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Por 5 anos, Justiça buscou "mulher da casa abandonada" por dívida de R$ 745

Colaboração para Splash, em São Paulo

21/07/2022 04h00

A Justiça de São Paulo tentou, desde maio de 2016 e até este ano, localizar Margarida Bonetti, a mulher que vive em uma mansão abandonada em Higienópolis, para pagar uma dívida de cerca de R$ 745, feita após uma parente sua rabiscar o hall de entrada de um prédio no qual ela é proprietária de um imóvel.

Margarida ficou famosa pelo podcast "A Mulher da Casa Abandonada", produzido pelo jornalista Chico Felitti para a Folha de S.Paulo. Porém, o Judiciário viu cada tentativa ser frustrada pela ausência de pessoas que pudessem receber os avisos enviados pelo tribunal. Os oficiais de Justiça que foram aos endereços apontados tiveram experiências frustradas ao longo dos anos.

A Justiça encontrou alguns endereços ligados à mulher em diferentes pesquisas feitas pelos meios judiciais. Na primeira delas, em endereço de um prédio também em Higienópolis, em agosto de 2016, ela não foi encontrada.

A negativa do oficial de Justiça fez o condomínio Três Barões, autor da ação contra Margarida, pedir uma consulta pelos sistemas Bacenjud, Infojud e Renajud para localizar possíveis imóveis da mulher.

Em um deles, foi informado que ela poderia se encontrar em um dos endereços, especialmente à noite. Margarida também foi procurada na dita "casa abandonada" de Higienópolis, mas o número apontado não foi localizado pelo oficial de Justiça.

Em outra pesquisa, foi encontrado um endereço na Piazza Navona, em Roma, que poderia ser de Margarida. Mesmo assim, nada ocorreu. Ao longo dos anos, a Justiça foi esbarrando nas negativas para encontrar a mulher.

Depois de quatro anos, com todos os meios possíveis e disponíveis para localizar Margarida esgotados, o condomínio pediu a citação dela por edital, último recurso para deixar alguém ciente de um processo judicial.

A citação aconteceu em março do ano passado, quando a dívida, com os juros e correções, já havia alcançado a casa dos R$ 5,3 mil - hoje, está acima dos R$ 7 mil.

Após a citação por edital, Margarida teve designados advogados de uma entidade que presta atendimento gratuito à população carente de São Paulo. Sem contato com a mulher, eles afirmaram não possuir informações para apresentarem embargos de defesa.

Assim, em abril, a Justiça conseguiu encontrar R$ 83,8 mil das contas bancárias de Margarida. Na ocasião, a dívida já chegava a R$ 7,8 mil.

Margarida Maria Vicente de Azevedo Bonetti apareceu na lista de procurados do FBI por ter mantido uma funcionária em condições análogas à escravidão nos Estados Unidos. Tudo ocorreu entre os anos de 1970 e a virada dos anos 2000.

Ela é filha do médico paulistano Geraldo Vicente de Azevedo e neta de Francisco de Paula Vicente de Azevedo, um dos paulistas mais importantes do seu tempo, conhecido como o Barão de Bocaina.

A mulher da casa abandonada vive no imóvel que pertenceu a seu pai. Em 1955, ele foi o chefe na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e realizou a primeira videolaparoscopia, procedimento cirúrgico na região do abdômen, de forma minimamente invasiva.

Ele e sua esposa, Maria de Lourdes Danso Vicente de Azevedo, moravam no casarão que atualmente vive Margarida. Além da riqueza, o casal era conhecido na região pelas ações generosas, como distribuição de comida e roupas a moradores de rua, conforme detalhou o jornalista Chico Felitti no podcast.

Enquanto o médico faleceu em 1998, aos 91 anos, Maria de Lourdes morou com Margarida até 2011, ano de seu falecimento. Mas, antes disso, viu a herdeira ser acusada do crime e retornar às pressas para o Brasil.