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Jane Campion se inspirou no 'Me Too' ao dirigir 'Ataque dos Cães'

Ane Cristina

De Splash, em São Paulo

08/02/2022 13h27Atualizada em 10/02/2022 13h35

Jane Campion entra para a história ao ser a primeira mulher indicada a Melhor Direção no Oscar mais de uma vez. Diretora de "Ataque dos Cães" — campeão de indicações neste ano —, ela já havia concorrido à categoria em 1994, com o filme "O Piano", que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original.

A neozelandesa de 67 anos já dirigiu oito longas e foi a primeira mulher a receber a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, também por "O Piano".

A cineasta vem de uma família envolvida com a arte — seus pais eram da cena teatral na Nova Zelândia. Campion, no entanto, estudou antropologia antes de se dedicar ao cinema. Na década de 80, ela entrou para a Escola de Cinema, Televisão e Rádio da Austrália e começou a carreira com curtas.

Entre suas produções estão "Retrato de Uma Senhora" (1996), adaptação do romance de Henry James estrelado por Nicole Kidman e John Malkovich; "Fogo Sagrado, ou Fogo Sagrado!" (1999), comédia dramática que contou com Kate Winslet; e o thriller "Em Carne Viva" (2003).

Em 2009, Campion ganhou elogios por "Brilho de Uma Paixão", filme que narra o romance entre o poeta John Keats e Fanny Brawne. Mais tarde, ela co-escreveu e co-dirigiu a série de TV "Top of the Lake" (2013, 2017), com Elizabeth Moss, Nicole Kidman e outros grandes nomes.

Após 12 anos longe do cinema, ela volta a chamar atenção com "Ataque de Cães" — filme de faroeste que trata de temas como amor, luto, ressentimentos e sexualidades.

Em entrevista ao "The Guardian", Campion assumiu ter ficado "intimidada" ao adentrar em um universo supermasculino como o que se passa a história. Mas o movimento "Me Too", que denunciava o abuso sistemático em Hollywood, influenciou a diretora a seguir com seu trabalho.

Foi uma força tão poderosa que acho que abriu um espaço totalmente diferente para explorar esse tipo de assunto. Era como se aquelas mulheres, principalmente mulheres jovens, tivessem descascado tantas camadas de cebola no que diz respeito à masculinidade, que criou um espaço para velhos guerreiros como eu explorarem uma história muito masculina como esta. Jane Campion ao "The Guardian"

Ela já havia se pronunciado sobre o movimento no Festival de Veneza, em setembro do ano passado. "Desde que o movimento 'Me Too' aconteceu, sinto uma mudança no clima. É como o muro de Berlim caindo ou o fim do apartheid para nós, mulheres", disse.

Obra

O interesse por adaptações literárias, erotismo e relações de poder se repete na obra de Campion.

A cineasta é lembrada pelos personagens que lidam com algum tipo de opressão ou abuso, além da forte presença da natureza.

Campion conquistou o prêmio de Melhor Direção no Globo de Ouro em janeiro. No ano passado, Chloé Zhao também levou o prêmio para casa pouco antes de arrebatar o Oscar de Melhor Direção por "Nomadland".

Se a neozelandesa for premiada, será a apenas a terceira mulher a receber o prêmio. Além de Zhao, Kathryn Bigelow foi a primeira a vencer a categoria, em 2010, com o filme "Guerra ao Terror".

Até hoje, apenas seis mulheres foram indicadas a Melhor Direção. Além de Campion, Zhao e Bigelow, Sofia Coppola recebeu uma indicação por "Encontros e Desencontros", em 2003, Greta Gerwig foi indicada em 2017 com "Lady Bird" e Emerald Fennell por "Bela Vingança" no ano passado.