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ANÁLISE

Pantera Negra: Chadwick Boseman deixou legado imortal para o cinema

Chadwick Boseman como T"Challa em "Pantera Negra" (2018) - Marvel Studios/Divulgação
Chadwick Boseman como T'Challa em "Pantera Negra" (2018) Imagem: Marvel Studios/Divulgação

Mariana Assumpção

Da Ingresso.com

08/11/2022 04h00

No dia 28 de agosto de 2020, Chadwick Boseman morreu, vítima de um câncer de cólon, aos 43 anos. Além de entristecer todos os seus fãs, familiares e amigos, a morte do ator surpreendeu a muitos, pois sua luta de 4 anos contra a doença foi mantida em segredo da imprensa mundial.


Antes de partir, o ator concluiu as filmagens de "A Voz Suprema do Blues" (2020), da Netflix, lançado três meses depois de seu falecimento. Muito elogiado pela crítica e pelo público, seu trabalho lhe rendeu uma indicação póstuma ao Oscar, na categoria de Melhor Ator.

Chadwick começou sua carreira na TV em 2003, fazendo participações em séries como "Law & Order" e "Parceiros da Vida". Porém, seu primeiro personagem de destaque no cinema veio apenas uma década depois.

No filme "42: A História de uma Lenda" (2013), o ator dá vida a Jackie Robinson, o primeiro negro a competir na Major League da era moderna, evento mais importante do baseball norte-americano. Pelo time dos Brooklyn Dodgers, Jackie enfrenta o racismo ainda muito presente nos Estados Unidos, tornando-se um dos maiores ídolos do esporte de todos os tempos.

Depois desse trabalho, a carreira de Chadwick decolou. Além de 42: A História de uma Lenda, outros filmes estrelados pelo ator contavam histórias sobre importantes personagens reais: em "Get on Up: A História de James Brown" (2014), Boseman interpreta o famoso cantor; já no longa "Marshall: Igualdade e Justiça" (2017), o ator dá vida a Thurgood Marshall, primeiro negro a atuar como juiz associado da Suprema Corte dos Estados Unidos.

Em 2016, Chadwick apareceu pela primeira vez como o Rei T`Challa, o super-herói Pantera Negra, em "Capitão América: Guerra Civil". Sendo um dos maiores destaques do longa, não demorou muito para que o personagem ganhasse um filme solo.

Pantera Negra iniciou representatividade no MCU

"Pantera Negra" (2018), dirigido por Ryan Coogler, apresentou com detalhes o reino de Wakanda e seu governante, em todo o seu esplendor. Embora seja um país fictício, Wakanda está localizado no continente africano, e carrega muitas características inerentes à geografia e ao povo da região.

Seguindo muitas das premissas dos quadrinhos, o filme fez questão de ratificar a riqueza, beleza e tecnologia avançada wakandanas. Apenas por representar uma nação próspera e construída por negros, o filme se mostrou disruptivo, uma vez que Hollywood não tinha o hábito de explorar histórias negras de uma forma tão positiva e soberana.

A representatividade de "Pantera Negra" também se deu em sua equipe e elenco: grandes artistas negros trabalharam na produção. Os ganhadores do Oscar Daniel Kaluuya, Forest Whitaker e Lupita Nyong'o estão presentes no longa, além de Angela Bassett e do próprio Chadwick, que já foram indicados ao prêmio.

Chadwick Boseman é homenageado em trailer de Pantera Negra 2 - Reprodução/Marvel Studios - Reprodução/Marvel Studios
Chadwick Boseman é homenageado em trailer de Pantera Negra 2
Imagem: Reprodução/Marvel Studios

Outro ponto alto do filme é Erik Killmonger, vilão vivido por Michael B. Jordan. A história do homem afro-americano que finalmente retorna à sua pátria, após viver rodeado de violência e abusos nos Estados Unidos, gerou uma empatia significativa na audiência. Identificados com sua trajetória e dores, muitos fãs do MCU consideram legítima a revolta de Killmonger, fazendo dele um dos maiores antagonistas do Universo Cinematográfico da Marvel.

Pantera Negra alcançou números inéditos

Lembrado para sempre por seu carisma e talento, Chadwick ajudou a franquia Pantera Negra a garantir números e feitos nunca alcançados por outro filme de super-herói. O ator estrelou o longa indicado a sete categorias do Oscar, marca inédita para um filme da Marvel Studios.

