa. Uma das minhas maiores honras foi ter sido percursionista dela em 'A Carne'."

O artista ressalta sua gratidão eterna não só a Elza, mas também a outros pioneiros, como o cantor Milton Gonçalves e a atriz Lea Garcia. "São pessoas que se expuseram na televisão. Eu não chegaria [lá] se não fosse Mílton, se não fosse Lea."

Ele faz questão de enxergar suas conquistas pessoais como um êxito muito além do campo individual. "Meus desejos realizados nunca serão meus, eles serão do coletivo - porque o coletivo me fez ser o que eu sou. Já sou o resultado do outro, e preciso dar os meus próprios resultados."

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