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Opinião

Dez grandes começos da literatura para esse início de ano

Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo. "Pedro Páramo", de Juan Rulfo (Record, tradução de Eric Nepomuceno)

Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: 'Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentidos pêsames.' Isso não esclarece nada. Talvez tenha sido ontem. "O Estrangeiro", de Albert Camus (Record, tradução de Valerie Rumjanek)

15 de julho de 1955 - Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar. "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus (Ática)

Vejam a criança. O menino é pálido e magro, usa uma camisa de linho puída e esfarrapada. Atiça o fogo na copa. Lá fora estão os escuros campos arados entremeados de fiapos de neve e além deles as florestas ainda mais escuras que abrigam uns poucos lobos remanescentes. Sua família é tida por cortadores de lenha e carregadores de água, mas seu pai, na verdade, sempre foi um mestre-escola. Ele se afoga na bebida, cita poetas cujos nomes hoje estão esquecidos. O menino se agacha junto ao fogo e observa. "Meridiano de Sangue", de Cormac McCarthy (Alfaguara, tradução de Cássio de Arantes Leite)

Os primeiros dragões que apareceram na cidade muito sofreram com o atraso dos nossos costumes. Receberam precários ensinamentos e a sua formação moral ficou irremediavelmente comprometida pelas absurdas discussões surgidas com a chegada deles no lugar. "Os Dragões", de Murilo Rubião (está em "Contos Completos", Companhia das Letras)

Falei praquele Paqui:
- Procure não morrer. À tarde te ajudarei.
Tinha chovido muito aqueles dias e os caminhões não podiam entrar na vila. Os caminhoneiros praguejavam por causa da chuva. Praguejavam por tanta água.
Eu não conhecia o Paqui. Achei que estava morto, ali no barro.
Porém, me disse:
- Um dia é você que pode estar como eu
"Eisejuaz", de Sara Gallardo (Relicário, tradução de Mariana Sanchez)

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de pau a pique e telhados de sapé construídas na beira de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome, e para mencioná-las era preciso apontar com o dedo. "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez (Record, tradução de Eric Nepomuceno)

Meu pai tentou matar minha mãe num domingo de junho, no começo da tarde. Eu tinha ido à missa das 11h45, como sempre fazia. Na volta deveria buscar alguns doces na confeitaria que ficava numa espécie de centro comercial, um conjunto de prédios provisórios construídos no pós-guerra, enquanto aguardavam o término da reconstrução. "A Vergonha", de Annie Ernaux (Fósforo, tradução de Marília Garcia)

Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira. "Anna Kariênina", de Liev Tolstói (Cosac Naify, tradução de Rubens Figueiredo)

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Mrs. Dalloway disse que iria ela mesma comprar as flores. "Mrs. Dalloway", de Virginia Woolf (Antofágica, tradução de Stephanie Fernandes e Thaís Paiva)

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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