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Morte em família e lenda urbana: o crime do Castelinho da Rua Apa, em SP

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

11/11/2021 04h00

Mais uma produção brasileira baseada em crimes reais está em desenvolvimento. Depois do sucesso de "O Menino Que Matou Meus Pais" e "A Menina Que Matou Os Pais", filmes que retrataram o caso da Suzane von Richthofen, a Galera Distribuidora anunciou o desenvolvimento de um longa baseado no crime conhecido como o do Castelinho da Rua Apa.

O local, situado na esquina da Rua Apa com a Avenida General Olímpio da Silveira, em São Paulo, ao lado do Elevado Presidente João Goulart, chama a atenção de quem passa por perto. A construção, datada de 1912, é imponente e lembra a de um castelo europeu — por isso o apelido. No entanto, a fama que envolve a antiga residência não está ligada ao seu visual, mas sim a uma tragédia familiar do qual o lugar foi palco em 12 de maio de 1937.

Durante a noite desse fatídico dia, uma chacina aconteceu e, no dia seguinte, a socialite Maria Cândida Guimarães dos Reis, 73, e os dois filhos, Álvaro César Guimarães Reis, 45, e Armando Guimarães Reis, 43, foram encontrados mortos no Castelinho da Rua Apa. Junto com eles, uma pistola automática Parabellum, de calibre 9. O patriarca, Virgílio César dos Reis, havia morrido dois meses antes e era proprietário do famoso cinema Broadway, situado na Avenida São João.

Casarão na esquina da rua Apa com a Gal. Olimpio da Silveira - Rubens Cavallari/ Folhapress - Rubens Cavallari/ Folhapress
Casarão na esquina da rua Apa com a Gal. Olimpio da Silveira
Imagem: Rubens Cavallari/ Folhapress

Até aí, um crime em meio a tantos que já aconteceram em uma das maiores cidades do mundo. Então, por que ele ficou tão famoso?

O caso se tornou notório não apenas pelas mortes que aconteceram no local, mas também pelos mistérios que envolvem o crime. Isso porque até hoje, mais de 80 anos depois, não há uma resolução concreta para o que aconteceu.

Segundo foi reportado pela polícia, à época da tragédia, Álvaro matou a mãe e o irmão por causa de um impasse sobre a decisão tomada pelo irmão mais velho de construir um rinque de patinação com dinheiro pertencente à família. Armando e Maria não concordavam com ele, e a solução encontrada para lidar com a frustração teria sido matar os familiares e tirar a própria vida em seguida.

No entanto, o resultado encontrado pelos médicos-legistas foi diferente do apresentado pelas autoridades. Para os peritos, Armando seria o autor dos disparos e, depois de assassinar a mãe e o irmão mais velho, cometeu suicídio. Marcas de pólvora teriam sido encontradas nas mãos de Armando, o que corrobora com a possibilidade.

Castelinho da Rua Apa - Rubens Cavallari/ Folhapress - Rubens Cavallari/ Folhapress
Castelinho da Rua Apa é tido como assombrado
Imagem: Rubens Cavallari/ Folhapress

Como se não bastasse, uma dúvida surgiu quando foram analisar a posição dos corpos, pois eles foram encontrados lado a lado, algo que não é comum em casos de assassinatos seguidos de suicídio. Outro ponto misterioso é a bala que matou Maria Cândida, pois, segundo a perícia, ela era de um calibre diferente do revólver encontrado.

Em 2015, Leda de Castro Kiehl, sobrinha neta de Maria Cândida, lançou o livro "O Crime do Castelinho: Mitos e Verdades". Na obra, a autora acusa a polícia de ter apresentado um "laudo muito mal feito". Segundo teoria apresentada no título, há a possibilidade de que uma quarta pessoa tenha cometido o crime.

Castelinho hoje

Depois da tragédia, o local foi tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo), mas acabou ficando abandonado. Assim, se tornou abrigo de pessoas em situação de rua e usuários de drogas por muitos anos.

No entanto, passou por uma restauração entre 2015 e 2017 e hoje é administrado pela ONG Clube das Mães do Brasil.

Lenda urbana

Com tantos mistérios rondado a história do local, o Castelinho da Rua Apa foi considerado mal-assombrado, se tornando um local notório para os amantes de histórias de assombração.

Alguns vizinhos dizem que "nada dá certo" no local e há até mesmo quem diga que ouve as lamentações dos espíritos.

Vem Aí

O filme está sendo produzido pela Galeria Distribuidora, a mesma dos filmes sobre Suzane von Richthofen, confirmou que a obra está em andamento e tem previsão de início de produção para o primeiro semestre de 2022.