Quem foi o cangaceiro assassinado pela polícia que inspirou 'Cangaço Novo'

"Cangaço Novo", a excelente série do Prime Video criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, e dirigida por Fábio Mendonça e Aly Muritiba, é uma obra inteiramente de ficção. Do título aos protagonistas, porém, há referências a acontecimentos e personagens reais do cotidiano contemporâneo de algumas cidades nordestinas.

Você sabia, por exemplo, que o personagem Amaro Vaqueiro é inspirado em alguém que existiu de verdade?

A série é protagonizada por Allan Souza Lima e Alice Carvalho, que interpretam os irmãos Ubaldo e Dinorah. Ele, um infeliz bancário de São Paulo sem lembrança de sua infância, descobre uma herança e irmãs no sertão cearense. Já Dinorah é a única mulher de uma gangue de ladrões de banco, que guarda mágoas do irmão enquanto toda a cidade o cultua como uma figura iluminada pela forte semelhança com o pai já falecido, o reverenciado Amaro Vaqueiro. Em sua jornada, ele embarca em missões que vão testar seus limites e valores morais.

Amaro Vaqueiro é inspirado em cangaceiro real

Apesar de não ser um personagem ativo da série, Amaro Vaqueiro é uma figura que está sempre às sombras do que acontece —sua imagem e suas lembranças são referências para o bando do qual Ubaldo faz parte. Em fotos e flashbacks, o personagem é também interpretado por Allan Souza Lima.

Amaro Vaqueiro é inspirado em Valdetário Carneiro, dito precursor do "novo cangaço". Nascido em Caraúbas, no Rio Grande do Norte, em 1959, ele foi considerado o responsável por ao menos 100 ataques e roubos a banco em vários estados entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000, segundo o colunista do UOL Josmar Jozino.

O título de "novo cangaço" é uma referência ao movimento de banditismo que está eternamente ligado à figura de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. O termo foi cunhado para designar os ataques a agências bancárias em cidades do interior, semelhantes aos feitos pelo bando de Amaro e Dinorah, na série.

Quem foi Valdetário Carneiro?

José Valdetário Carneiro, precursor do novo cangaço
José Valdetário Carneiro, precursor do novo cangaço Imagem: Reprodução
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Conhecido como Val, José Valdetário Benevides Carneiro foi um mecânico de automóveis que se tornou um dos mais perigosos assaltantes a bancos do Nordeste. Além dos roubos, ele teria organizado emboscadas para o assassinato de inimigos políticos de sua família.

Segundo a obra "Valdetário Carneiro: A Essência da Bala", Valdetário foi preso pela primeira vez em 1991, acusado de roubar um carro junto a um primo, Agnaldo Benevides Carneiro. Os dois teriam sido humilhados em praça pública, quando a polícia desfilou com os dois amarrados em carro aberto para que servissem de exemplo.

Pouco tempo após deixar a prisão, em 1997, foi acusado de outro roubo, do qual se disse injustiçado e acabou identificando os reais autores do crime. A partir de então, passou a ser admirado pela população.

Em 2000, participou da segunda maior fuga da história da Penitenciária de Alcaçuz, no RN, quando foi resgatado junto a outros 29 homens por integrantes de sua quadrilha.

Valdetário foi morto em 2003, em confronto com a polícia, após denúncia anônima que levou as autoridades ao seu esconderijo.

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