Levando para casa três estatuetas, os recordes não pararam por aí: Ruth E. Carter, que ganhou a estatueta de Melhor Figurino por seu trabalho no longa, foi a primeira mulher negra a ganhar nessa categoria. Já Hannah Beachler fez história sendo a primeira negra a ser indicada e a levar para casa o prêmio de Melhor Design de Produção.

Desde o lançamento de "Superman: O Filme" (1978), nenhuma outra produção de super-heróis havia concorrido ao Oscar de Melhor Canção Original. "Pantera Negra" não só disputou como levou a melhor na categoria, sendo o primeiro longa do gênero a receber esse prêmio.

"Pantera Negra" também foi o primeiro longa do MCU a arrecadar, em sua semana de estreia, o valor que custou para ser feito: com um orçamento de US$ 200 milhões (R$ 1,02 bilhão, pela cotação atual), as cifras do filme nas telonas chegaram a US$ 235 milhões (R$ 1,2 bilhão, pela cotação atual) logo nos primeiros dias em cartaz.

Até hoje, "Pantera Negra" ocupa a primeira posição do ranking do Rotten Tomatoes, que organiza todos os filmes dos Universo Cinematográfico da Marvel de acordo com as notas atribuídas pelos críticos do site. O longa garante impressionantes 96% de aprovação, seguido por "Vingadores: Ultimato" (2019), com 94%.

O legado de Chadwick: 'Mulher Rei' e outros filmes não teriam saído do papel sem ele

Quando viveu o Rei T'Challa no MCU - o ator interpretou o personagem em Capitão América: Guerra Civil (2016), no filme solo "Pantera Negra" (2018) e, logo depois, em "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e "Vingadores: Ultimato" (2019) -, Chadwick entrou para história como o primeiro protagonista negro do MCU.

Agora, quatro anos após a estreia do longa, podemos sentir algumas mudanças, mesmo que sutis, nas narrativas cinematográficas hollywoodianas. Histórias como a que vimos em A Mulher Rei, um épico sobre as Agojie, não teriam saído do papel se Pantera Negra não tivesse aberto algumas portas.

O longa narra uma aventura protagonizada pelas guerreiras do Reino de Daomé, território que hoje compreende o Benim, na África. Viola Davis, estrela da produção, reconheceu a importância do filme da Marvel em entrevista a Splash, considerando o longa pioneiro em trazer para o protagonismo personagens constantemente invisibilizados pelos grandes blockbusters.

Entre outras conquistas, está o desenvolvimento de "A Pequena Sereia", live-action da Disney baseado na animação clássica. Desta vez, Ariel será vivida por Halle Bailey, atriz e cantora negra. Embora seja alvo de constantes e lamentáveis ataques racistas desde o anúncio de sua escalação, as primeiras imagens de seu longa emocionaram o público. Em diversos vídeos divulgados nas redes sociais, crianças negras de todo o mundo reagiram com alegria ao ver a personagem nas prévias, deixando explícita a representatividade e identificação simbolizadas pelo protagonismo da atriz.

A potência de Chadwick, sua carreira marcada por papéis historicamente relevantes e de seu Pantera Negra impactou adultos e jovens, e as novas gerações seguem capazes de assimilar a importância deste super-herói único, que abriu caminho para outras narrativas negras na indústria do entretenimento. Sua etnia e força, aliadas à capacidade de governar um país próspero como Wakanda, mudaram o rumo do MCU - e da sétima arte - para sempre.

Este ano, a sequência do longa de 2018 finalmente chega aos cinemas. Pistas sobre a essência Pantera Negra 2 já foram dadas pelo próprio Kevin Feige, presidente da Marvel Studios. Segundo ele, a ideia é preservar a memória de Chadwick da maneira mais respeitosa possível, incluindo a opção por não reescalar o personagem no MCU.

O luto é um sentimento que tocou todo o elenco e equipe do longa, e Letitia Wright, que vive a personagem Shuri, chegou a comentar sobre a ausência de Chadwick no set, e como vem lidando com a perda.

Em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, a rainha Ramonda (Angela Bassett), Shuri, M'Baku (Winston Duke), Okoye (Danai Gurira) e as Dora Milaje lutam para proteger sua nação após a morte do rei T'Challa. Enquanto os wakandanos se esforçam para abraçar o futuro, os heróis devem se unir com a ajuda de Nakia (Lupita Nyong'o) e Everett Ross (Martin Freeman) para traçar um novo caminho para o reino.

Além do elenco já conhecido, novos rostos como Dominique Thorne (Riri Williams / Coração de Ferro) e Michaela Coel (Aneka) também estrelam a produção.

O longa segue sob a direção de Ryan Coogler, e estreia no Brasil em 10 de novembro.