Torquatto teve medo de maquiar Aracy em vida e chorou ao maquiar no caixão

Fernando Torquatto construiu uma profunda amizade com Aracy Balabanian, desde que conheceu a atriz nos bastidores da novela "Da Cor do Pecado" (Globo). O maquiador, que foi o responsável pela produção da veterana por diversas vezes, agora também teve a difícil missão de maquiar o corpo da artista. Aracy morreu aos 83 anos, na segunda-feira (7), e está sendo velada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

"Nas primeiras pinceladas, óbvio, eu chorei para caramba. Mas aí eu fui indo, fui embalado por ela também, por histórias doces e incríveis. E falei: 'Cara, ela está... O meu papel é esse, ela é uma grande estrela. Ninguém pode chegar aqui sem ver uma grande estrela no seu último momento", contou o profissional, em conversa com o colunista de Splash.

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O maquiador falou da dificuldade em preparar o corpo, mas contou que se inspirou no exemplo de artistas veteranos para cumprir a missão. "A maquiagem traz vida para as pessoas. E você trabalhar com um corpo, já que está num outro lugar, é muito difícil. Até para você perceber que aquela pessoa não tem vida ali do teu lado. Aí eu lembrei dela, lembrei do Tony Ramos, falando sobre o ofício. E você atravessa qualquer adversidade para cumprir com o seu ofício. A nobreza do que a gente escolhe para fazer na vida está nisso."

Torquatto conheceu Aracy nos bastidores de "Da Cor do Pecado", novela de João Emanuel Carneiro que foi ao ar em 2004. À época, porém, o profissional ficava inseguro com a presença da veterana e só teve coragem de maquiar a atriz após enviar uma carta confidenciando o medo de trabalhar com ela.

"Será que ela vai gostar do meu trabalho? Eu venho de moda, tudo é diferente. Eu fiquei com muito medo. Tentei enganar umas três semanas sem maquiá-la. A outra supervisora maquiava, e eu maquiava os outros. Falei, putz, acho que ela tá percebendo que eu tô fugindo. Falei: 'Fernando, não dá, você não pode ser imaturo a esse ponto.' Aí eu escrevi uma carta bem linda pra ela. Comprei um anel, que ela adorava joias, era um anel bem bonito. Mandei a camareira botar na bolsa dela", lembrou.

O maquiador foi acolhido pela artista e, a partir daquele momento, eles construíram uma amizade íntima. "Semana seguinte, me deu um abraço. Falou: 'Vamos embora. Você é incrível, você não está aqui à toa. Eu preciso também do que é novo, né? Porque eu fico feliz com quem admira quem eu sou, a minha história. Mas eu amo coisas novas, então tudo que você me trouxer vai ser bom pra mim'", completou.

Por fim, Fernando Torquatto ressaltou os momentos que compartilhou ao lado da amiga: "E aí, a partir dali a gente criou uma relação muito legal. De amizade, de conselho, de falar sobre coisas antigas que eu tinha. Eu sabia tudo, né? Então, ela gostava que eu tivesse uma cultura, assim, de trabalhos antigos dela e de outras pessoas".