Conteúdo publicado há 8 meses

'Elenco tóxico' e 'humilhação': o que diz quem trabalhou no Vai Que Cola

Os bastidores do "Vai Que Cola" (Globo e Multishow) se tornaram notícia na última semana, após ex-roteiristas exporem como era o ambiente de trabalho no programa.

A história se tornou pública após a demissão de André Gabeh. Segundo a Folha de S. Paulo, o ex-roteirista foi demitido a pedido do elenco. Com isso, a equipe de roteiristas escreveu uma carta aberta à diretoria.

O Multishow disse estar "acompanhando atentamente o caso". Leia na íntegra, abaixo, a nota enviada a Splash. A reportagem também tentou contato com A Fábrica, produtora do humorístico, mas ainda não teve retorno.

O que diz quem trabalhou no "Vai Que Cola"?

André Gabeh, ex-roteirista demitido, relacionou seu desligamento ao fato de o elenco não gostar de seu texto: "Sou grato ao Canal Multishow e a Fábrica pela oportunidade do contrato [...], mas apesar dos elogios que me faziam, o elenco do programa não estava satisfeito com o que eu escrevia", escreveu Gabeh em uma publicação no Facebook no dia de sua demissão, em 7 de agosto.

A atriz Cacau Protásio negou que o elenco tivesse relação com a demissão de Gabeh. Ela disse que o elenco não o conhecia, que os roteiros vinham sem nome, e questionou: "A produtora tem vários outros projetos, ele é maravilhoso, por que a produtora não botou ele em outro projeto?"

Gabeh voltou a se posicionar após a fala de Cacau: "Os roteiros começaram a ir sem identificação para os atores, depois que um dos meus textos, 'O Filho do Carnaval' foi rejeitado. Depois que estava meu nome lá, o roteiro foi rechaçado pela atriz. Estava presente na gravação do roteiro. E no dia da gravação, um dos atores fez uma piada com meu nome. A gente já se conhecia. Ele não sabia que eu estava lá. Todas as denúncias de assédio moral são mentira, e o que é verdade é o que essa atriz está dizendo? Então, por que ela não mostra os roteiros sem nome? Os antes do meu. Foi uma tentativa da produção me proteger. Porque eu estava sofrendo perseguição", disse em vídeo no Instagram.

Daniel Porto, outro ex-roteirista do programa, disse que todo o elenco do programa era tóxico. O profissional, que trabalhou por 4 anos no programa, afirmou que precisou passar por uma internação psiquiátrica devido ao assédio moral sofrido.

"O preço que paguei foi caro: um burnout digno de uma internação psiquiátrica, depressão e crise de ansiedade como presente pelo assédio moral que era feito diariamente pelos atores e equipe de criação aos roteiristas", escreveu Daniel no LinkedIn.

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Ele reclamou também do salário, que classificou como "tão desrespeitoso quanto o tratamento dado aos roteiristas". "Não importa seu currículo, um roteirista recebe entre 5/6 mil reais por mês para escrever aproximadamente 10 episódios do programa, e nem um centavo a mais pelas inúmeras reexibição do programa na TV".

Daniel diz que os atores diziam na véspera que não iam gravar. "Enquanto seus salários gordos caiam na conta sem a menor preocupação e respeito com o trabalho alheio. O desdém e o assédio moral com nossos textos era diário e na nossa cara. Era direto, ofensivo e cruel".

Todo mundo sabia, a estrutura inteira do programa sabia e nós ficávamos vendidos tentando nos defender da maneira que nos cabia. Os nomes citados na carta são poucos. TODOS DO ELENCO, DIGO, TODOS DO ELENCO tinham comportamento TÓXICO conosco, em maior ou menor grau. Daniel Porto

Clara Deák, outra ex-roteirista do programa, desabafou na publicação de Daniel. Ela diz que trabalhou em três temporadas do programa e também teve experiências traumáticas. "Esse comportando desrespeitoso, antiprofissional e abusivo do elenco do VQC e da equipe criativa, com a complacência vergonhosa do canal e da produtora, é algo que acontece desde a primeira temporada", escreveu.

Eu presenciei muitos amigos com burnout, estafa e abalo emocional por conta do ambiente tóxico e da maneira como eram diariamente humilhados e tinham seus trabalhos desmerecidos no set de maneira grosseira na frente de todo mundo. O HORROR. Clara Deák

"A verdade é que tanto o canal quanto a produtora têm medo de peitar os caprichos do elenco que, ao longo dessas 11 temporadas, virou meio que "dono do programa", na falta de alguém que desse limite", disse ainda Clara.

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Gabriella Mancinni foi mais uma ex-roteirista que comentou na publicação de Daniel: "Participei das duas primeiras temporadas do VQC (que eram feitas em outra produtora) e trabalhei 8 semanas seguidas, sem folga. Aí quando emendei 18 horas seguidas de trabalho, minha coluna travou... Não está 100% até hoje. Gastei uma grana com médicos, remédios e fisioterapia. E lembro bem dos prazos apertados e de ter que escrever episódios do dia para noite porque determinado ator mudou de agenda... Um absurdo".

Outro lado

Leia a íntegra da nota do Multishow:

O Multishow está acompanhando atentamente o caso de roteiristas do Vai Que Cola que vieram a público relatar problemas de relacionamento com colegas de equipe e com o elenco do programa. Desde que tomaram conhecimento da situação, a produtora Fábrica, responsável pela produção, e as equipes da Globo responsáveis pelo conteúdo deram início a um processo de escuta com as lideranças criativas do programa, com o elenco e com os profissionais que relataram supostas situações de abuso. O Código de Ética da Globo estabelece que situações de discriminação e assédio não são toleradas. Quando denúncias desta natureza chegam ao conhecimento do canal, elas são devidamente apuradas e, conforme o caso, são feitos ajustes de processos e outras medidas corretivas.

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