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Jornalista da CNN corta deputado bolsonarista: 'Quem faz perguntas sou eu'

Apresentadora da CNN dá invertida em deputado federal Nikolas Ferreira - Reprodução/CNN
Apresentadora da CNN dá invertida em deputado federal Nikolas Ferreira Imagem: Reprodução/CNN

De Splash, em São Paulo

14/03/2023 19h23

A apresentadora da CNN Brasil Basília Rodrigues não permitiu que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fizesse questionamentos sobre o conceito de "ser mulher durante" participação no quadro CNN Dois lados nesta terça-feira (14).

Durante debate sobre a possível cassação de seu mandato por fala transfóbica no plenário da Câmara, no Dia Internacional da Mulher, Nikolas Ferreira quis questionar a convidada, a também deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS), sobre "o que é ser mulher".

"Por gentileza, o seu conceito de mulher. Diga a senhora mulher é... e vou ficar muito satisfeito de aprender um pouquinho com a senhora o que é ser mulher", indagou ele.

Basília Rodrigues imediatamente tomou a palavra para deixar claro ao parlamentar que seu posto na atração da CNN era de entrevistado e não de entrevistador.

Eu preciso interromper, porque no quadro quem faz as perguntas sou eu. Realmente, os senhores estão aqui na condição daqueles que respondem.
Basília Rodrigues

A apresentadora, inclusive, transferiu a questão feita a Nikolas Ferreira para a deputada do PSOL. "Vou repetir a pergunta à senhora, deputada, sobre o que eu acabei de pedir para Nikolas Ferreira: qual futuro a senhora acha que o pensamento de Nikolas Ferreira terá no Congresso Nacional?", indagou.

Após o episódio, a entrevista prosseguiu normalmente na CNN Brasil. A jornalista Basília Rodrigues e o deputado federal Nikolas Ferreira não comentaram o episódio nas redes sociais.

O que aconteceu:

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fez um discurso transfóbico na Câmara no Dia Internacional da Mulher. Transfobia é crime e pode ser punida com até três anos de prisão.

  • No Dia Internacional da Mulher, ele foi à tribuna da casa e colocou uma peruca loira.
  • Ele disse que, hoje, "se sente mulher", é a "deputada Nicole" e "tem lugar de fala".

As mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres. Para vocês terem ideia do perigo que é isso, eles estão querendo colocar a imposição de uma realidade que não é a realidade."
Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal

  • Deputado afirmou que não estava apenas defendendo suas próprias convicções, mas o direito de "um pai não querer que um marmanjo de dois metros de altura entre no banheiro da filha sem ser considerado um transfóbico".
  • Ele tirou a peruca e disse, em zombaria, que é gênero fluido;
  • Declarou também que as mulheres não devem nada ao feminismo, e que o movimento que defende igualdade entre gêneros "exalta mulheres que nunca fizeram nada pelas mulheres".
  • O deputado terminou o discurso com uma fala machista, elogiando as mulheres que têm filhos e formam família. Ele foi aplaudido.

Mulheres, retomem sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade, formem sua família. Dessa forma, vocês colocarão luz no mundo e serão, com certeza, mulheres valorosas."
Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal

O que é transfobia e quais são seus impactos?

A transfobia promove a exclusão desse grupo de pessoas, que não se identificam com os gêneros biológicos, e vai além do ataque físico, forma mais pesada de discriminação, e/ou com palavras direcionadas a elas. É o que explica a psicóloga Petra Grünheidt, mulher trans e especialista em terapia comportamental pela USP. "Assim como racismo, misoginia e homofobia não se tratam só de violências físicas, a transfobia se refere a todo comportamento que de alguma forma promove exclusão baseada em características de alguém", afirma, em entrevista a Universa.

Pessoas trans também são expulsas de casa; somos muitas vezes excluídas de vagas de emprego, recebemos olhares de estranheza em lugares públicos. Por fim, somos extremamente sexualizadas e excluídas do lugar de afeto.
Petra Grünheidt, psicóloga

Proibir uma pessoa trans de usar o banheiro masculino ou feminino, criticar as mudanças corporais e os procedimentos de afirmação de gênero feitos por ela, e atacá-la em sua área de atuação, como na política, também são atitudes transfóbicas.